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Uruguai: o charme do nosso vizinho

Praça da República, em Montevidéu, é um dos cartões-postais da capital uruguaia
Uruguai é um lugar de pessoas hospitaleiras, de uma carne saborosa, de paisagens marcantes e de um rio que mais parece o mar. A capital Montevidéu é banhada pelo Rio da Prata, que produz até ondas e imita uma praia. No final da tarde, muita gente passeia pelo calçadão à beira do rio, pratica esporte na areia ou simplesmente aprecia o movimento do tempo que não parece passar na cidade. Montevidéu não tem os ares cosmopolitas dos vizinhos Buenos Aires ou Santiago, mas tem um charme discreto.
Há muito o que fazer na cidade. Os apressados têm a opção dos ônibus de turismo para um passeio "fast food", mas precisam conseguir tempo para ir ao Mercado del Puerto a fim de conhecer um legítimo churrasco uruguaio. A carne macia, os cortes especiais, as parillas... Tudo preparado às vistas dos clientes que podem começar a comer pelos olhos! Nas ruas, renda-se aos chivitos, um desbunde de sanduíche, tipicamente uruguaio, rico em ingredientes que vão do cogumelo à carne.
Para quem gosta de comércio popular, aos domingos, todos os caminhos levam à feira de Tristan Navarra, que ocupa diversas ruas do Centro. A experiência pode ser interessante para amantes de irreverências. Vendem-se produtos inacreditáveis, como peças aparentemente inutilizáveis de jogos da década de 1980. O mercado dos agricultores também é interessante para quem busca, por exemplo, frutas frescas, vinhos da uva Tannat ou o saboroso doce de leite uruguaio. A livraria Más Puro Verso é imperdível.
Colonial
A 180 km de Montevidéu, fica Colonia del Sacramento, também às margens do Rio da Prata. Alugar um carro para um bate volta saindo da capital é muito cansativo, mas vale pelo encanto. A simpática cidade com ares coloniais rende agradáveis caminhadas. Quem dispõe de mais dias, pode dormir e aproveitar a noite.
Para ver o mar mesmo é preciso ir até a Punta del Leste, um balneário conhecido pela badalação das praias, ostentação das casas do seu bairro Beverly Hills e perdição no cassino Conrad, onde o jogo é legalizado.
Além de vistas lindas em dias de sol, a cidade oferece ainda encontro com leões-marinhos e com a famosa escultura "Los Dedos", do artista plástico Mario Irarrázabal. Fiquei surpresa ao descobrir que aquele lugar onde as pessoas tiram fotos tão solares trata-se de homenagem ao último gesto de um afogado.
Mas, de toda a viagem, o que mais arrebata mesmo é um fim de tarde na linda Casa Pueblo, desenhada por Carlos Paez Vilaró. A experiência nos faz entender por que o nome da seleção de futebol uruguaia é celeste.
Pode parece estranho indicar uma viagem para ver o céu de outro lugar quando dispomos de lindos fins de tarde em Fortaleza. Mas nunca vi nada como no Uruguai. Erguida no desfiladeiro de um elevado, a Casa Pueblo tem arquitetura singular que, inclusive, inspirou a música "A Casa", do brasileiro Vinícius de Morais. O passeio nos leva ao encontro também com a fascinante história do artista plástico que imortalizou o lugar.
Poesia no pôr do sol
Todos os dias, pessoas reúnem-se nas varandas para ouvir jazz e um poema que o uruguaio Carlos Páez Vilaró fez para saudar esse momento. Termino com as palavras deste homem que considerava a arte a colagem dos retratos da alma:
"Chau Sol?! Gracias por provocarnos una lágrima, al pensar que iluminaste también la vida de nuestros abuelos, de nuestros padres y la de todos los seres queridos que ya no están junto a nosotros, pero que te siguen disfrutando desde otra altura. Adiós Sol?! Mañana te espero otra vez. Casapueblo es tu casa, por eso todos la llaman la casa del sol".

Diário do Nordeste

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