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Documentário "Mulheres de Antônio" traz narrativas da Festa do Pau da Bandeira sob um viés feminista

por Roberta Souza - Repórter
Ni de Souza, atriz, bonequeira e fundadora do Grupo de Teatro Mateu é uma das entrevistadas no documentário "Mulheres de Antônio", das jornalistas Marina Holanda e Lia Mota
Joana D'arc, Luciana, Lúcia, Gorete, Celene, Ester "do Mercado", Socorro Luna, Ni de Souza, Sandra Sobral e Celene Queiroz fazem a Festa do Pau Bandeira, em Barbalha, como suas mães e avós um dia também fizeram. Elas representam o trabalho feminino numa festa que desde as suas origens exalta a força masculina, com o carregamento do tronco de uma árvore que simboliza a promessa e a devoção ao santo casamenteiro.
As histórias narradas pelas "Mulheres de Antônio" - nome do documentário das jornalistas Marina Holanda e Lia Mota - serão apresentadas ao público do Cariri hoje (7), dentro do II Simpósio Nacional sobre Patrimônio e Práticas Culturais. O média-metragem, apresentado como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, em 2017, narra essa manifestação da cultura popular cearense, que foi registrada em 2015 como Patrimônio Imaterial pelo Iphan, sob um viés feminista.
"Queríamos desenhar o documentário sob a perspectiva da mulher protagonista numa festa que tem o falo como seu ponto máximo. Uma festa católica, numa cidade do Interior atravessada de misticidade cultural, onde as pessoas já nascem devotas, onde há o reforço da família tradicional, do casamento. A gente queria descobrir se tinha algo para além disso", contextualiza Marina.
Foi com esse foco que as jornalistas chegaram às netas da primeira mulher a colocar barraca nas quermesses de Santo Antônio; a uma comerciante, carregadora das cordas do pau da bandeira por muitos anos; à idealizadora da "Festa das Solteironas"; à fundadora do Grupo de Teatro Mateu; à pintora da bandeira de Santo Antônio; além de historiadoras e gestoras culturais de Barbalha.

Impacto
A convivência com as entrevistadas trouxe para as jornalistas algumas reflexões importantes. Para Marina, perceber a organicidade do protagonismo dessas mulheres foi uma das boas descobertas.
"A maioria das mulheres que entrevistamos são mais velhas, não têm consciência desse protagonismo, porque encaram isso de forma orgânica. É como se fosse um tapa na cara da gente, estudante de classe média, universitária, com leituras feministas, porque, na prática elas estão fazendo aquilo há tanto tempo", diz.
"O que é feminismo pra vida delas? Elas agem com naturalidade, são empoderadas, embora dentro do contexto de cada uma exista muitas dificuldades", observa. "As mais ativas nesses movimentos culturais, não por acaso, são solteiras. Mas elas garantem que nunca estão sozinhas, porque o Santo Antônio sempre dá um jeito", recorda Marina, ressaltando o humor com que as entrevistadas compartilham as experiências.
"Foi muito prazeroso conhecê-las, ver e rever as falas delas. Ainda que estejamos num lugar de distância, mas eu, por ser uma pessoa do interior (Marina nasceu em Limoeiro do Norte), fico orgulhosa de poder conhecer outras mulheres que são tão ativas no que fazem", diz.
Processo
Para dar conta dessas histórias no documentário, as realizadoras viajaram para Barbalha duas vezes no mês de maio do ano passado: uma antes e outra durante a festa, que acontece de 31 de maio a 13 de junho, Dia de Santo Antônio. As entrevistas foram realizadas logo na primeira visita. "Contamos com a ajuda de uma peça fundamental, o Thiago Rodrigues, que é produtor cultural na região e ajudou a localizar algumas das entrevistadas", conta Marina.
Para o produto final, as jornalistas juntaram arquivos de viagem registrados em 2015 com as captações de entrevistas e imagens realizadas por elas em 2017. Apesar de fazerem tudo em dupla, desde as viagens até Barbalha, à localização de fontes, captação de áudio e vídeo, entrevistas, edição e montagem do material, elas consideram o resultado um trabalho coletivo, pois contaram com o apoio de diversas pessoas, entre empréstimos de equipamentos de filmagem, contatos com entrevistadas, informações compartilhadas, acolhida e hospedagem.
A versão exibida na defesa do TCC tinha 35 minutos, mas a que vai para Barbalha tem apenas 30. "A gente já estava vislumbrando a possibilidade de exibição do documentário e não queríamos demorar muito em dar esse retorno. Depois da revisão da banca, algumas sugestões levaram a gente para outros caminhos, mas não queríamos fugir da ideia original, e vai ser muito interessante mostrar para a cidade neste Simpósio Nacional", vislumbra Marina.

Fique por dentro
Cariri recebe Simpósio Nacional
O II Simpósio Nacional sobre Patrimônio e Práticas Culturais: Territórios culturas e Contemporaneidades acontece desde terça-feira (5) e segue até o próximo dia 9/06 (sábado), no município de Barbalha. O encontro tem por necessidade principal o aprofundamento de estudos e criação de espaços participativos de valorização da cultura popular, orientadas para colaboração da sua salvaguarda, sobretudo dos festejos populares da região. A iniciativa reúne pesquisadores, mestres e brincantes, bem como colabora com debates e elaboração de documentos, que possam colaborar na elaboração de políticas publicas voltadas para o desenvolvimento regional sustentável. É um evento construído no campo da interinstitucionalidade, cujos realizadores e parceiros são a Universidade Regional do Cariri - URCA, a Escola de Saberes de Barbalha - ESBA, o Geopark-Araripe, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e o Centro Pró-memória de Barbalha Josafá Magalhães.

Mais informações:
1ª exibição do documentário "Mulheres de Antônio", no II Simpósio Nacional sobre Patrimônio e Práticas Culturais. Hoje (7), às 17h, na Escolas de Saberes de Barbalha (R. Sen. Alencar, 368, Centro, Barbalha). Acesso gratuito.

Diário do Nordeste

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