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Ampliação do acesso à internet esvazia bibliotecas

por Honório Barbosa - Colaborador
Bibliotecas apresentam o mesmo cenário: funcionários passam o dia parados; em contrapartida, chegam poucos estudantes para pesquisar ( Foto: Honório Barbosa )
Iguatu. A partir da ampliação do acesso à internet nas cidades do Interior e a facilidade de busca de temas diversos por meio da rede mundial de computadores, aquela velha pesquisa estudantil nos livros e enciclopédias de bibliotecas públicas está ficando cada vez mais para trás. As unidades tradicionais que não se modernizaram estão vazias. Sobram mesas e cadeiras. Faltam alunos.
As bibliotecas públicas das cidades da região Centro-Sul do Ceará apresentam um cenário semelhante: funcionários passam o dia conversando, parados, e raramente chega um estudante em busca de pesquisa. Há pelo menos dez anos, o quadro era outro. Ainda havia uma frequência regular de alunos à procura de livros para elaboração de um trabalho escolar.
A internet chegou aos lares e, por meio de computadores e telefones celulares tipo smartphones, com rapidez e facilidade, os alunos encontram biografias, informações diversas, questões. "Ficou mais fácil pesquisar, encontrar o conteúdo", disse a estudante Ana Clara Lima, do 2º ano do Ensino Médio. "Faz mais de três anos que não vou na biblioteca e, na última vez, fiz fotos das páginas e transcrevi em casa o trabalho pedido pelo professor sobre o petróleo no pré-sal".
Maria de Fátima Alves há 31 anos trabalha em biblioteca pública. "Aqui, havia muito adolescente fazendo pesquisa, trabalho em equipe. Agora, vem um ou outro, bate foto das páginas com o celular e vai embora". Sem quase ninguém para atender, funcionários ficam conversando, fazem crochê ou ficam lendo algum livro e publicação.
Até a quantidade de livros para empréstimos, uma modalidade que as bibliotecas mantêm por meio de cadastro dos frequentadores, diminuiu. "Agora é pouco", disse a funcionária Clenens Rodrigues, que há 17 anos mantém uma rotina de trabalho em biblioteca pública.
O professor da rede pública de ensino Cláudio Felipe observa que o avanço da tecnologia das comunicações, a facilidade de acesso à internet nas residências, nas lojas especializadas - lan houses- e mesmo nas escolas favoreceram a vida dos alunos.
Outro aspecto evidenciado por Cláudio Felipe é que as escolas públicas estaduais e municipais passaram a dispor de bibliotecas com bom acervo de livros didáticos e paradidáticos, além de salas de multimeios. Já nas unidades municipais há defasagem. "Não há mais necessidade de se frequentar as bibliotecas públicas em busca de fonte de pesquisa. Alguns ainda frequentam esses espaços para estudar". É a falta de tranquilidade em casa que faz com que muitos alunos ainda procurem as bibliotecas como espaço de estudo de disciplinas regulares ou preparação para concursos, Enem e provas em cursos universitários.
"Houve uma mudança na finalidade e na faixa etária de quem procura uma biblioteca", frisou Jaiene Gomes, bibliotecária da Biblioteca Pública Municipal Matos Peixoto, na cidade de Iguatu. "Agora são mais adultos com o objetivo de estudar".
A unidade de Iguatu é polo regional e as bibliotecárias dão suporte às unidades de outras cidades. A auxiliar administrativa da unidade local, Célida Leite, observa que a falta de ar condicionado, de ventiladores, o calor excessivo e sem acesso à internet afastam os alunos. "Aqui é muito quente. Ninguém suporta ficar no salão por muito tempo".
Aberta pela manhã, tarde e à noite, a biblioteca municipal permanece esvaziada. Há vários livros que ainda estão encaixotados à espera de que estantes novas sejam adquiridas. "Estamos esperando também livro em braile e outros materiais de suporte para os deficientes visuais", disse Jaiene Gomes.
A biblioteca do Centro de Atividades do Serviço Social do Comércio (Sesc) em Iguatu mantém uma boa frequência. Há uma razão: o espaço dispõe de internet e de boa climatização, além de sala de leitura com cabines individuais. "Se compararmos com anos anteriores, houve uma redução, mas temos um público razoável", disse a assistente de biblioteca, Adriene Alves Guedes, que há quatro anos trabalha na unidade. "A maioria vem para estudar para provas de concurso e Enem. O perfil de frequentadores mudou".
Visitas monitoradas
O Sesc mantém uma escola que oferece até o 5º ano do Ensino Fundamental. O programa Educar-Sesc incentiva a leitura e pesquisa aos alunos na biblioteca, com visitas monitoradas pelos professores e espaço de narrativas de histórias infantis.
A partir da construção do Campus Multi-institucional Humberto Teixeira, que abriga cursos da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade Regional do Cariri (Urca) em Iguatu, uma ampla biblioteca foi instalada, com salas de estudos, para os alunos das duas instituições universitárias. "Temos necessidade de mais acervo e depois de implantação da internet houve uma maior frequência", observou o auxiliar administrativo, Frederico Candeira.

Diário do Nordeste

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