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Dois dedos de poesia

POR RAUL DREWNICK
Gracinhas talvez graciosas
Algumas frases às vezes me vêm e me asseguram que são poesia. As mais recentes estão aqui. O que vocês acham? Ajudem-me.
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MÁXIMO
A melhor idade
para um escritor
é a posteridade.

A PIOR VÍTIMA
Quem há de querer
assaltar um poeta?
Num bolso um filhote de estrela,
no outro nenhum objeto,
na mão um soneto incompleto.

IGUARIA
No banquete do amor
com avidez
dentada a dentada
toda nudez será castigada.

SEGREDO
Eu sei de fonte segura
que o amor não tem compaixão
e a paixão não tem cura.

ESCÂNDALO
Apesar dos esporros
as rimas obstinam-se
e engatam-se como cachorros.

MARCADOR
Há no livro policial
entre as páginas
noventa e oito
e noventa e nove
não uma rosa
mas uma mariposa
outrora curiosa
que não mais se move
em sua precisa
e definitiva
pose mortal.

CERTIDÃO
Morreremos de causas naturais:
falência múltipla dos órgãos
e fadiga dos materiais.

CICLOS
Toda velha guarda
se apresentou um dia
como vanguarda.

TENTAÇÕES
Fechar os olhos
ao mundo
fechar os olhos
à vida
fechar os olhos
à rima
fechar os olhos
a tudo.

CURSO
Deixai passar
deixai correr
deixai findar
deixar morrer.

AUTOAVALIAÇÃO
Eu sou daquela
espécie de poetas
de meia-tigela
que tentam encher a panela
com duas metades ineptas
que nunca chegam a somar
uma unidade completa.

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