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Artista visual Raisa Christina retrata saudade nos muros da UFC

FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-12-2017 : Raisa Christina faz Intervenção no Muro da CH-1, juvenal Galeno. (Foto: Fabio Lima/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-12-2017 : Raisa Christina faz Intervenção no Muro da CH-1, juvenal Galeno. (Foto: Fabio Lima/O POVO)
Quantos metros tem a sua saudade? Nas mãos da artista visual Raisa Christina, a saudade tem 219 metros preenchidos com palavras e retratos de estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pintado de azul, o muro do Centro de Humanidades I, no intervalo da rua Juvenal Galeno, virou uma grande tela de afetos, travessias e distâncias. A intervenção integra o projeto Urbano Arte, que, até março de 2018, vai realizar revitalizações, pinturas e interferências em 33 pontos das seis regionais de Fortaleza. O conjunto de ações é patrocinado pelo Grupo Marquise, pela Ecofor Ambiental e pelo Ministério da Cultura (Minc), por intermédio da Lei Rouanet.
Na intervenção proposta por Raisa, os estudantes da universidade oriundos de outras cidades sugerem palavras para figurar no muro e a artista visual faz retratos deles na parede. A ideia - explica Raisa, que tem uma relação afetiva com o bairro Benfica - é fazer os moradores e os visitantes se apropriarem do espaço, usualmente utilizado como depósito informal de lixo.
“Lembrei de ter visto, há alguns anos, uma matéria falando que o perfil dos estudantes da UFC mudou após a utilização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como acesso. Muitos estudantes vêm de outras cidades. E eu também sou do interior, sou de Quixadá, e vim para cá aos 15 anos. A ideia da intervenção é fazer essa cartografia”, explica Raisa, que é uma das mais reconhecidas artistas visuais de Fortaleza - com trabalhos que envolvem desenhos sobre papel fotográfico, recortes em papel em grande escala e intervenções em muros e fachadas.
O trabalho contou com a colaboração dos irmãos de Raisa - Bruno Rafael e João Emannoel - e da artista Bianca Ziegler. Além da pintura do muro, a equipe colocou sete mudas de plantas ao longo da calçada. O trabalho foi mais intenso durante dois dias. O quarteto - com as dezenas de tintas e materiais - ficou na rua Juvenal Galeno aguardando os estudantes e suas palavras. Mas vizinhos apareceram para oferecer água, outros se prontificaram a cuidar do crescimento das futuras árvores, alunos apareceram para acompanhar o processo criativo. E, nesses momentos, houve uma certeza: a intervenção começava a cumprir o seu propósito.
Gustavo Wanderley, curador do Urbano Arte, lembra que outros oito artistas participam do projeto: Zé Victor Férrer, Bruno Ribeiro (Spoteink), Bruna Bezerra, Ceci Shiki, Artur Bombanato, Ramon Sales, Rafael Limaverde e Alexsandra Ribeiro (Dinha). O grupo vai investir nas 33 intervenções que acontecem até março do próximo ano. Em comum, afirma o curador, está o desejo de modificar espaços de Fortaleza. “Cada artista pesquisa seu espaço. Transpondo valores com a memória das pessoas que moram ao redor desses espaços. Não é uma divisão de lugar, muro ou tarefas. Ou chegar com um ‘projeto de mesa’ pronto e fazer a intervenção. A premissa do Urbano Arte é entender aquele território como um território de memória. E a partir disso construir o projeto. Por isso a essencialidade dele é ter artistas que compreendam a cidade. O entendimento que é possível realizar projetos específicos para o lugar”, diz Gustavo. 
SAIBA MAIS
O Urbano Arte também conta com o apoio do Porto Iracema das Artes, que hospedou um workshop com Fernando Limberger para os nove artistas.
Além de Raisa Christina, outros artistas já iniciaram as intervenções. Os 33 pontos, entretanto, ainda não foram definidos. O intuito, segundo Gustavo Wanderley, curador do Urbano Arte, é atingir com equidades as seis regionais de Fortaleza, buscando espaços que tenha significado para os moradores.
ISABEL COSTA
O Povo

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