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Museu da Fotografia Fortaleza recebe o fotógrafo Gabriel Chaim para uma franca conversa sobre a experiência do campo de batalha

Aberta ao público em outubro deste ano, a mostra “Na Linha de Frente” do Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) tornou-se referência nacional no debate do olhar jornalístico em meio ao caos protagonizado pelas guerras. Profissionais, estudantes e demais apaixonados pela área têm a chance de acompanhar a trajetória de uma recente, ativa e premiada leva de fotógrafos brasileiros. Estes nomes estão pelo mundo, em busca da imagem capaz de denunciar uma série de conflitos que boa parte da civilização ocidental desconhece.
Capaz de se encerrar e ser autoexplicativa, a foto representa todo um investimento e trabalho por vezes silencioso, afinal, estes profissionais estão em outro país, imersos em outra cultura e à mercê de situações extremas. Ouvir da própria boca destes realizadores como o clique desejado foi capturado é uma das faces de “Na Linha de Frente”. Para dar prosseguimento ao ciclo de debates, nesta quarta-feira (13), às 19h, o Museu recebe o fotógrafo Gabriel Chaim e o crítico de fotografia, Juan Esteves.
As imagens registradas por Chaim se completam ao farto quantitativo de fotógrafos nacionais presente na mostra do MFF. Ao todo, são mais de 70 trabalhos de fotojornalistas brasileiros, que apresentam registros de duas guerras mundiais, do confronto entre Israel e Palestina e conflitos em locais como Coreia, Irã, Vietnã, Congo, Angola, Líbano e Afeganistão. 
Toda essa perspectiva revela a corajosa e elogiada participação de brasileiros nestes ambientes devastados pela guerra. Com curadoria de Fernando Costa Netto, a exposição agrupa nomes como Mauricio Lima, vencedor do prêmio Pulitzer de 2016, e de André Liohn, ganhador da prestigiada Robert Capa Gold Medal, 2011. Essa seleção contemporânea, atual e extremamente contundente ainda abarca os trabalhos de Yan Boechat, João Castellano, Felipe Dana e Gabriel Chaim. 
Nascido no oeste do estado do Pará, mais precisamente na cidade de Oriximiná, Chaim conta com uma trajetória singular no universo da fotografia. O começo se deu com os estudos em gastronomia em São Paulo, de onde partiu posteriormente para Firenzi, na Itália, onde abraçou de vez a paixão pela fotografia. 
Alimento
Feito isso, acabou por parar em Dubai, nos Emirados Árabes, local no qual trabalhou por mais de um ano com o intuito de arrecadar fundos e financiar o projeto “Kitchen4life”. A missão dessa iniciativa unia os dois campos tão próximos a Chaim, a fotografia e gastronomia, porém sob uma perspectiva contundente. A premissa era de fotografar a comida de quem não tinha nada para comer. Em 2011, assim, a guerra começa a fazer parte do cotidiano do brasileiro.
O caminho trilhado pelo paraense incluiu Irã, onde acabou tendo contato com campo de refugiados, denominado Niatak. Diante da realidade daquelas pessoas que deixaram tudo para trás, Chaim decidiu conhecer refugiados concentrados no Oriente Médio. Em 2013, já no campo de Zaatari, conheceu os refugiados sírios e percebeu que seu trabalho era decisivo para entender o motivo de essas pessoas saírem de sua terra natal. A Síria passa a ser um destino recorrente. 
Também cinegrafista, Chaim reparte com o público a experiência no foco de suas imagens. Interessa ao realizador visitar áreas de conflito, denunciar crises humanitárias e situações extremas as quais estas populações estão submetidas. Outra oportunidade é adentrar os bastidores de trabalhos jornalísticos desenvolvidos para a CNN, Spiegel TV e Globo TV. Estas reportagens renderam duas indicações para o Emmy e o prêmio de vencedor em duas edições do New York Festivals.
Origens
Filho de libaneses, Chaim tornou-se um especialista em adentrar áreas de conflito e crise. Além dos campos de refugiados na Jordânia e Irã, percorreu o Egito, a região da Faixa de Gaza, além do Iraque. O encontro mais emblemático do brasileiro foi com a Síria, onde a guerra civil já havia sido responsável por matar mais de 240 mil pessoas. Em Kobani, cidade devastada pelo grupo extremista Estado Islâmico e pelos bombardeios da coalizão liderada pelos Estados Unidos, desenvolveu o documentário “Kobani Vive”.
Situada na fronteira da Síria com a Turquia, Kobani se tornou um ponto chave na guerra contra os radicais islâmicos. Ali, vive o povo curdo, principal responsável por conter o avanço terrorista na região. O material inclui entrevistas com civis que, aos poucos, voltam do refúgio na Turquia para reconstruir aquele espaço urbano. O front de batalha é um dos destaques do documentário, onde Gabriel Chaim conheceu soldados (homens e mulheres) que defenderam suas propriedades com a própria vida. 
Reconhecimento
‘Chaim testemunhou situações díspares durante esta jornada. Foi detido com mais dois outros fotógrafos, um alemão e um turco, ao sair em direção à cidade de Sanliurfa, na fronteira com a Turquia. Acabou por ser deportado dias depois. Por outro lado, toda a coragem do fotógrafo brasileiro acabou adentrando o universo da música pop. As imagens fortes e marcantes do fotógrafo estamparam diversos jornais ao redor do mundo e transcenderam o jornalismo quando foram usadas pelo U2 na turnê “iNNOCENCE + eXPERIENCE”.
Além de Gabriel Chaim, no próximo sábado (16), às 16h, os palestrantes convidados serão João Castellano e Cris Veit. A programação ainda inclui palestras com Maurício Lima e Mônica Maia. As conversas são gratuitas e, para participar, o público deve realizar a inscrição previamente.

Mais informações:
Mostra “Na Linha de Frente” – Palestra com o fotógrafo Gabriel Chaim, nesta quarta-feira (13), às 19h, no Museu da Fotografia Fortaleza (Rua Frederico Borges, 545, Varjota). Inscrições gratuitas pelo site sympla.com.br. Contato: (85) 3017.3661

Diário do Nordeste

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