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As consequências de Francisco

domtotal.com

Por Gian Mario Gillio

GianMarioGillio
E Francisco, de fato, entrou no debate protestante e evangélico "desde o início", a partir daquela saudação aos fiéis na Praça de São Pedro (depois da fumaça branca do dia 13 de março de 2013 que elegeu o 266º papa – "bispo de Roma") com aquele simples "boa noite" que inaugurou (e a dúvida é se o próprio Bergoglio estava ciente disso) o novo curso – sem sombra de dúvida divisor para o establishment vaticano – da Igreja Católica Romana, profundamente marcada naqueles meses por escândalos e polêmicas: pedofilia, corrupção e lavagem de dinheiro, este último justamente dentro dos muros do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco vaticano. Fatos que certamente condicionavam fortemente a imagem da "Igreja do outro lado do Tibre".
No entanto, outro nevoeiro – justamente como lembrava Aquilante, vendo em Francisco a futura esperança – ofuscava os muros vaticanos: o precário equilíbrio do caminho ecumênico iniciado por Ratzinger. Um retrocesso feitos de discursos "escorregadios" e documentos vaticanos divulgados que, de fato, tinham acendido novas polêmicas e aberto velhas feridas: a reabilitação da liturgia pré-conciliar (2007); a afirmação de que as Igrejas nascidas da Reforma "não são Igrejas em sentido próprio" (2007); uma exegese teologicamente facciosa da afirmação da Lumen gentium: "A Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica Romana" para dizer que... a Igreja de Cristo é a Igreja Católica Romana (2007); o discurso de Regensburg (2006), que irritou os muçulmanos e, mais ainda, os teólogos católicos que dialogam com os não cristãos; a afirmação (ainda em 2007) de que, na América Latina, "o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não envolveu, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estrangeira"; e, ainda, a nova oração (2008) da Sexta-feira Santa pelos judeus, que indiretamente tendia a pedir a sua conversão. Apenas para citar os movimentos mais ousados.
Várias vezes as revistas Confronti e Riforma deram notícia disso através de artigos, serviços e aprofundamentos. Depois, para o espanto de todos, quase todos, incluindo o povo católico, no dia 11 de fevereiro de 2013, veio a notícia da Ansa da renúncia de Bento XVI, um anúncio chocante, mas revolucionário, e que, de fato, permitiu o "esquiarzée" para a Igreja Católica (palavra que, em língua occitana, indica a abertura do tempo depois do temporal).
Uma abertura com o nome de Francisco: "Um papado que deve ser analisado com atenção e participação até mesmo de nós, protestantes, que somos estimulados pela abordagem evangélica, pela sua comunicação centrada na Palavra e pela eficácia da sua pregação", destacou o teólogo valdense Daniele Garrone, por ocasião do encontro de Roma, na mesma linha de Paolo Naso, coordenador da Comissão de Estudos da FCEI: "Na obra de Bergoglio, podem ser encontradas palavras e gestos que atestam a vontade de compreender um fenômeno espiritual explosivo, superando a lógica da competição e do choque para buscar formas de diálogo e de testemunho comum".
Francesco Coccopalmerio, cardeal presidente do Pontifício Conselho para os Textos Jurídicos e homem forte do grupo "martiniano" mais próximo de Bergoglio, por sua vez, quis acentuar a humanidade de Bergoglio: "Um papa que sabe ouvir e que se interessa sinceramente em conhecer e entender quem está à sua frente. Essa propensão que se expressa tão visivelmente quando ele está com as pessoas e em muitos gestos, alguns julgam pouco sagrada e apropriada para o chefe de uma Igreja. Na realidade, é a sua interpretação do papel do pastor de uma Igreja que é, em primeiro lugar, uma comunidade de homens e de mulheres que acreditam em Deus e em Jesus. E essa atitude – concluiu Coccopalmerio – é um grande incentivo ecumênico".
Um papa cristão e não somente católico, portanto, que, graças à sua inspiração pastoral, hoje impõe uma reflexão protestante diferente da utilizada no passado: colocar-se diante do catolicismo não mais em uma lógica comparativa, por diferenças, de competição, mas sim de debate e diálogo, através da dimensão vocacional.
Riforma

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