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Livro de Frei Betto sobre Fidel Castro é reeditado

Fidel e a religião, de 1985, revela sincretismo de religiões de raízes africanas com o catolicismo na ilha cubana.
Por Renato Grandelle
Em 1985, Frei Betto conversou com o então presidente cubano, Fidel Castro, sobre religião. Foram 23 horas de entrevistas sobre a infância do comandante, os conflitos com a Igreja, a religiosidade do povo, entre outros temas. Desde sua publicação, naquele mesmo ano, o livro “Fidel e a religião” foi editado em 32 países. Somente em Cuba, vendeu 1,3 milhão de exemplares. Hoje, volta às livrarias brasileiras pela editora Fontanar. Em entrevista ao jornal O Globo, Frei Betto revela alguns destaques dos encontros com o político.
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Fidel descreve Cuba como um país extremamente católico. A mãe dele, por exemplo, era muito religiosa, mas não havia igreja no campo. Como explicar essa contradição?

Cuba se parece à Bahia: sincretismo de religiões de raízes africanas com o catolicismo. Ocorre que o clero, antes da revolução (em 1959), era predominantemente espanhol e erguia templos nos bairros urbanos de classes média e alta. Poucos sacerdotes se mostravam dispostos a enfrentar as dificuldades da zona rural.
Como foi o início do relacionamento de Fidel com a Igreja após a revolução?
A Revolução Cubana não foi feita contra a religião. Há fotos em que Fidel, em plena selva, aparece com um crucifixo no pescoço. No entanto, o clero de Cuba, visceralmente anticomunista, logo se deixou influenciar pela propaganda americana de que a revolução era comunista. Isso fez com que as relações entre Estado e Igreja Católica ficassem tensas até 1985, quando a entrevista que Fidel me concedeu foi publicada.
O que afastou Fidel de sua formação religiosa?
A influência soviética sobre Cuba fez com que Estado e partido cubanos se tornassem oficialmente ateus, o que impedia cristãos de se filiar ao Partido Comunista e de exercer profissões como filósofo, psicólogo, professor. Já em 1959, Fidel não se considerava mais cristão. Na década de 1990, houve mudanças na Constituição de Cuba e no estatuto do partido, de modo que agora os dois são laicos. Hoje acredito que Fidel seja agnóstico. Em momentos críticos do país, chegou a me dizer: “Reze por nós”.
Como explicar a admiração de Fidel pelos papas João XXIII e João Paulo II?
E pelo Papa Francisco, que já esteve duas vezes em Cuba. Embora tenha havido tensões entre a revolução e os bispos católicos, sempre foram excelentes as relações do Estado cubano com a Santa Sé, graças aos núncios progressistas que serviram em Havana. João XXIII sempre mereceu admiração da esquerda, como ocorre hoje com Francisco, por sua crítica ao capitalismo. E Fidel e João Paulo II criaram laços de amizade.
Como é o seu relacionamento com Fidel hoje?
Somos amigos, e a cada vez que visito Havana ele me convida à sua casa. É dotado de uma inteligência excepcional e de um raciocínio lógico que impressiona. Em 13 de agosto completará 90 anos. É o primeiro comunista, que liderou uma revolução, a atingir essa idade.
Fonte: O Globo

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