Pular para o conteúdo principal

(Des) Conectados


Um dia vi uma imagem que prendeu por momentos o meu olhar. Na foto, uma avozinha entrada em anos, sentada num sofá familiar de uma pequena sala. A seu lado, também sentados, estavam quatro jovens. Ela, no meio, a olhar para o nada. Eles, cabeça inclinada, com os olhos fixos nos seus telemóveis. No centro superior da foto, um balão-legenda rezava assim: «Muito obrigado, queridos netos, por me terem vindo visitar». 

Não riam! É sério! Cada vez me convenço mais que as novas tecnologias aproximam quem está longe e afastam… quem está perto. Com o passar do tempo algumas formas de comunicação ficaram obsoletas. Usar o telefone fixo ou escrever cartas está em desuso. Um PC, um tablet, um telemóvel ou um smartphone, estão ao alcance de qualquer um e é através deles, e das suas aplicações, que mais interagimos. Mas não sei se nos comunicamos!

O Skype, o WhatsApp e as redes socias Facebook, Twitter, Instagram fazem próximo quem está longe, aproximando emigrantes das suas famílias, ajudam a fazer novos amigos, reencontrar colegas de escola, recordam aniversários e, porque não, até partilhamos fotos e vídeos de gatinhos fofinhos.

«Cuidado! Esse tal de Feicibuki é o diabo», advertia-me uma amiga de longa data. Há quem use as tecnologias para o crime, o cyberbullying, para a traição, para se alienar? Há! Mas uma grande maioria usa-as como ferramenta útil para o dia a dia. Como em tudo, o problema, a existir, está não tanto nas coisas em si mesmas, mas no uso que delas fazemos. 

O sociólogo e filósofo polaco Zygmunt Bauman, considerado um dos principais pensadores do século XX, e recentemente falecido, aos 91 anos, disse numa entrevista que «tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade». 

Para definir as ligações entre as pessoas nos tempos atuais, Bauman criou o conceito de «sociedade líquida», para dizer que há uma fluidez do tempo e da identidade, e as relações são cada vez menos duradouras e frequentes, e mais frágeis. Os valores sólidos de antes, como a religião, a família, o casal e o trabalho para toda a vida, foram-se esfumando. 

Hoje em dia, é tudo mais imediato, mas também mais disperso, mais alienado, e, ironia das ironias, mais incomunicado. É o que nos diz a situação da avozinha da foto. A sociedade tem tudo para estar online, antenada. Procura a tua conexão! Urge criar relação: conectar a palavra e o abraço! Físico, de preferência.


Fátima Missionária

Comentários