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Madonna chega aos 60 anos como uma artista única

por Antônio Laudenir - Repórter
Poucas criaturas no universo da arte conseguiram estabelecer diante de si um séquito de admiradores tão diverso e complexo quanto Madonna Louise Ciccone. Refletir sobre a relevância dessa mulher na cultura popular das últimas quatro décadas tem sido tarefa árdua e prazerosa para quem, de alguma forma, teve a vida sacudida por este ícone.
Se existe maneira melhor de compreender como os tijolos deste legado foram erguidos, uma fórmula mais direta passaria por responder a seguinte provocação: qual Madonna você guarda dentro de si?
Assim como as muitas fases artísticas e pessoais enfrentadas ao longo da vida - ao longo das quais conseguiu estabelecer uma carreira repleta de reviravoltas, rupturas, polêmicas e dissolvições dos valores vigentes - Madonna protagoniza outra mudança ao se firmar sexagenária e ainda relevante dentro do próprio universo que estabeleceu. No aniversário da "Rainha do Pop", sua influência, próxima do quase fervor religioso, permanece intacta e quente na trindade contemporânea composta por mídia, entretenimento e sociedade.
Como bem prefere estabelecer o jornalista e biógrafo Stephen Thomas Erlewine, depois que as estrelas atingem certo nível, fica até fácil esquecer por que elas ficaram famosas e mantemos as atenções apenas em suas personas. A hoje diva disparou para o sucesso tão rapidamente em 1984 que esse efeito obscureceu a maioria de suas virtudes musicais.
Assim, defende o editor sênior do Allmusic, apreciar esta música tornou-se ainda mais difícil à medida que a década passava, pois discutir o estilo de vida da cantora tornou-se mais comum. "No entanto, uma das maiores realizações de Madonna é como ela manipulou a mídia e o público com sua música, seus vídeos, sua publicidade e sua sexualidade. Indiscutivelmente, Madonna foi a primeira estrela pop feminina a ter controle total de sua música e imagem", argumenta.
Santa
Essa jornada passou a ser pavimentada quando Louise Ciccone mudou-se do estado natal Michigan para Nova York em 1977. Como muitas jovens que anos depois enxergariam nela um modelo de mudança e constestamento, Madonna tinha o sonho de protagonizar um mundo diferente e essa mutação surgiu com a ideia de tornar-se bailarina de balé. Estudou com o coreógrafo Alvin Ailey (1931-1989), atuou como modelo e, após alguns testes, tornou-se a nova aposta musical para os produtores de Patrick Hernandez, voz do hit da época, a disco "Born to Be Alive".
Mas a jovem preferiu pisar além do território disco e concentrou forças em projetos menores, como o duo pop "Breakfast Club" e o "Emmy". Por esse instante, uma demo tape caiu nas mãos do DJ e produtor Mark Kamins (1955- 2013). Ele trabalhou no primeiro single da cantora, "Everybody", sucesso de dança no final de 1982. Seguiram-se "Physical Attraction" e "Holiday" (1983), este último produzido por Jellybean Benitez.
O debut homônimo, capitaneado por "Holiday", chegou ao Top 40 no mês seguinte e a faixa "Borderline" iniciou a sequência de 17 sucessos nas rádios. Outra joia dessa fase, "Lucky Star" (canção preferida de Tony Dente de Bala em "Snatch - Porcos e Diamantes") ampliava ainda mais o rosto e voz de Madonna na indústria fonográfica. Ela, também atriz, despontava em Hollywood com "Procura-se Susan Desesperadamente". O mundo da cantora ampliava-se como um redemoinho que atingia a publicidade, a sexualidade, a construção de identidade e da imagem de um ícone popular de massa.
O teórico Douglas Kellner, na obra "A Cultura da Mídia" (1995) busca um entendimento do fenômeno Madonna através de observações ambientadas em diferentes fases da artista, compreendidas entre as décadas de 1980 e 1990. A primeira, discute a imagem de forte apelo sexual dos primeiros clipes, noa quais a cantora desafiou tabus nas relações da sexualidade e se pontuou como "transgressora das normas estabelecidas".
Diário do Nordeste

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