Norma gramatical 'faz parecer que todos são homens, e qualquer outro gênero é um desvio', afirma Ann Leckie, autora da ficção científica 'Justiça Ancilar' André Cáceres, O Estado de S.Paulo Justiça Ancilar , da escritora americana Ann Leckie, é um romance no qual o gênero das personagens é totalmente irrelevante – e isso é paradoxalmente sua característica mais importante. Narrada pela protagonista Breq (referida arbitrariamente no feminino), a história é uma vendetta sem grandes inovações narrativas, a não ser por uma peculiaridade estética: é traduzida do radchaai, idioma fictício em que não existe marcação de gênero. Essa propriedade gramatical escancara como a língua influencia a percepção de mundo do leitor e as expectativas de papéis sociais atribuídos a mulheres e homens na literatura. Ao usar o feminino como padrão, Leckie quebra os pressupostos do leitor constantemente: “Ela devia ser macho, a julgar pelos padrões labirínticos do quadricul
Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza