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Casa de livro, casa da gente

Espaço da Biblioteca de Acervos Especiais, da Universidade de Fortaleza (Unifor): cerca de 8 mil títulos podem ser acessados por pesquisadores, gratuitamente, mediante agendamento com a instituição
O cheiro é o mesmo. A disposição dos livros em grandes prateleiras também o costuma ser. O “altar” de destaque para obras de ilustres cearenses, então, é praticamente regra. Tem sempre alguém disponível para auxiliar: “O que você está procurando? Posso ajudar? Esse é o melhor caminho”. Assim se apresentam boa parte das bibliotecas de Fortaleza, abrigando universos, ainda que algumas precisem lidar com graves deficiências estruturais. Os acervos e o uso que é feito deles destacam uma vocação desses lugares para a preservação da memória, a reverberação de diferentes pesquisas e a ressignificação dos processos de leitura.
Se a intenção for levantar um tripé de espaços públicos centenários que reúnam raridades da história e da literatura local, certamente constarão na lista a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel - cujo prédio principal está em reforma desde 2014-, a Biblioteca do Instituto do Ceará, e Biblioteca Justiniano de Serpa, localizada na Academia Cearense de Letras (ACL); todas no Centro da cidade. Quem identifica esse laço é a bibliotecária Madalena Figueiredo, atuante nesta profissão desde 1979. Durante a manhã, ela presta serviços na ACL, e à tarde, no setor de Acervos Especiais da Menezes Pimentel. “As coisas vão se confundindo, as pesquisas se envolvem”, conta.
A Biblioteca Pública, por exemplo, que atualmente conta com boa parte de seu acervo no Espaço Estação, mas cujas obras raras podem ser consultadas sob agendamento no prédio em reforma, tem aproximadamente 115 mil títulos. Só entre as obras raras, são mais de 20 mil. Madalena destaca do acervo alguns livros de importantes escritores cearenses, como Juvenal Galeno, por exemplo; e, de fora, valoriza obras de Santo Agostinho.
As condições do Espaço Estação, no entanto, onde estão os títulos de autores cearenses, obras em braile e também alguns disponíveis para empréstimo, não são das mais favoráveis. Com infiltramentos nas paredes, alguns problemas com a iluminação do local e salas apertadas, funcionários desabafam a queda de frequência dos visitantes. A previsão da Secretaria de Cultura do Estado para a reabertura do prédio principal é pouco específica. Uma data até o fim do ano, aproveitando a ocasião dos 150 anos da biblioteca.
Já na Justiniano Serpa, a situação é mais favorável. De lá, a bibliotecária Madalena destaca os livros dos primeiros acadêmicos em um acervo em torno de 25 mil títulos. “Temos álbuns manuscritos do Antônio Sales, por exemplo. E tem também os periódicos, como o Almanaque do Ceará, a Revista da Academia, editada desde de 1896, além de A quinzena e O pão”, lista a bibliotecária.
Para quem busca especificamente informações nas áreas de história, geografia e antropologia do Estado, o lugar mais indicado é o Instituto do Ceará. Com um acervo de 39 mil títulos catalogados, incluindo aí periódicos, o espaço atende com frequência estudantes de graduação e pós-graduação, com um público rotativo de mais de 120 pessoas/mês. A sala Capistrano de Abreu, voltada para os consulentes, é espaço cativo dos pesquisadores.
Arte
O conceito de livro como objeto artístico se expande quando é feita uma visita à Biblioteca de Acervos Especiais da Universidade de Fortaleza, aberta ao público. Localizada no primeiro piso da Reitoria da Unifor, ela abriga um acervo de cerca de 8 mil volumes, divididos por assuntos como Literatura, Artes, História do Ceará, Biografias, Direito, entre outros. O local é dividido em dois espaços: o primeiro recebe exclusivamente os mais de 3 mil livros correspondentes à parte da biblioteca particular de Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo Matarazzo, um dos principais mecenas nacionais, fundador do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) e criador da Bienal Internacional de São Paulo.
A segunda sala abriga livros adquiridos pela Fundação Edson Queiroz, incluindo doações. Eles são considerados especiais, segundo a curadora responsável pela biblioteca, Cecília Bedê, pois se diferenciam de alguma forma. São raros, pela encadernação, pela data, pelo autor ou mesmo pelo histórico da coleção, quem era o colecionador ou o organizador, por exemplo. Dentre as raridades que pertenceram a Matarazzo, destacam-se uma edição da “Opere Varie di Architettura”, de Giovani-Batista Piranesi, considerado o maior gravador do século 18; edições assinadas por modernistas, como Marc Chagall e Marx Ernst; “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, com ilustrações originais de Cândido Portinari, entre outros.
A coleção da Sociedade dos Cem Bibliófilos, formada pelos 23 volumes realizados na época, também é uma presença importante.
A localização estratégica da Biblioteca de Acervos Especiais dentro de uma universidade propicia uma interação imediata com estudantes e pesquisadores da própria instituição. No Bairro Benfica, tradicionalmente universitário, a Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira cumpre papel semelhante. Com um acervo em torno de 16 mil títulos, que vão desde livros didáticos até obras da literárias nacionais e locais, o espaço costuma atrair muitos estudantes universitários e outros dedicados a vestibulares e concursos.
A sala de inclusão digital, com dez computadores, também é bastante frequentada, de acordo com as bibliotecárias. “É um espaço democrático. Para cá vêm moradores de rua, estudantes, professores”, afirma Francisca Maria de Almeida, funcionária de lá desde 1994.  Ela reconhece conquistas estruturais do espaço, que também já passou por tempos difíceis.
Para além de espaços de consulta, as bibliotecas têm se empenhado em assumirem-se como um lugar de convivência. Lançamentos de livros, palestras, cursos, contação de histórias são apenas alguns exemplos dessa tendência, que vem acompanhada também de uma aproximação efetiva com o universo digital. As medidas reforçam uma ideia capaz de sair do plano imaginário e abraçar o real: elas são casas de livros, são casas de gente. Por isso mesmo, não se pode descuidar.
Biblioteca de Acervos Especiais da Unifor
Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz. Prédio da Reitoria – 1º andar De segunda a sexta, das 8h às 12h e das 14h às 18h; sábados com agendamento, de 9h às 11h30. Tel.: (85) 3477-3823
Biblioteca do Instituto do Ceará
R. Barão do Rio Branco, 1594, Centro De segunda a sexta, de 8h às 12h, de 13h às 17h Tel.: (85) 3021-7559
Biblioteca Justiniano de Serpa (ACL)
R. do Rosário, 1, Centro De segunda a sexta, das 8h às 16h Tel.: (85) 3226-0326
Biblioteca Pública Espaço Estação
R. 24 de Maio, 60, Centro De segunda a sexta, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 17h Tel.: (85) 3101-6799
Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel
Av. Presidente Castelo Branco, 255, Centro Consulta de Acervos Especiais sob agendamento Tel.: (85) 3101-2552
Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira 
Av. da Universidade, 2572, Benf ica De segunda a sexta, das 8h às 20h Tel.: (85) 3105-1299

Diário do Nordeste

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