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Clássicos italianos de comédia e faroeste são exibidos na Vila das Artes

Cartaz da comédia "Parente é Serpente", outro selecionado para esta edição do cineclube
O cinema italiano tem grandes ligações com os irmãos Lumierè - considerados inventores da sétima arte -, já que a cinematografia naquele país nasce quase junto à criação atribuída aos irmãos franceses, o cinematógrafo, registrados pela dupla em 1895. O primeiro filme italiano data de 1896, feito com a ajuda de operadores franceses trabalhando ao lado de operários italianos.
Com oito anos de existência, o Cineclube 24 Quadros realiza sessões todas as sextas-feiras com temáticas distintas a cada mês, na Escola Pública Vila das Artes. Em abril, o espaço faz uma ode à cinematografia italiana. Com curadoria de Pierre Granjeiro, nesta sexta (20) o filme "Keoma", segue com a programação, às 18h30.
O longa de 1976 se passa ao final da guerra civil americana. Na história, um pistoleiro mestiço, de nome Keoma, cansado de ganhar a vida como matador de aluguel, começa a refletir sobre sua vida e decide retornar para casa. Ao voltar, encontra uma cidade devastada pela peste e sob o comando do temido capitão Caldwell.
O pistoleiro vê-se, então, em meio a uma batalha contra seus irmãos, que trabalham para o capitão, e em uma disputa entre colonos inocentes e bandidos sádicos. Numa terra de ninguém o som que ecoa é o das balas dos pistoleiros.
Sobre a importância dessa cinematografia para o cinema italiano, Granjeiro comenta: "'Keoma' é um dos grandes faroestes da história do cinema e marca o encerramento do ciclo chamado spaghetti western. Não foi o último desse subgênero, mas com certeza a última obra-prima produzida", afirma.
Com belas atuações, ótimas cenas de ação e trilha sonora poderosa, composta pela dupla Guido e Maurizio De Angelis, "o longa marca uma das melhores performances do astro Franco Nero, protagonista de westerns clássicos realizados na Itália", pontua o curador.
Franco Nero chegou a aparecer no filme "Django Livre", de Quentin Tarantino (2012). No longa ele aparece ao lado de Amerigo Vassepi, interpretado por Leonardo Di Caprio.
Bangue-bangue
O western spaghetti (faroeste espaguete) está situado nas décadas de 1960 e 1970 e tinham como principais locações a Itália e a Espanha. O gênero ganhou notoriedade quando o faroeste norte-americano entrou em declínio, após uma grande popularidade na década de 50.
O novo subgênero tipicamente italiano fez sucesso fora da Itália e chegou a influenciar muitas produções. "Considero 'Keoma' um dos clássicos absolutos do western spaguetti e um dos meus faroestes favoritos vindos da Itália, ao lado de 'Era uma vez no Oeste' e 'Três Homens em Conflito',ressalta Granjeiro.
"Lembro-me das saudosas exibições no domingo à noite, quando esse filme passava na televisão e das belíssimas sequências de tiroteio, que marcaram minha formação cinéfila", confessa.
Outro ponto forte da película é a direção de Enzo G. Castellari, um dos realizadores mais amados de Quentin Tarantino. Castellari chegou a atuar em um de seus próprios longas, o "Quel Maledetto Treno Blindato" (1977), que serviu de inspiração para o "Bastardos Inglórios" (2009), de Tarantino - no qual Castellari também aparece, no papel de um general alemão.
Programação
A mostra acontece todas as sextas-feiras durante o mês de abril e iniciou no dia 6 com a exibição do clássico cult "Prelúdio para Matar", um dos suspenses mais importantes do cinema italiano.
Para fechar esta edição, no dia 27, foi escolhido "Parente é Serpente" (1992), uma das grandes comédias dos anos 90. O filme se passa na época do Natal, durante uma ceia. A família Colapietro vive um momento de paz e tranquilidade. Mas o clima de serenidade é quebrado quando a matriarca da família anuncia que ela e seu marido estão muitos velhos para viverem sozinho e comunicam que irão morar com um dos filhos.
Assim, começa uma batalha entre os irmãos, mas não para quem vai cuidar dos pais, e sim quem irá se livrar dessa responsabilidade.
"Parente é Serpente" foi produzido em um momento de baixa da cinematografia italiana. Mesmo assim a produção atesta a genialidade de Mario Monicelli, um dos diretores mais subestimados do país.
"O longa faz uma crítica à instituição familiar e tem uma força impressionante, além de ter um final surpreendente. Merece ser visto e revisto por todos", convida o curador.
Cineclube
O 24 quadros é formado por Gabriel Petter, Eduardo Silva e Pierre Granjeiro. Toda sexta-feira há exibição gratuita no Vila das Artes a partir das 18h30, acompanhada de debate ao final de cada sessão.
O grupo escolhe em conjunto as temáticas a serem abordadas ao longo do ano, mas há meses em que os motes são oferecidos a eles pelas efemérides. "No mês de março fizemos uma mostra só de cinema feminista e em novembro escolhemos filmes que falem do movimento negro no Brasil, que trouxesse essa simbologia", explica Eduardo Silva.
"O cinema italiano, com certeza possui uma das mais ricas cinematografias do mundo. Aliado a isso, temos o ressurgimento do cinema de gênero, que estava em baixa em Hollywood, a partir da década de 60", aponta Granjeiro.
"Isso foi modernizado pelos cineastas italianos, de maneira originalíssima, como o faroeste, a comédia e o terror. Por causa disso nada mais justo do que fazer uma homenagem a esse cinema tão poderoso", conclui.

Mais informações:
Filme "Keoma". Hoje (20), às 18h30. Na Vila das Artes (Rua 24 de Maio, 1221, Centro). Gratuito. Contato: (85) 3252.1444

Diário do Nordeste

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