Pular para o conteúdo principal

Charlie Chaplin: 40 anos sem um ícone

Os versos de Carlos Drummond de Andrade consolam. "Meu bem, não chores, hoje tem filme de Carlito". Um dos artistas mais complexos da história do cinema ocidental, Charlie Chaplin é lembrado neste mês pelas quatro décadas de sua partida. Nascido em Londres em 16 de abril de 1889, terminou sua vida na Suíça, exilado, no dia 25 de dezembro de 1977, vítima de derrame cerebral.
Não raro Sir Charles Spencer Chaplin, ou Charlie Chaplin, foi suplantado por Carlitos, nome de um dos seus personagens mais famosos. A veia artística corria de berço: o pai, de quem herdou o nome, era cantor e ator; a mãe, Hannah Chaplin, cantora e atriz. Após a separação do casal, quando Charles tinha somente três anos, ele e seu meio-irmão Sydney John Hawkes foram deixados aos cuidados da mãe, que acabou internada num asilo sob justificativa de sérios problemas mentais. 
Aos doze anos, Charlie Chaplin vivia em casas diferentes e chegou a passar por abrigos, pulando de um endereço a outro. Certamente isso o influenciou na criação de Carlitos - também chamado de O Vagabundo.
A primeira aparição do personagem foi em 1914 no filme "Kid Auto Races at Venice". No ano seguinte, Chaplin consolidava-se como um grande artista, aparecendo em 35 filmes. No estúdio Companhia Essanay, passou a ganhar US$ 1.250 por semana.
Carreira
"Chaplin foi o maior artista de cinema". Quem afirma é Marcelo Müller, crítico e editor do Papo de Cinema. Segundo ele, o ator foi um dos primeiros a se rebelar contra os desmandos dos grandes estúdios e a criar o seu próprio, onde fosse possível dar liberdade aos artistas. Dentro dessa proposta, em 1919, Chaplin fundou a United Artists, em conjunto com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith.
Sua história, porém, está atravessa por muitas complexidades. Müller destaca que, à época, o cinema era considerado "coisa de aventureiro", principalmente nos Estados Unidos. Em vez de valorizados, artistas eram tratados como vagabundos. Ainda assim, ressalta o crítico, a influência da mímica, da pantomima e do gênero pastelão fizeram de Charlie Chaplin um fenômeno mundial.
Padrões
Müller sublinha que grande parte da contribuição de Chaplin para o cinema residiu no fato de ele não apenas retratar sua época, mas confrontar padrões da mesma. "O Garoto" (1921), primeiro longa dirigido pelo ator, "é totalmente emocional e reflete um pouco de sua própria vida".
No filme, uma mãe abandona seu filho com um bilhete em uma limusine, mas o carro acaba sendo roubado e a criança é deixada em uma lata de lixo. Um vagabundo, Carlitos, encontra o bebê e cuida dele. Após cinco anos, a mulher tenta encontrar o filho perdido.
"O longa trabalha a temática de crianças que passam necessidade. Chaplin passou a carreira inteira refletindo sobre isso", afirma Müller.
No final da década de 1920 o cinema mudo começava a ser substituído pelas produções com som. "Ele foi muito resistente ao cinema falado, mas quando decidiu fazer, o fez com excelência. As obras de Chaplin, mesmo sendo comédia, de riso aberto, conseguiam fazer uma crítica social. 'O Grande Ditador' (1940), por exemplo, foi uma crítica, na época em que Hitler estava ascendendo", explica o crítico e editor.

Diário do Nordeste

Comentários