Pular para o conteúdo principal

Patrimônio histórico do Cedro está abandonado

Dois dias após quatro pilaretes serem quebrados na parede do Açude Cedro, o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) ainda não definiu oficialmente qual medida pretende adotar para reparar os danos causados ao patrimônio histórico situado em Quixadá. A única providência foi a remoção para o piso da passarela, dos pedaços pendurados na corrente, para evitar danos às outras 70 peças maciças de pedra-sabão fixadas ao longo dos 254 metros de coroamento da barragem.

A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Geovana Cartaxo, informou que hoje técnicos do órgão federal estarão inspecionando os danos ao conjunto arquitetônico tombado como patrimônio histórico nacional. Em seguida, discutirão as soluções com representantes do Dnocs e da Prefeitura de Quixadá, como ocorreu em 2011.

Funcionários dos estabelecimentos comerciais instalados no entorno da parede do açude relataram que os problemas voltaram a surgir em razão do aumento do número de visitantes. A barragem estava seca desde julho do ano passado. Com as chuvas de março deste ano, a lâmina d'água ultrapassou os dois metros, conforme informações dos responsáveis pelo monitoramento. Foi o suficiente para atrair novamente os turistas, principalmente aos sábados e domingos.

De acordo com um desses funcionários e morador da área, Augusto Lúcio de Freitas, no sábado, por pouco um casal não caiu na montante do açude. Foram alertados a tempo. Quase 24 horas depois, outro turista desavisado escorou a mão em um dos pilaretes para fazer uma foto selfie. Em seguida o pequeno bloco trincou, foi arrastado e o peso ainda quebrou outros três. Assustado, o turista saiu às pressas, sem ser identificado.

"Esse mesmo problema ocorreu em 2011. Após um período prolongado de seca os pilaretes acabam descolando do piso. Como não é realizado nenhum serviço de reparo, basta um empurrãozinho para caírem. Só não afundam na água porque ficam pendurados na corrente que acompanha toda a extensão da parede", acrescentou o morador ribeirinho do açude.

Na ocasião, a Prefeitura contratou um especialista francês em trabalho com rochas. Além de esculpir quatro novos pilaretes, ainda ensinou a arte a escultores da cidade. O serviço custou à época R$ 8 mil. As despesas foram pagas pelo Dnocs.

O prefeito Ilário Marques, por coincidência gestor do Município em 2011, disse que "designou uma equipe para localizar os profissionais que aprenderam a trabalhar com pedras. Pretendo indicá-los ao Dnocs para realizarem o serviço", justificou , ao inspecionar pessoalmente os danos no último domingo, cobrando a apuração do caso.

Dilacerado

Entretanto, para quem está acostumado a frequentar o espaço turístico, o problema vai além de substituir as peças quebradas. "Há muito deixaram de dar ao Cedro o cuidado que ele merece. O número de funcionários e vigilantes do Dnocs foi reduzido e, desde a década de 80, não se investiu um único centavo aqui. A única coisa que fizeram foi substituir o asfalto da estrada até aqui. Agora, as pessoas fazem o que querem, e a cada dia mais um pedaço da nossa história é dilacerado" desabafou o professor Miguel Moreira.

A reportagem foi ao Açude Cedro. Além dos danos, constatou a situação de risco para os visitantes quando caminham pela passarela sobre a barragem. Apesar de não haver registros de acidentes, não existe nenhuma proteção e, para agravar ainda mais o problema, ciclistas disputam espaço com os pedestres. "Antes, quando havia servidores em número suficiente, isso não ocorria. Tinha vigilância constante", comentou um dos funcionários do Dnocs pedindo para não ter seu nome revelado.

Pilares

70

peças maciças de pedra foram fixadas por ocasião da construção do açude ao longo de 254 metros de coroamento da barragem do equipamento

Diário do Nordeste

Comentários