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O MEDO E O TERROR

Grecianny Carvalho Cordeiro*

Na mitologia grega, Afrodite, a deusa mais bela, capaz de envolver todos os mortais e quase todos os imortais com seu cinturão mágico, a instilar a paixão e o amor, era casada com o deus mais feio, Hefesto.
Mas Afrodite era apaixonada pelo deus mais sanguinário, Ares, o deus da guerra, não muito bem quisto entre seus pares, nem mesmo pelo seu próprio pai, Zeus.
Afrodite e Ares mantiveram um tórrido caso de amor, gerando filhos como a Harmonia e também os gêmeos Fobos (Medo) e Deimos (Terror) que, tão sanguinários quanto o próprio pai, sempre o acompanhavam nas batalhas, incitando as carnificinas.
Nos tempos modernos, mais precisamente nos dias atuais, Fobos e Deimos estão mais presentes do que imaginamos, notadamente no estado do Ceará, notabilizado pelas facções do crime organizado que aqui mandam, dentro e fora dos presídios: PCC, GDE e Comando Vermelho.
O fato não é novo. Aliás, é relativamente velho.
Ônibus incendiados. Prédios públicos atacados, inclusive delegacias. Coquetéis Molotov. Tiros.
Fobos e Deimos em plena ação, incentivando o pânico, estimulando o terror.
A explicação das autoridades cearenses não poderia ser diferente: tais atos foram represálias à morte de criminosos em troca de tiros com a polícia.
O Estado foi atuante, operante, diligente, eficaz, está cumprindo seu papel.
Os criminosos, contrariados, reagiram à ação policial.
Tudo bem minimizado.
E assim vamos levando a vida.
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À mercê do capricho das facções criminosas que, por algum motivo, por alguma razão, resolvem espalhar o terror e o medo na população cearense.
À mercê de um Estado incompetente e inoperante, que há muito não tem a menor noção de como lidar com a criminalidade comum, que dirá com a criminalidade organizada.
E nós, cidadãos, mais vulneráveis que nunca, sequer sabemos o que realmente está acontecendo, muito menos quando ou onde acontecerão tais ataques, cabendo-nos tão somente rezar para sermos dignos da proteção de Deus, pois as autoridades há muito são incapazes de garantir a ordem, de cumprir com a missão constitucional e legal que lhes é conferida.
Enquanto isso, Fobos e Deimos ganham cada vez mais força e espaço em um Estado perdido em retóricas, atabalhoado em ações ineficazes, acuado por um poder paralelo intimidante e intimidador, contra o qual não conseguem enfrentar ou confrontar, receosos de instalar bloqueadores de celular em virtude da vindita prometida.
Fobos e Deimos estão a pleno vapor.
*Promotora de Justiça

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