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Lançamentos, recitais, shows e congresso reúnem cordelistas na XII Bienal Internacional do Livro do Ceará

A primeira vez que Klévisson Viana se aventurou profissionalmente na Bienal do Livro do Ceará foi com um caixote de dez folhetos publicados por ele sobre a cabeça, lá pelos idos de 2000. O secretário de cultura do Estado na época, jornalista e historiador Nilton Almeida, arranjou-lhe um pranchão, e ali mesmo, em meio aos estandes de grandes editoras, o cordelista expôs seus trabalhos. Klévisson dava, com aquela ação, o pontapé para o que viria a se tornar um dos espaços "mais animados" do evento. Pelo menos é isso que ele propõe, hoje atuando como coordenador da consolidada Praça do Cordel.
Não é difícil de reconhecer o que o cordelista afirma. Desde ontem (13), na ocasião de abertura da XII Bienal, com um cortejo de músicos e poetas até o palco principal, e homenagem aos mestres Bule-Bule (Bahia) e Geraldo Amâncio (Ceará), que a linguagem tem mostrado sua força e potência na festa literária; e isso fica ainda mais evidente com a programação deste fim de semana. O destaque é para as homenagens ao rei do baião, que em 2017, comemoraria ao lado de Humberto Teixeira, os 70 anos da composição "Asa Branca".
Em sintonia com a efeméride, o quixadaense Rouxinol do Rinaré lança logo mais, às 15h, o cordel "Asa Branca: 70 anos de sucesso!", com ilustrações do pernambucano Jô Oliveira. "Quase todos os cordelistas, e eu não fujo à regra, temos essa vivência no sertão do Nordeste. Crescemos ouvindo Luiz Gonzaga no rádio e temos essa paixão pelas temáticas; é como se (as canções dele) fossem a enciclopédia do nordeste, e 'Asa Branca' é a mais marcante, porque teve mais regravações", conta Rouxinol do Rinaré.
O cordelista reuniu o desejo de homenagear a canção com um convite do piauiense Wilson Serraine, um dos maiores colecionadores da obra de Gonzagão. Wilson lança hoje também, às 18h, na sala 2 - mezanino 1 o livro "Cordéis Gonzaguianos - Coletânea de Cordéis sobre Luiz Gonzaga", e o trabalho de Rouxinol é um dos que consta na publicação de 356 páginas. "Eu já tinha a intenção de fazer, mas com pedido dele ficou mais fácil, porque geralmente a gente tem dificuldade para imprimir os folhetos. Ele não só bancou os 2 milheiros como incluiu o cordel no livro", explica o cearense.
Asa Branca
Em seu folheto, Rouxinol conta com apresentação do pesquisador Assis Ângelo. Este paraibano, que tinha um programa de rádio em São Paulo chamado Rádio Capital, no qual recebeu Patativa do Assaré, Luiz Gonzaga, entre outros, levanta a possibilidade de "Asa Branca" ter sido mais regravada que o chorinho "Carinhoso", de Pixinguinha. "Por isso não poderíamos deixar passar em branco esses 70 anos; sabemos que ela foi gravada pela primeira vez em 3 de março de 1947. A gente está informado porque lê bastante", pontua Rouxinol.
Após a apresentação de Assis, o autor do cordel mergulha em 16 décimas (estrofes com 10 versos cada), intercaladas com as ilustrações de Jô Oliveira. "Vamos fazendo referência à importância de Luiz e Humberto nesse cenário nordestino, brasileiro. E também cito todos os músicos que regravaram a canção, tais como Xangai, Tom Zé, Elba Ramalho, Maria Bethânia, Lulu Santos, Raul Seixas, entre outros", esmiúça. O folheto traz ainda outras peças como uma biografia de Teixeira e um breve histórico sobre "Asa Branca".
O tema da canção é a seca no Nordeste brasileiro, intensa a ponto de fazer migrar a ave asa branca (uma espécie de pombo) e também o amor de Rosinha, evocado na poesia de Gonzagão e Humberto Teixeira. Uma curiosidade sobre a letra é que ela não nasceu no coração da caatinga, mas sim no coração do Rio de Janeiro, onde os compositores se encontravam naquele 1947. O folheto de Rouxinol e Jô, no qual constam mais informações sobre essa referência da música popular nordestina, estará à venda por três reais na Bienal.
Praça Cordel
O coordenador da Praça Cordel, Klévisson Viana, chama atenção para outros destaques do espaço nos próximos dias. "Os expositores vão trazer desde clássicos da literatura em cordel, como 'O pequeno príncipe', 'Três Mosqueteiros', 'Os miseráveis', 'Dom Quixote' até trabalhos inéditos, com textos originais. E também contaremos com a presença dos melhores xilogravadores do Nordeste", observa. Ele e Rouxinol afirmam que, nas bienais que frequentam Brasil afora, é difícil encontrar um espaço tão articulado como este que a daqui proporciona.
Segundo Klévisson, os cordelistas esperam os dois anos para esse momento com ansiedade. "É um espaço muito disputado e a gente procura agregar todos. Eu já ganhei tudo quanto é prêmio que um artista poderia ganhar, mas isso não é o mais importante. O mais importante é congregar tantos artistas com tantas vertentes e mostrar esse grande panorama do que é a literatura de cordel no nosso País. Aqui é a grande vitrine", finaliza o coordenador.
Praça cordel
Sábado
10h30 - Recital com Chico Pedrosa
14h - Recital de Paulo de Tarso e Lucarocas
15h - Lançamento do cordel Asa Branca: 70 anos de sucesso!, de Rouxinol do Rinaré e Jô Oliveira
16h - Apresentação musical com Edilson Barros
17h - Lançamento coletivo da Cordelaria Flor da Serra: Arievaldo Viana, Paiva Neves, Serra Azul, Rafael Brito, Leila Freitas, Marcos Abreu, Rouxinol do Rinaré e Carolina Bonfim
17h40 - Lançamento Coletivo da Tupynanquim Editora. Poetas Eduardo Macedo, Gonzaga Vieira, Valdeck de Garanhuns, Raul Poeta, Romário Braga e Rouxinol do Rinaré.
18h30 - Recital de Antônio Francisco
19h30 - Show com o cordelista e bonequeiro Valdeck de Garanhuns
Domingo
10h30 - Recital com Rafael Brito
14h - Recital com Raul Poeta
15h - Lançamento das caixas de folhetos "Dez Cordéis Nota Dez" de Josenir Lacerda, Antônio Francisco, Marco Haurélio, Rouxinol do Rinaré e Leandro Gomes de Barros (Editora IMEPH).
16h - Apresentação musical com Cayman Moreira
17h - Lançamento de cordéis de Marcelo Soares e Rafael Brito
18h - Recital de poemas humorísticos com os poetas Chico Pedrosa e Raul Poeta
20h - Apresentação do Mestre Bule-Bule
Mais informações:
Praça Cordel na XII Bienal Internacional do Livro do Ceará. Atividades até o dia 23/04, no foyer do térreo do Centro de Eventos (Av. Washington Soares, 999). Programação completa no site: bienaldolivro.cultura.ce.gov.br

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