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Confira discos que marcaram a música brasileira no ano de 1968

TROPICALISTAS Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee e Gal Costa. À frente, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista  

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TROPICALISTAS Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee e Gal Costa. À frente, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista FOTOS DIVULGAÇÃO
Contra a caretice e a ditadura militar, Caetano Veloso cantava em 1968: “é proibido proibir”. Em setembro daquele ano, durante o Festival Internacional da Canção, na PUC-SP, um discurso inflamado respondeu às vaias que vinham da plateia, enquanto o baiano rasgava a garganta ao entoar os versos da composição. Aos 26 anos, o jovem engajado foi contundente. “(Vocês) São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada”, esbravejava. “O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira”.  
Esta era a atmosfera de resistência que percorria o Brasil em 1968, em consonância com o que ocorria País afora. Como bem definiu Zuenir Ventura no título de livro lançado em 2008, 1968 foi “o ano que não terminou”. Foi tempo em que os movimentos estudantis tomaram conta das ruas, enquanto havia greves e protestos em diversos países. O ano ficou marcado por fatos como o assassinato de Martin Luther King, a Primavera de Praga, a Passeata dos Cem Mil e outros tantos estímulos sociais, políticos e culturais que expandiram as possibilidades e abriram caminhos para transformações profundas na sociedade.  
Para além de É proibido proibir, de Caetano, outras canções se fizeram fortes, desafiando o poder vigente dos militares. “Um exemplo é Viola Enluarada, do cantor e compositor Marcos Valle (com letra do seu irmão Paulo Sérgio Valle), do disco de mesmo nome, também de 1968, cantada em parceria com Milton Nascimento, cuja letra começa com ‘a mão que toca um violão se for preciso faz a guerra’, mostrando a indignação do povo e dos artistas com a repressão piorada pós AI 5”, lembra César Bras Costa, pesquisador musical e editor do blog Wodstock Sound. “Para mim, o que mais chama atenção nesse período é que a música começa a ter um caráter mais experimental”.  
A música brasileira foi um capítulo importante dentro destas revoluções. Em 1968, lembra o jornalista Nelson Augusto, foram diversos os lançamentos que reviraram as entranhas da MPB. Para ele, o álbum Tropicália ou Panis et Circenses foi o registro mais incisivo deste período. “O disco foi um caldeirão sonoro, com Nara Leão, Mutantes, Gilberto Gil, Caetano e até música de Vicente Celestino, chamada Coração Materno. Havia letras concretistas, como Bat Macumba. O bolero Lindoneia, cantado pela Nara, que também trazia um ritmo reinventado, além, claro, da parte industrial de Gilberto Gil e arranjos meio futuristas”, avalia.

O disco-manifesto cravou uma nova estética musical no País, seguindo o fluxo da perda de força que a Jovem Guarda sofria. “A Jovem Guarda não perdeu espaço pra Tropicália. Ela já vinha combalida desde 67, porque, a partir de 66, cada artista queria ter seu programa na Record, na Band e na Excelsior. 
As grades ficaram lotadas, mas não havia patrocinador e anunciante pra sustentar tanta egotrip”, considera Marcelo Fróes, produtor musical e dono da gravadora Discobertas. “Era uma época interessante, pois, passada a era do iê iê iê, e sem uma cena verdadeiramente roqueira no mainstream, os artistas da MPB e também os neo-românticos ganhavam status de popstar”, acredita.  
Paralelamente à oxigenação que a Tropicália levou à cena musical, Caetano, Gil, Mutantes, condutores do movimento, levaram novidades suas ao mercado fonográfico. Outros discos também vieram a tona, revolucionários ou não, mas que refletiam a força artística daquele ano, como Canto Geral (Geraldo Vandré), Chico Buarque de Hollanda - Volume 3, Elis Especial (Elis Regina), O Inimitável (Roberto Carlos), Você passa, Eu acho graça (Clara Nunes) e Taiguara.

“Não tenho dúvidas que a boa MPB deve muito aos elementos históricos que rolavam a partir de 1964, em 1968, na barra pesada dos anos 1970, até a abertura - que inaugurou o velório de muita coisa boa que foi enterrada por falta de inspiração em 1984. Mas aí temos o Rock in Rio e a febre de Rock Brasil como boa desculpa”, provoca Fróes. Para o dono do selo Discobertas, as produções refinadas, com maestros e produtores garantindo qualidade, foram o grande legado deixado pela música brasileira no icônico ano de 1968. 
“Sgt Pepper mostrou o caminho!”, celebra, referindo-se ao disco dos Beatles lançado em 1967.
CAMILA HOLANDA
o pOVO

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