Pular para o conteúdo principal

Secultfor e curadoria da edição passada avaliam retorno da Prefeitura de Fortaleza à organização do Salão de Abril

Minimuseu Firmeza (mais acima) e Galeria Multiarte, dois espaços que abrigaram o “Salão de Abril Sequestrado” ( Fotos: Cid Barbosa/Fabiane de Paula )
Para a gestão da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), o momento não se trata, exatamente, de uma "retomada" do Salão de Abril. Segundo Norma Paula, coordenadora de Ação Cultural da Secultfor, os gestores da pasta reconhecem a legitimidade da edição passada, realizada pela classe artística e independente da ingerência do poder público.
Norma destaca que, com a abertura das inscrições para o 69º Salão, a Prefeitura de Fortaleza encara o momento "com muita tranquilidade". "Para a Secultfor não houve uma parada. Houve uma iniciativa válida (dos artistas) de fazer aquela edição. E nós estamos dando continuidade (à realização do evento), com um novo edital", avalia a gestora.
Indagada sobre como foi a experiência de disponibilizar o edital das inscrições antes, para consulta pública, no período de 22 de dezembro de 2017 a 21 de janeiro passado, Norma Paula pontua que o processo foi "excelente", mas admite que esperava uma participação maior do público.
A consulta começou na véspera do período de festas de fim de ano. "Daí tivemos poucas contribuições, a maior parte delas foi aceita. Algumas (sugestões) já estavam de acordo com o que vínhamos pensando. E muita gente procurou o e-mail da consulta para realizar a inscrição das próprias obras, mas orientamos que a abertura só seria agora", recapitula.
Sobre a curadoria, Norma Paula informa que a Secultfor deverá divulgar o nome responsável pela seleção das 30 obras do 69º Salão de Abril em "breve". A gestora não deu prazo para o anúncio. "Não tenho como dar o prazo, porque antes a Procuradoria Geral do Município precisa aprovar. Mas teremos uma pessoa, de renome internacional, e mais dois ou três pareceristas locais", detalha.
Legitimidade
Questionada como a Secultfor reconhece hoje o "Salão Sequestrado" (a edição passada), Norma Paula pontua a história do evento e lembra que o Salão de Abril começou, na década de 1940, por iniciativa própria dos artistas. Ela alega que a Prefeitura de Fortaleza não realizou o projeto, em 2017, por conta de um processo de adaptação da gestão da pasta.
"Foi o primeiro ano da gestão do professor Evaldo Lima, então tudo saiu um pouco mais tarde. Todos os editais, do Carnaval, tudo, temos de submeter a Central de Licitações da Prefeitura de Fortaleza (CLFOR). É a CLFOR que efetiva, embora a gente que organize, elabore o edital", explica Norma.
Indagada se o "Salão Sequestrado" provocou, de alguma forma, mudanças na maneira como a atual gestão da Secultfor encara a realização do próximo Salão de Abril, a gestora pontua que "pra gente, é muito verdadeiro que todo artista tome esse tipo de iniciativa. Fica a lição (para a Secultfor) de pensar novas formas (de realizar o evento), de ouvir os artistas, não apenas pelo processo de consulta pública, e de pensar novos lugares", destaca.
Norma Paula observa que a própria escolha da Casa do Barão de Camocim para realizar o 69º Salão de Abril teve a ver com essa reflexão. "Achamos que era um lugar mais acessível (à população)", resume.
Experiência
Para o artista visual e produtor do Festival Concreto de Artes Visuais, Narcélio Grud, realizar o "Salão Sequestrado" no ano passado fez sentido para fortalecer a união dos artistas visuais do Estado. "Não é uma coisa tão comum de acontecer, falando pelas artes visuais. Só isso já foi um ponto bem legal: pactuar as pessoas que trabalham há muito tempo na área, e os mais novos", observa.
Ele coloca que, além dos realizadores, a mobilização instigou o intercâmbio entre os vários espaços culturais que sediaram as exposições.
Grud e mais oito pesquisadores e artistas visuais locais fizeram a curadoria da edição passada. Para ele, o protesto surtiu efeito e a prova disso seria a retomada da Prefeitura de Fortaleza este ano. "Abriu-se a consulta pública para o edital, e eu achei isso muito positivo. Toda essa conexão, todo esse movimento ajudou a realização da próxima edição", pontua o artista.
Indagado se pretende se inscrever para compor a programação do 69º Salão de Abril, Narcélio Grud adianta que sim, embora não tenha efetivado a inscrição ainda. "Uma das maneiras de fazer o Salão permanecer vivo é participar. Só assim os artistas circulam. Não sei ainda como será a comissão julgadora. Só vi que terá gente daqui, e de fora também, (então) fica mais isento", percebe Grud. O artista complementa: "em Fortaleza, as pessoas são próximas e é normal que os curadores já conheçam os trabalhos dos artistas. E às vezes, nesses concursos, a gente não consegue avaliar a potência de um trabalho só através de fotos e descrições", diz.

Diário do Nordeste

Comentários