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ICAN recebe Nobel da Paz no contexto da crise norte-coreana

A entrega do Nobel acontece este ano em um contexto de tensão na península coreana, o que alimenta os temores de uma guerra.
Banquete para os agraciados com o Nobel 2017.
Banquete para os agraciados com o Nobel 2017. (Nobel/Reprodução)

Os ativistas da ICAN alertaram neste domingo (10) que a destruição da humanidade pode depender simplesmente de que alguém "perca a paciência", ao receberem o Nobel da Paz de 2017, antes da entrega dos outros prêmios em Estocolmo.
"Será o fim das armas nucleares, ou será nosso próprio fim?", questionou a diretora da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês), Beatrice Fihn, durante a cerimônia de entrega do Nobel em Oslo.
Reunindo quase 500 ONGs em mais de 100 países, a ICAN alerta há vários anos para o perigo das armas nucleares. A campanha recebeu o prêmio na presença de vários sobreviventes dos bombardeios americanos de Hiroshima e Nagasaki, que deixaram 220.000 mortos há 72 anos.
A entrega do Nobel acontece este ano em um contexto de tensão na península coreana, o que alimenta os temores de uma guerra.
Nos últimos meses, Pyongyang multiplicou os testes nucleares e lançamentos de mísseis. Kim Jong-un e Donald Trump trocaram ofensas e ameaças. O presidente americano ordenou manobras militares na região.
"A maneira racional de proceder é deixar de viver em condições nas quais nossa destruição dependa apenas do fato de alguém perder a paciência", disse Fihn, pedindo ao mundo que abandone as armas nucleares.
- Um mundo que não é seguro -
A ICAN conquistou uma grande vitória em julho, quando a ONU aprovou um novo tratado que proíbe as armas nucleares.
Aprovado por 122 países, apesar da oposição das nove potências nucleares, o documento pode levar anos para entrar em vigor, pois precisa ser ratificado por pelo menos 50 signatários.
Até o momento, apenas três países - Santa Sé, Guiana e Tailândia - ratificaram o tratado.
"A principal mensagem da ICAN é que o mundo nunca será seguro enquanto tivermos armas nucleares", disse a presidente do comitê Nobel, Berit Reiss-Andersen, em seu discurso de entrega do prêmio.
"A ameaça de uma guerra nuclear é agora a maior em muito tempo, sobretudo, devido à situação na Coreia do Norte", completou.
Em sinal de aparente desconfiança, as potências nucleares ocidentais (Estados Unidos, França, Reino Unido) não enviaram - ao contrário do que é habitual - seus embaixadores à cerimônia do Nobel, e sim diplomatas de segundo escalão.
Para essas potências nucleares, a arma atômica é um instrumento de dissuasão que permite evitar conflitos e não pode ser deixada de lado.
"As armas nucleares são tão perigosas que a única medida responsável é trabalhar para o seu desmantelamento e destruição", insistiu Reiss-Andersen.
- 'Inferno na Terra' -
Entre os participantes da cerimônia que sobreviveram aos bombardeios nucleares estava Setsuko Thurlow, que recebeu o Nobel em nome da ICAN junto com Fihn.
Diante do rei da Noruega e da primeira-ministra Erna Solberg, essa mulher de 85 anos contou o horror que viveu.
Satsuko Thurlow tinha 13 anos quando a bomba A explodiu em Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945: ela assistiu à morte onipresente e viu sobreviventes formando uma "procissão de fantasmas".
Foi o "inferno na Terra", contou anteriormente em uma entrevista à AFP.
Atualmente, Satsuko Thurlow mora no Canadá.
Apesar da redução do número de ogivas nucleares no planeta desde o fim da Guerra Fria, hoje existem 15.000 armas desse tipo e cada vez mais países possuem o armamento.
"Nove nações ainda ameaçam incinerar cidades inteiras, destruir a vida na Terra, tornar nosso belo mundo inabitável para as futuras gerações", lamentou Thurlow.
"As armas nucleares não são um mal necessário, são o mal absoluto", concluiu.
Os demais prêmios Nobel (Literatura, Física, Química, Medicina e Economia) foram entregues neste domingo à tarde em Estocolmo.
Os 11 premiados receberam das mãos do rei Carl XVI Gustaf da Suécia uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de nove milhões de coroas suecas (1,06 milhão de dólares).

AFP

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