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Museu da Fotografia Fortaleza realiza oficina sobre conservação e preservação de acervos fotográficos

Teoria e prática serão abordadas na oficina, comandada por Juliana Buse ( Fotos: MARIANA PARENTE )
A necessidade de preservar a história é intrínseca ao ser humano. Pinturas rupestres são marcas do início dessa preocupação em deixar um registro de si, construir memórias, legados. Com o surgimento da prensa de Gutenberg a disseminação de informações aumentou, mas a durabilidade dos relatos não era efetiva - isso por conta do meio utilizado, o papel.
Muitos teóricos da comunicação, como Harold Adams Innis, da Escola Canadense, destacaram em seus estudos o controle social de grandes nações advindo da manutenção e da preservação de suas informações.
Pesquisadores da área vão mais longe e concluem que a existência de um grupo social se deve ao registro da memória. Por isso a importância de se resguardar arquivos. O Egito Antigo, assim como a Itália ou Grécia, são exemplos de nações que deixaram à mostra a força de suas tradições em monumentos até hoje existentes.
A impressão no papel pode até chegar a lugares distantes, mas não resiste ao tempo. No caso das imagens, como documentos, as fotografias impressas precisam passar por processos de manutenção e preservação para ganharem longevidade. É com esse mote que o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) oferece neste sábado (7) e domingo (8) a oficina de Conservação Preventiva de Acervos Fotográficos.
Ministrada pela professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Juliana Buse, atualmente doutoranda em Conservação e Restauro na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a atividade é dividida em dois momentos: uma parte teórica e outra prática. "No sábado vamos falar de toda a parte teórica do universo das fotografias, indo da identificação dos processos fotográficos até as condições de acondicionamento mais adequadas para cada espécie. Já no domingo vamos realizar atividades práticas de reconhecimento de alguns desses processos, de higienização e limpeza, e de construção de embalagens de acondicionamento", adianta a professora.
O conteúdo do curso conta com noções de estrutura e tipologia das fotografias, fatores de deterioração, controle ambiental e de pragas e práticas de manuseio, acondicionamento e higienização.
Interessados podem reservar uma vaga pelo e-mail: inscricao@museudafotografia.Com.Br. As inscrições acontecem presencialmente, sob o valor de R$ 150, somente em dinheiro. A oficina oferece materiais como papel mata borrão, trincha, peras de sopro, papel alcalino para confecção das embalagens de acondicionamento, lápis, borracha e luvas de algodão.
Fotos preservadas
Acervos fotográficos são comumente enquadrados no rol de "documentos gráficos" - documentos soltos, folders, livros etc. Buse discorda da classificação e opta por dar importância à preservação da fotografia de maneira mais individual.
Em geral, acervos de fotografias sofrem uma degradação diferente dos livros, já que esse tipo de imagem é composto por diferentes materiais, "isso sem nem entrar nos materiais responsáveis pela formação da imagem, como a gelatina ou a clara de ovo, o que vai exigir do conservador um conhecimento muito mais vasto - e específico - a respeito da interação desses materiais com o ambiente (e entre si)", explica Juliana Buse.
Modernidade
Na visão da facilitadora, a tecnologia, que poderia ser uma aliada na preservação, pode se tornar algo preocupante. "Até alguns anos atrás tínhamos algo palpável, a fotografia estava materializada em algum material que podíamos pegar, levar, trazer, etc. Hoje a maior parte delas é digital e, se por um lado isso é fantástico pela ampliação de acesso e visibilidade, por outro questionamos sua preservação em um universo sem barreiras, na nuvem", exemplifica.
Na perspectiva histórica, Juliana ressalta que os descendentes não conseguirão datar uma peça a partir da identificação do seu processo fotográfico, porque todos os processos são digitais.
A fotografia digital, produzida atualmente, diferentemente da analógica, é formada por bits e acessível apenas em equipamentos específicos. Fotos produzidas digitalmente têm a facilidade de serem copiadas e multiplicadas, entretanto, por mais que a cópia seja de alta qualidade, não poderá substituir seu original.
"Ainda que se faça a impressão dessas peças, o processo de impressão mais amplamente utilizado hoje, o chamado fineart, funciona muito bem em países ou ambientes onde a umidade relativa é mais baixa que a nossa. No nosso contexto de alta umidade, esse é um processo muito sensível a ataques de fungos e que tem seu tratamento dificultado pela baixa resistência a aplicação de métodos aquosos para eliminação deles", destaca Buse.
Conhecimento
A noção básica de preservação de imagens (fotos) se faz necessária até mesmo para profissionais que não estão ligados diretamente à área de conservação, como fotógrafos e curadores. Isto porque são eles que estão em contato direto com as coleções e, quando qualificados, podem identificar problemas em estágio inicial.
"Um conhecimento nesse sentido garantirá uma série de comportamentos benéficos para a conservação da coleção, como a observação da umidade relativa e temperatura, a necessidade de higienização das peças novas que chegam a uma coleção, a adoção de práticas de acondicionamento mais adequadas", ressalta a professora.
A aprendizagem pode ajudar também nas decisões de ordem gerencial, como escolha das molduras - no caso de exposições - treinamento da equipe que lida diretamente com as peças até a exposição à luz solar ou artificial.
Mais informações
Oficina de Conservação Preventiva de Acervos Fotográficos. Neste sábado (7) e domingo (8), das 13h às 17h. No Museu da Fotografia Fortaleza (Rua Frederico Borges, 545 - Varjota). Inscrições: R$150 (somente em dinheiro e presencial). Contato: (85) 3017.3661
Diário do Nordeste

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