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Itaú Cultural apresenta em São Paulo uma exposição que percorre a memória do País por meio da arte

Essa não é a primeira e tampouco será a última exposição que lança um olhar sobre a história de nosso país por meio das produções artísticas de diferentes períodos, autores e regiões. A peculiaridade, porém, anuncia-se desde o título: "Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos". Foi a partir de um acervo de mais de 15 mil obras desta instituição - que em 2017 comemora três décadas de existência - , que o curador Paulo Herkenhoff e os co-curadores Thais Rivitti e Leno Veras enxergaram uma transversalidade de leituras e sentidos múltiplos da cultura nacional. Então selecionaram 750 trabalhos deste acervo - 46 deles recém-adquiridos, para serem expostos entre 25 de maio e 13 de agosto deste ano, na Oca de Niemeyer, São Paulo.

São mais de dez mil metros quadrados, distribuídos em quatro andares, inteiramente ocupados e sem uma sequência cronológica. A intenção é tornar o público sujeito, construindo nexos e diálogos diversificados sobre estética, linguística, conceito e política. Nada mais propício no momento atual, aliás. Paulo Herkenhoff, ao explicar o conceito da curadoria para cerca de 50 jornalistas de todo País que tiveram acesso à exposição em processo de montagem, levantou exatamente a importância deste protagonismo social possibilitado pela arte. "Quem aqui não está desalentado? Perplexo?", perguntou em referência aos acontecimentos recentes envolvendo o atual presidente da república Michel Temer.

E continuou, afirmando que em tempos de crise é preciso pensar aqueles capazes de enfrentar a entropia social. "Só a arte é capaz de se confrontar com a entropia, reverter processos entrópicos", reforçou, citando Mário Pedrosa, e atribuindo aos artistas esse papel transformador. "A arte é um exercício experimental de liberdade. Não existe liberdade plena sem a emancipação do sujeito", continuou. Herkenhoff também destacou a projeção dessa consciência lá fora. "O que salva o Brasil no mundo é a arte. O que hoje nos coloca no lugar que nos cabe é ela", disse.

Ainda sobre esse protagonismo, a curadoria ressaltou que esta não é uma exposição para quem já sabe de tudo, pelo contrário. A ela interessa estimular cada visitante, especialmente os pouco familiarizados com a arte, a organizar o próprio roteiro de interpretação e conhecimento, como quem flutua, trafega pela cultura brasileira.

Obras


Quadro do artista cearense Leonilson presente na mostra

Nesse tráfego, a Oca, onde os trabalhos ficarão até agosto, não deixa de ser ela própria um elemento expositivo. E foi em respeito a este prédio histórico, construído para comemorar o IV centenário da cidade de São Paulo, em 1954, que o Itaú resolveu investir em manutenção e melhorias para garantir a infraestrutura, construindo "paredes temporárias" para abrigarem as obras, entre outra ações que repaginaram o espaço. Uma constelação de 20 núcleos foi definida para ser percorrida pelos visitantes.

Em texto assinado pela curadoria, a visita é resumida. "No térreo, a arte expõe São Paulo. O subsolo abre-se em projetos de linguagens tecnológicas, os ciclos econômicos de Portinari, laços de subjetividade e outros. Já o primeiro andar traz a forma e a matéria do signo da arte e, na biblioteca, o Rumos Itaú Cultural. Por fim, o segundo andar concentra o período colonial, como barroco e a escravidão e seu impacto sobre o contemporâneo. Cada modo de ver é uma organização de ideias".

Entre as quase 800 obras expostas, estão desde algumas muito antigas, como os mapas "Jodocus Hondius: AmericaSeptentreionaliss", de 1613, e "Henricus Hondius: Accuratissima Brasilae Tabula", de 1630, até peças significativas de artistas contemporâneos - como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Berna Reale, Jaime Lauriano, Ayrson Heráclito e Éder Oliveira. Destes últimos, algumas figuram entre as novas aquisições, como "Bandeira Nacional #10", "Novus Brasilia Typus: invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural" e "Artefatos # (1, 2 e 3)", de Lauriano, todas de 2016.

Parceria

Do Ceará, saltam quatro obras de Leonilson: "Seis chapéus sobre fundo listrado, ca.", 1983, de tinta acrílica sobre tecido de algodão listrado, três Sem títulos, sendo uma de guache sobre papel (1983), outra de tinta acrílica e tinta metálica sobre tecido de algodão colorido (1983) e uma de acrílico sobre tela (1990).

Há também o trabalho "Fita de Moébius" (1996), de bronze e alumínio, do escultor cearense Luiz Hermano, fotos de Chico Albuquerque, pinturas de Antônio Bandeira e um vídeo de 9 minutos (Marca Registrada, 1985) da baiana que por muito tempo ficou radicada no Ceará, Letícia Parente. Não está prevista uma itinerância para a exposição "Modos de Ver o Brasil", porém ela é apenas uma das atividades que compõem esse ano comemorativo do Itaú Cultural. "Vamos celebrar não por meio de um único evento, mas de um programa", salientou o diretor do instituto, Eduardo Saron.

Há poucos dias ele esteve em Fortaleza, em diálogo com o presidente do Instituto Dragão do Mar, Paulo Linhares, sobre a especialização em gestão e políticas culturais que será ofertado pela primeira vez na capital cearense e que também integra ações pertinentes ao aniversário.

"Fortaleza tem um dos mais importantes equipamentos culturais do Nordeste, que é o Dragão do Mar, uma referência, e é natural que nesse processo de cada vez mais encontrarmos espaços de diálogo com esses vários 'brasis', o Dragão esteja no nosso roteiro obrigatório de conversas, trocas", explicou Saron.

A formação, que será ofertada no equipamento cearense a partir da parceria com o Itaú Cultural e a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Cooperação, da Universidade de Girona, na Espanha, terá início em agosto. Ela tem duração de um ano, sendo presencial e virtual, e conta com direção acadêmica do Prof. Dr. José Teixeira Coelho Netto, consultor do Observatório de Política Cultural do Itaú Cultural. As inscrições foram encerradas em março. Mas a sede por novidades e intercâmbios na área certamente ainda deve continuar.

Mais informações:

Exposição Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos. Visitação de 25 de maio a 13 de agosto de 2017, na Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo. Gratuito

A jornalista viajou a São Paulo a convite do Itaú Cultural*

Diário do Nordeste

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