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Biografia reconstitui a rica trajetória política e intelectual de Parsifal Barroso, ex-governador do Ceará e autor de "O Cearense"


Parsifal
Parsifal Barroso: livro reconstitui trajetória intelectual e política do ex-governador
De dez a 15 linhas nos livros de História era o que Luís-Sérgio Santos costumava encontrar sobre o governo de Parsifal Barroso (1958-1962) no Ceará. Sua gestão havia acontecido entre a de Paulo Sarasate e a de Virgílio Távora. A apresentação escassa e superficial das informações relativas àquele período passou a inquietar o jornalista, que resolveu então expandir a memória do personagem em uma biografia de mais de 400 páginas a ser lançada pelo Instituto Myra Eliane, nesta terça-feira (5), às 19h, na Livraria Cultura. Na ocasião, o jornalista Egídio Serpa mediará um bate-papo com o autor do livro e o neto do biografado, o empresário Igor Queiroz Barroso, presidente do Instituto Myra Eliane e Diretor Institucional do Grupo Edson Queiroz.
"O que prevalecia em Parsifal era de fato a conciliação, a costura, o apaziguamento, a ponderação, a argumentação. Mas ele era um estrategista. Grande orador, tinha o dom da retórica, dominava a cena, seguro, com uma voz mansa. Ouvi os áudios dele. Busquei conhecer a voz dele, o timbre, como enfatizava ou amenizava as palavras", conta o jornalista, destacando a força do personagem e seu método de imersão na personalidade do biografado.
A pesquisa de Luís-Sérgio começou durante a produção do seu último livro "Intimorata - A saga do jornal O Estado, de José Martins Rodrigues a Venelouis Xavier Pereira", que conta a história do jornal cearense desde sua criação, em 1936, até hoje. "Nas pesquisas para esse outro projeto, descobri que Parsifal tinha o jornal O Estado como aliado, parceiro, porta-voz durante seu governo. A partir daí, interessei-me pela figura dele e fui aprofundar-me para ter mais embasamento sobre esse período", revela.
No processo de finalização daquela obra, lançada em outubro passado, o jornalista percebeu que tinha ainda bastante material em mãos sobre uma figura importante de nossa história política, mas cuja trajetória ainda havia sido pouco explorada pelos pesquisadores. "Busquei a família do Parsifal para conversar mais sobre ele, e tive total apoio", conta Luís-Sérgio. "A pesquisa já estava bem adiantada quando encontrei com o Igor Queiroz Barroso, neto do Parsifal, que cuida do resgate da memória dos avós. Ele ficou empolgado e incorporou a obra ao Instituto Myra Eliane", contextualiza o jornalista.

Ministério
Criado em 2016, o Instituto lançou, no ano passado, uma nova edição do livro "O Cearense", clássico ensaio de Parsifal, e a biografia de Olga Barroso, escrita por Juarez Leitão. Com "Parsifal: um intelectual na política", dá-se mais uma contribuição para a memória do Estado a partir da história de suas personalidades.
Dividida em 11 capítulos, a nova obra conta também com uma coleção de fotos históricas. A orelha foi escrita por outro ex-governador do Ceará, o médico e bibliófilo Lúcio Alcântara. "Foi mestre a vida inteira, dentro ou fora das salas de aula, inclusive exercendo o magistério durante sua passagem pelo cargo de governador do Ceará. Este é, portanto, um aspecto marcante de sua vida: Parsifal, o intelectual", descreve Lúcio.
Sem adotar uma narrativa cronológica estrita, a biografia escrita por Luís-Sérgio destaca Parsifal logo de início como "o segundo ministro mais influente no governo de Juscelino Kubitschek" (depois de José Maria Alckmin, à frente do Ministério da Fazenda). O cearense comandou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio entre 1956 e 1958. A relação que ele mantinha com a Igreja Católica foi decisiva para esta nomeação, sendo recomendado à época por três cardeais do País.
A frente do ministério, o político enfrentou um cenário turbulento, num período em que os sindicatos eram fortes o suficiente para parar o País. "Eu me modifiquei muito sendo Ministro do Trabalho. Pude entender melhor as reivindicações sindicais e as reivindicações de caráter social. Pude fazer distinção entre ambas e atender mais as sociais do que as sindicais", avaliou Parsifal, em uma entrevista citada em sua biografia.
Nos capítulos que seguem, Luís-Sérgio Santos escreve sobre a surpreendente vitória de Parsifal Barroso sobre Virgílio Távora na eleição para governador do Ceará em 1958; a articulação política comandada por Parsifal para eleger nas eleições seguintes seu sucessor, o coronel Virgílio Távora, a quem havia derrotado quatro anos antes; a obra intelectual do biografado, com foco em três livros que publicou: "O Cearense", "Uma História da Política e do Ceará" e "Vivências Políticas"; e sua história pessoal e familiar.
Construção
Como autor da biografia, Luís-Sérgio Santos admite que ficou à margem da narrativa por uma opção pessoal e também profissional. "Eventualmente me dou ao luxo de fazer um comentário, mas muito discreto. O que deve prevalecer é o resgate da memória do biografado, por isso o livro tem muitas fontes para dar segurança à narrativa", conta.
No livro, Parsifal é muitas vezes o próprio narrador, já que um dos fios condutores da narrativa é uma extensa entrevista que ele concedeu à socióloga Teresa Haguette, já falecida. Familiares também dão uma extensa contribuição. A checagem de fatos em jornais e documentos oficiais foi outra estratégia básica da apuração do autor.
Contribuições
Já que pouco se falou de Parsifal nos livros de História, quase tudo que se apresenta em sua biografia é novidade. Professor, deputado estadual, deputado federal, senador, governador e ministro de Estado foram algumas das atividades as quais ele se dedicou em vida. Como governador, ele criou o Banco de Desenvolvimento Econômico do Ceará Bandece) e conseguiu autorização do Banco Central para a instalação do Banco do Estado do Ceará (BEC).
Foi Parsifal também que trouxe a energia elétrica para o sul cearense; comprou o terreno e contratou o projeto e as estruturas metálicas para a construção do Palácio da Abolição; criou a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e aglutinou faculdades no que seria o início da Universidade Estadual do Ceará.
"Portanto, citá-lo nos livros de História como gestor de um governo de crises e que rompeu com Carlos Jereissati é mais que uma subtração dos fatos, uma indigência historiográfica", defende Luís-Sérgio na nota prévia da biografia.
"Torço pra que este livro seja instigante para a pesquisa acadêmica da universidade e estimule novos olhares. A biografia não encerra o olhar, pelo contrário, inicia. Conhecer nossa história é muito importante", finaliza o biógrafo.

Livro
Parsifal: Um intelectual na política
Luís-Sérgio Santos
Escrituras
2018, 463 páginas
R$ 69,90

Mais informações:
Lançamento da biografia "Parsifal: um intelectual na política", de Luís-Sérgio Santos. Terça-feira (5), a partir das 19h, na Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010, Loja 8, Aldeota). Contato: (85) 4008.0800

Diário do Nordeste

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