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“Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar"!

Grecianny Carvalho Cordeiro*
Diz a canção que “quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”. Mas isso vale para quem nasceu com o samba e com ele se criou. 
Gostando ou não, de samba ou de carnaval, não se pode ignorar a beleza das letras dos enredos vencedores do Carnaval carioca de 2018.
“Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar (Os Filhos Abandonados da Pátria Que Os Pariu”, da Beija-Flor de Nilópolis, bem retrata a triste realidade do massacrado povo brasileiro, carente, espezinhado, mas que não deixa de sonhar com a luz redentora, a libertá-lo de tanto sofrimento. 
Um país cantado e retratado em letra de samba canção: “Ganância veste terno e gravata/Onde a esperança sucumbiu/Vejo a liberdade aprisionada/Teu livro eu não sei ler, Brasil!/Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora/Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola/Meu canto é resistência/No ecoar de um tambor/Vêm ver brilhar/Mais um menino que você abandonou”.
E arremata: “Oh pátria amada, por onde andarás?/Seus filhos já não aguentam mais!/Você que não soube cuidar/Você que negou o amor/Vem aprender na beija-flor”.
A vice-campeã, a escola de samba Paraíso do Tuiuti, canta outra pérola: “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”.
Fala sobre uma escravidão que não tem cor, a escravidão social que tira dos brasileiros a dignidade, a honra, a esperança de um futuro melhor. Não importa quem somos, o que fazemos, somos homens e mulheres com o sangue avermelhado a escorrer pelas veias, tentando sobreviver com um prato de feijão com arroz.
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“Irmão de olho claro ou da Guiné/Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado/Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor/Tenho sangue avermelhado/O mesmo que escorre da ferida/Mostra que a vida se lamenta por nós dois/Mas falta em seu peito um coração/Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz”.
Num país democrático, em que a liberdade é pilar fundamental, somos escravos acorrentados pelos feitores (gestores) que só contribuem para aumentar a desigualdade social, a violência, a corrupção...
E num jogo de palavras que é pura poesia, declama: “E assim quando a lei foi assinada/Uma lua atordoada assistiu fogos no céu/Áurea feito o ouro da bandeira/Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel”.
Por fim, em veemente recusa a qualquer forma de escravidão, implora: “Meu Deus! Meu Deus!/Seu eu chorar não leve a mal/Pela luz do candeeiro/Liberte o cativeiro social”.
 
*Promotora de Justiça

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