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Violência contra a mulher: o assunto que precisamos discutir

Eduarda Talicy
Como numa rede de incômodos coletivos, os recentes casos de violação, agressão, assédio de mulheres que repercutiram no Brasil levantaram discussão acerca da violência de gênero. Nem mesmo a divulgação da lista de abertura de inquéritos do ministro Edson Fachin (STF) arrefeceu o tema. A violência sofrida por Emily dentro do Big Brother Brasil e a expulsão do agressor, Marcos, ficaram entre os assuntos mais comentados do Twitter durante quase toda a semana.
Ao mesmo tempo em que apareceram manifestações de machismo, insurge a indignação diante de casos de agressão e coerção de mulheres. “As redes socias potencializam isso. Problemas históricos encontram espaço favorável para serem disseminados. Mas agora todo mundo questiona, fazendo delas ambiente de disseminação de uma cultura contra o estupro e o empoderamento da mulher”, analisa a professora da Uece e pesquisadora do Observatório da Violência contra a Mulher (Observem), Hayeska Barroso.
Para ela, casos nacionais, como o do Big Brother Brasil e o reconhecimento coletivo, motivam a mobilização. “As mulheres se reconhecem juntas como sujeitos de direitos e desnaturalizaram coisas que antes eram aceitas. Não é natural um relacionamento abusivo, grupos de universitários fazerem fotos de calças baixas ou colocarem o nome do time de ‘habeas pernas’, como aconteceu aqui em Fortaleza”, diz.
O caso local veio à tona após grupo de universitárias levantar protesto no Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7) para que providências fossem tomadas acerca de campeonato de futebol e do time com nome misógino. A estudante do curso de Direito foi uma das primeiras a se manifestarem contra o ocorrido. “E foi muito curioso como a gente começou a conversar e rapidamente apareceram muitas pessoas incomodadas com aquele absurdo. Quando vi, éramos mais de cem pessoas numa organização inédita no pátio da faculdade”, conta.
A estudante acredita que as mobilizações, presenciais ou virtuais, são fruto de lutas antigas pautadas pelos movimentos feministas. “A gente não vai mais se calar”, decide.
De acordo com Henrique Soares, um dos diretores da instituição, foi aberto um procedimento administrativo a respeito da conduta e criada uma comissão para resolução do caso. Além disso, serão realizadas ações sistemáticas de combate à violência.
Iara Moura, jornalista do coletivo Intervozes e integrante da Rede Mulher e Mídia, acredita que as mobilizações têm trazido resultados positivos. Sobre a violência de Marcos contra Emily, no BBB, ela ressalta ser a primeira vez que uma ação que se desenrolou num canal de comunicação vira caso de Polícia. “Não é que seja novo. A gente nunca tolerou que uma mulher fosse agredida a cada cinco minutos neste País, mas o questionamento vem crescendo e essa relação acaba tendo resultados positivos”.
Para Iara, os protestos de rua e as campanhas em redes sociais são movimentos paralelos e complementares. “Eu duvido muito que a hashtag #MeuPrimeiroAssédio tivesse repercussão se isso não reverberasse na vida real e no dia a dia das pessoas. As coisas não são contraditórias. A gente passa muito tempo conectada, é importante não deixar esse espaço vazio, assim como a rua”, diz.
Agressão no BBB 17
O médico Marcos Harter, 37, foi expulso na noite do último dia 10 do Big Brother Brasil 17 (BBB 17), acusado de agredir a companheira no reality, a estudante Emilly Araújo, 20 anos. Após passar por agressões psicológicas e comprovar indícios de violência física, a Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar se houve lesão corporal quando o médico discutiu com a estudante.

Zé Mayer
A figurinista da Rede Globo Susllen Meneguzzi, 28, acusou o ator José Mayer, 67, de ter praticado assédio sexual. Em texto compartilhado online, ela afirmou que, além de insistentes assédios verbais, o ator chegou a tocar suas partes íntimas. A emissora afastou temporariamente o ator, que admitiu o ocorrido e se retratou por meio de nota. O caso foi repercutido pelo The New York Times.
Estudantes de Medicina
Sete alunos do último semestre do curso de Medicina da Universidade Vila Velha, do Espírito Santo, postaram nas redes sociais fotos de jaleco, com calças abaixadas e fazendo gestos nas mãos que remetem ao sexo feminino. Na legenda de uma das fotos havia a hashtag #PintosNervosos. Como não são profissionais formados, o Conselho Regional de Medicina não teve como aplicar punições, o que, em tese, ficaria a cargo da universidade. Dias depois, estudantes de curso de medicina de Blumenau, em Santa Catarina, reproduziram a foto, dessa vez sem as calças abaixadas. Até agora, nenhuma punição aos estudantes foi anunciada. 
Silvio e Sherazade
Conhecida por polêmico posicionamento político e social, Rachel Sherazade participou do programa Troféu Imprensa SBT no último domingo, 9. Na ocasião, ela foi constrangida por Silvio Santos. O dono da emissora afirmou que não havia contratado a jornalista para dar opinião. “Eu contratei você para você continuar com sua beleza e com sua voz para ler as notícias do teleprompter”, disse. 
Futebol
Estudantes do curso de Direito do Centro Universitário 7 de Setembro criaram um time para um torneio anual chamado Habeas Pernas. O brasão do time traz a figura de um corpo feminino da cintura para baixo com as pernas abertas. Estudantes da faculdade fizeram protestos contra machismo e depreciação do corpo feminino no torneio.
Tipos de violência
Violência física.
Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal.
Violência psicológica.
Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento. Degradar, controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, vigilância constante são consideradas agressão.
Violência sexual.
Qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; impedir o uso de método contraceptivo ou forçá-la ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição.
Violência moral.
Qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
 
Violência patrimonial.
Qualquer conduta que configure retenção ou destruição de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos da mulher, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

O Povo

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