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Biografia evidencia caráter combativo da vida e da literatura de Lima Barreto

A historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz lança, no Teatro Celina Queiroz, da Unifor, e na Galeria MultiArte,“Lima Barreto: Triste visionário”. Biografia evidencia o caráter combativo da vida e da literatura do escritor carioca, que fustigou a Primeira República com questões ainda atuais, como o racismo, a desigualdade e o tratamento da saúde mental

por Dellano Rios - Editor de Área
Lima Barreto (1881-1922) foi um autor incômodo durante a Primeira República. E ele sabia bem disso. Descrevia-se como um “escritor militante” (modelo raro, num País em que se esforça para separar literatura e política) e insistia em temas que a opinião pública queria esquecer – como a escravidão e o racismo. 
Passados 95 anos de sua morte, a capacidade do autor de tirar as coisas de ordem e atrair olhares tortos dos setores mais atrasados segue intacta. Prova disso são os debates que têm acontecido este ano, quando uma enxurrada de novas publicações e reedições de seu trabalho; e uma homenagem na Flip, em Paraty, o colocaram, mais uma vez, em pauta.
Em toda esta movimentação, ocupa lugar de destaque a biografia “Lima Barreto: Triste visionário”, da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, professora titular no Departamento de Antropologia da USP e Global scholar na Universidade de Princeton (EUA). O livro é uma indagação, feita a partir do turbulento presente sociopolítico brasileiro, a um escritor que ousou abordar questões que a classe política preferia não ter que responder, nas primeiras décadas da República. 
A autora participa de dois eventos de lançamento em Fortaleza. Nesta terça (10), ela tem uma noite de autógrafos na Galeria Multiarte, a partir das 18h30. Na quarta (11), às 9h15, apresenta uma palestra sobre o biografado no Teatro Celina Queiroz, no campus da Universidade de Fortaleza (Unifor). Após a palestra, haverá sessão de autógrafos no hall da Biblioteca.
Repetição
“As pessoas pensam que a história tratasse sempre da mudança. Mas ela trata também da repetição: desigualdade, racismo, feminicídio. São traços endêmicos de nossa história. Eles ficam se repetindo em nossa realidade social”, explica Lilia Schwarcz.
Questionar este autor, de aguda consciência histórica e social, é um dos principais objetivos do livro. “Na introdução, escrevo que esta não é ‘A’ biografia de Lima Barreto. Existe uma grande, do Francisco de Assis Barbosa (‘A vida de Lima Barreto”, de 1922, recém-reeditada pela Autêntica), e há muitos estudiosos de sua obra. Acho até que ele é mais estudado do que lido. Digo sempre que não há biografia definitiva, porque cada biógrafo traz questões de seu próprio tempo”, esclarece.
Ela disse ter recorrido a Lima Barreto “impactada por questões de direitos civis de nosso tempo”. Questões que, com o País em ebulição, tornaram-se cada vez mais urgentes. Claro, a proposta de Lilia Schwarcz não é a de fazer do biografado uma espécie de oráculo, que responde as questões de nosso tempo.
Seu Lima Barreto surge antes como uma figura exemplar, engajada em seu tempo, sistematicamente indo de encontro ao estilo apaziguador de sua época. O que Lima Barreto não queria era ver questões importantes sendo ignoradas antes de serem tratadas. Tudo isso foi feito e ficou marcado em uma produção literária de nível elevado.
“‘Acho que as pessoas leem mesmo ‘O triste fim de Policarpo Quaresma’, muito por conta da escola, do vestibular, e depois o esquecem. Ficam de fora o Lima Barreto jornalista; o missivista incrível; o Lima das crônicas, que são emocionantes. Falta você pegar o Lima Barreto dos contos – ‘O homem que sabia javanês’, ‘A Nova Califórnia’... Ele é um autor muito múltiplo e o que devemos recuperar é essa multiplicidade”, avalia.

Saiba mais
Palestra com Lilia Schwarcz – Terça-feira, 10, às 18h30.  Na Galeria Multiarte (Rua Barbosa  de Freiras, 1727, Aldeota).
Contato: (85) 3261.7724
Palestra com Lilia Schwarcz – Quarta-feira, 11, às 9h15, no Teatro Celina Queiroz, no campus da Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz).
Contato: (85) 3477.3000

Diário do Nordeste

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