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Fotógrafa lança livro e abre exposição em Fortaleza

por Roberta Souza - Repórter
Imagens presentes no livro "A Casa do Ser": detalhes da morada de dona Nica, interior de Minas Gerais, que pelas lentes de Ana Póvoas viraram uma narrativa visual sobre o universo rural do País
Ana Póvoas já teve várias casas. Carioca, mudou-se para Fortaleza aos 14 anos, onde viveu até os 26, graduando-se em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. Hoje reside em Pirenópolis, Goiás, mas nas andanças como fotógrafa, segue fazendo de diferentes lugares o seu próprio lar. No povoado de Furnas, a 15 km de sua residência, encontrou, em 2007, a casa de dona Nica, um lugar parecido com muito cantinho do Brasil rural. E, com uma câmera na mão, moldou a residência que ganha as páginas do livro e as paredes da exposição "A Casa do Ser", em cartaz na Imagem Brasil Galeria, a partir das 10h de hoje (21).
"O trabalho todinho é dentro de uma casa só e isso não foi intencional. Eu cheguei lá por um outro motivo, fui para colher bananas nanicas no sítio de dona Nica, e comecei a conviver com ela, até que levei minha câmera. Mas não porque iria fazer um trabalho fotográfico, depois que eu fui pensar a respeito do significado disso", contextualiza Ana Póvoas em entrevista. Objetos biográficos e espaços de composição da residência passaram a ser registrados cotidianamente, pelo menos uma vez por mês, durante 7 anos.
"A casa era de chão batido, panelas areadas ao redor do fogão de lenha, bancos de madeira; e talheres arrumados em série, sobre uma parede caiada de tempo. Telhas de barro à mostra. E água. Muita água. Uma luz quente e íntima. (...) Era um lugar simples, onde Nica morava com sua mãe, Dona Francisca", descreve a fotógrafa no fotolivro.
Toda essa simplicidade fica evidente nas imagens selecionadas. E essa é uma curiosidade no trabalho de Ana. "Às vezes a gente espera de um trabalho fotográfico algo tão grandioso. Me diga o que não foi fotografado ainda... Aí a pessoa quer fazer algo diferente, mas o que fiz foi apenas um registro do cotidiano", observa.
A aproximação daquela realidade com a de muitos habitantes das zonas rurais brasileiras, torna ainda mais sensível a apreciação da obra de Ana Póvoas. "As cores quentes, o fogão a lenha, a casa de roça... Tudo carrega uma memória que atende muita gente quando a vê", explica a fotógrafa.
Resultados
Logo que percebeu que estava diante de um material interessante para publicação, com mais de 130 fotos, Ana começou a apresentar o portfólio para alguns contatos. Conseguiu apoio institucional para publicar o livro com o Fundo de Arte e Cultura de Goiás, sendo premiada com o edital de fomento às Artes Visuais. E a partir dali ganhou também a ajuda do escritor e curador de fotografia Diógenes Moura.
Das mais de 130, Diógenes selecionou 45. "Participei o tempo inteiro e pra mim foi surpreendente, porque estou sempre me colocando no lugar de aprender como se faz. É meu primeiro livro e esse trabalho tomou uma força independente de mim. O Diógenes escolheu imagens que eu sequer tinha pensado, que ao meu ver poderia parecer repetitivas, mas que juntas ganharam todo um significado", evidencia.
Análise
De fato, o livro desloca quem o vê para o povoado de Furnas ou para qualquer outra casinha caipira, e o nível de detalhamento dos objetos e cantos da residência, recriam um espaço já frequentado, nem que seja pelo imaginário popular. Ainda que traga poucos retratos das moradoras, a presença invisível delas é perceptível, complementar.
"A Casa do Ser tem algo de sagrado. É o retrato de quatro mulhares: Dona Nica; sua mãe, Dona Francisca; sua irmã gêmea, Adelina; e Ana Póvoas. Apenas uma delas aparece no livro, pois um verdadeiro retrato não deixa rastros. Não se trata de uma questão de iluminar o outro. Tudo aqui é uma coisa só: os cantos da casa, as palavras não ditas, a faca segurando a trava da porta, Dona Nica apenas olhando", descreve Diógenes Moura no livro.
Esse olhar da dona da casa é outra curiosidade no trabalho. Segundo Ana, ela quase não identificou o próprio lar quando folheou o livro. "Ela não via a casa como eu via. O livro é um recorte. Ela vê a casa como um todo e o recorte quem viu fui eu. Aquela casa acaba sendo minha, eu que fiz pra mim", conclui a fotógrafa.
Mais informações:
Exposição "A Casa do Ser", de Ana Póvoas. Abertura no sábado, 21, às 10h, na Imagem Brasil Galeria (Rua Rocha Lima, 1707, Aldeota). 
Visitação até 2 de setembro. Contato: (85) 3261.0525

INFO
Diário do Nordeste

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