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Estudantes visitam exposição da Fundação Edson Queiroz

A Coleção Fundação Edson Queiroz vem sendo estudada por notórios curadores com diferenciados recortes apresentados Os alunos da rede pública e privada de ensino de Sobral participam de várias atividades no Espaço Educativo, ambiente criado especialmente pela curadoria da exposição (Fotos: Edilberto Florêncio)
Durante todo o mês de agosto, a exposição "Um Século de Arte Brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz", que está instalada na Casa de Cultura de Sobral, recebe a visita de turmas de alunos da rede pública municipal de educação.
Os alunos participam de várias atividades no Espaço Educativo, ambiente criado especialmente pela curadoria da exposição para trabalhar a perspectiva da arte-educação com foco em professores e alunos da rede pública e privada de ensino de Sobral, possibilitando, assim, melhor compreensão por parte de professores, estudantes e do público em geral.
Esse trabalho já foi implantado com sucesso no Espaço Cultural Unifor, instalado no Campus da Instituição em Fortaleza, por meio de parcerias com escolas públicas e privadas, garantindo, inclusive, acesso gratuito à cultura a jovens da periferia de Fortaleza e do Interior do Ceará, a partir de convênios com as secretarias de Educação do Município e do Estado.
Ao todo, foram 10 turmas com alunos da Educação Infantil da rede pública de Sobral, Ensino Fundamental I e II, totalizando 900 alunos. Além de participar de atividades educativas, os visitantes têm a oportunidade de conhecer sessenta obras dos principais artistas brasileiros e estrangeiros que compõem uma das mais importantes coleções de arte do Brasil, pela primeira vez deslocada para uma cidade do Interior do Ceará.
A exposição é uma realização da Fundação Edson Queiroz, em parceria com a Prefeitura de Sobral, por meio da Secretaria da Cultura, Juventude, Esporte e Lazer e do Instituto Escola de Cultura, Comunicação, Ofícios e Artes (ECOA).
"Esta exposição objetiva apresentar um recorte da arte brasileira a partir de 1917 até os dias atuais, tornando acessível a contemplação de uma das mais importantes coleções de arte do Brasil, pela primeira vez deslocada para uma cidade do interior do Ceará", explica Max Perlingeiro, curador da mostra.
Max ressalta a forte vocação cultural de Sobral como aspecto diferenciado para abrigar essa valorosa exposição. Ele lembra que a cidade dispõe de dois importantes e representativos museus: o Dom José, com acervo de arte sacra dos mais relevantes do Brasil, e o Madi, uma doação dos artistas ligados ao movimento geométrico europeu e latino-americano. Além disso, o sítio urbano da cidade é tombado como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
"É uma satisfação enorme da Prefeitura de Sobral trazer uma exposição com esse gabarito para nossa cidade. É uma oportunidade única! Gostaria de agradecer imensamente à Fundação Edson Queiroz, que foi muito solícita conosco, por toda a colaboração e empenho", destaca o prefeito Ivo Gomes.
O vice-reitor de extensão da Universidade de Fortaleza (Unifor), professor Randal Pompeu, frisa a relevância dessa exposição em Sobral, na medida em que se cumpre a missão da Unifor de democratizar o acesso às artes a cada vez mais pessoas, especialmente estudantes de escolas públicas e particulares, no sentido de aliar a arte e a cultura à educação, promovendo a atuação extramuros da Universidade. "Em razão da importância do acervo de artes visuais da Fundação Edson Queiroz, ficamos felizes em proporcionar sua apreciação por diversos públicos".
Núcleos temáticos
A mostra tem início em 1917, não coincidentemente ano que registrou dois momentos importantes para as artes. Há exatos cem anos, o pintor cearense Raimundo Cela obteve no Salão Nacional de Belas Artes o cobiçado Prêmio de Viagem à Europa, e foi em busca de aprimorar seus conhecimentos, o que possibilitou ao artista o reconhecimento como pioneiro no ensino oficial da gravura em metal no Brasil. Paralelamente, em São Paulo, a mostra da jovem pintora Anita Malfatti motivava a Monteiro Lobato o infeliz artigo "Paranoia ou Mistificação", recentemente lembrada no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A exposição abrange ainda importantes movimentos culturais registrados no Brasil, tais como o modernismo de Lasar Segall e sua exposição em 1913, Anita Malfatti e a mostra de 1917 e a Semana de Arte Moderna de 1922. O Salão Revolucionário de 1931, nome pelo qual ficou conhecida a 38ª Exposição Geral de Belas Artes, realizada na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, também é contemplado. Tradicional reduto da arte acadêmica, o salão daquele ano foi excepcionalmente dominado pelos artistas modernistas, devido à orientação dada ao evento pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, que havia assumido a direção da ENBA, em dezembro do ano de 1930, e procurava promover a renovação da Instituição.
Artistas modernistas
O curador Max Perlingeiro lembra que esse salão foi responsável pelo lançamento e a consagração de toda uma geração de artistas modernistas: Tarsila do Amaral, Antônio Gomide, Ismael Nery, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Guignard, Flávio de Carvalho, e outros.
Os ateliês livres e os núcleos operários também se fazem presente, pelas artes do Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro, e do Grupo Santo Helena, em São Paulo. Fechando a exposição estão obras da arte abstrata, informal, geométrica e o surgimento da Bienal de São Paulo, e representantes da arte contemporânea, com artistas que emergiram da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e trouxeram uma nova linguagem, atualmente, consagrados no Brasil e no exterior. E, claro, não poderia faltar o núcleo de artistas cearenses, com a presença de toda uma geração de artistas, entre eles, Raimundo Cela, Sérvulo Esmeraldo, Antonio Bandeira e Aldemir Martins.
A Coleção Fundação Edson Queiroz vem sendo estudada por notórios curadores com diferenciados recortes apresentados. Em março de 2013, por exemplo, ocorreu a exposição "Trajetórias - Arte Brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz", com a curadoria de Paulo Herkenhoff e Marcelo Campos, no Espaço Cultural Unifor.
Em julho de 2014, Lauro Cavalcanti fez a curadoria de "Abstrações - Coleção Fundação Edson Queiroz e Coleção Roberto Marinho", exposta no Espaço Cultural Unifor.
Mostra itinerante
Mais recentemente, em 2015, foi criada a mostra itinerante "Arte Moderna na Coleção da Fundação Edson Queiroz", com curadorias diferentes. Regina Teixeira de Barros fez a curadoria nas apresentações na Pinacoteca de São Paulo, na Fundação Iberê Camargo, na cidade de Porto Alegre, e no Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba.
Já na Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte, a curadoria ficou sob a responsabilidade de Valeria Piccoli. Por último, a Casa França Brasil, no Rio de Janeiro, abrigou a mostra, mas sob a curadoria de Marcelo Campos.
Como pouquíssimas instituições no Brasil fora do eixo Rio-São Paulo, a Fundação Edson Queiroz construiu um amplo acervo de arte brasileira, sobretudo do século 20, com obras de artistas do porte de Lygia Clark, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, entre outros.
A articulação entre a educação superior e as artes faz parte da essência da Fundação Edson Queiroz, mantenedora da Universidade de Fortaleza (Unifor), onde a comunidade acadêmica convive em harmonia com as artes visuais, o teatro, a música e a dança, por meio da realização de exposições no Espaço Cultural Unifor, de espetáculos no Teatro Celina Queiroz e do apoio permanente a seus grupos de arte - Big Band, Camerata, Cia. De Dança, Coral, Grupo Mirante de Teatro, Orquestra Infantil de Sanfonas, Grupo Infantil de Flautas, Grupo Infantil de Violinos e Grupo Infantil de Piano.
A Fundação Edson Queiroz mantém ainda a Biblioteca de Acervos Especiais, composta por livros raros adquiridos da coleção de Francisco Matarazzo Sobrinho, aberta à visitação pública sob agendamento.

Diário do Nordeste

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