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A imparcialidade de Dom Helder e do Papa Francisco


Padre Geovane Saraiva*
Talhado para coisas mais elevadas, Dom Helder Câmara jamais se acostumou com a miséria, a dor e o sofrimento humano; não os via como normal e natural esse estado de coisas, porque machuca o rosto amoroso de Deus e contraria sua santa vontade. Por isso mesmo decidiu, com grande obstinação, ternura e a coragem de pastor, levantar sua voz e lutar contra essa realidade da mais alta relevância, até então vista com a maior naturalidade, num ardente desejo de minimizá-la e mesmo derrotá-la.

Quanta simplicidade, humildade e abertura, ao elevar seus louvores, preces e clamores ao Deus Criador e Pai! Sempre à luz da palavra divina, na mais absoluta confiança, sem se afastar da pedagogia de que lhe era peculiar, na mais profunda atitude de imparcialidade, voltava-se para um Deus justo, acolhedor e terno, no dizer do Livro Sagrado: “Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas” (Eclo 35, 15-17).

Ao assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife em abril de 1964, na sua mensagem, na tomada de posse, estas foram, entre outras, as palavras do pastor dos empobrecidos: "Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar especial no coração do bispo". O anúncio do Evangelho foi para ele, ao mesmo tempo, candente e misericordioso, apaixonada sensata. Na hipótese de usar de parcialidade, sempre era no sentido de favorecer os menos favorecidos, os “sem voz e sem vez”.

Não posso jamais esquecer-me do que está na minha mente e no coração, no sentido de enriquecer este nosso texto: a sensibilidade e o não indiferentismo do Papa Francisco, na paixão de muitos irmãos e irmãs, na sua afirmação, no início do seu pontificado, dia 16/03/2013: "como eu desejo uma Igreja pobre para os pobres" e explicou num encontro com os jornalistas, que escolheu o nome de São Francisco de Assis porque este era "um homem da pobreza e um homem da paz" – Um homem que soube dialogar com todas as realidades do seu tempo. Portanto, um irmão planetário no sentido mais radical e mais profundo da palavra.

Bem como as palavras encantadoras do querido Papa Francisco, do dia 16 de setembro de 2013, no encontro com clero de Roma, sua diocese, porque o Papa é o bispo de Roma, ao dizer com todas as letras: “Nós, bispos, devemos está próximos dos sacerdotes, devemos ser caridosos com o próximo e os mais próximos são os sacerdotes. Os mais próximos do bispo são os sacerdotes (aplausos)! Vale também o contrário (risos e aplausos)! O mais próximo dos padres deve ser o bispo. A caridade para com o próximo, o mais próximo é o meu bispo. O bispo deve dizer: os mais próximos são os meus padres (...)”.

Ao celebrar 25 anos de ministério sacerdotal (14/08/2013), motivo de agradecimento ao bom Deus pelo nosso humilde trabalho e realizações em favor do Reino de Deus, na nossa Arquidiocese de Fortaleza, coloquei também como algo relevante, a exemplo de Dom Helder e agora de Francisco, o Sumo Pontífice, nossa humilde lavra literária, nos livros já publicados e, como colunista do Jornal O Povo de Fortaleza, além de ser articulista das revistas digitais: www.domtotal.com, www.revistamissoes.org.br, www.catolicanet.com.br, entre outras.

Não posso deixar de registrar uma especial mensagem, que muito me honrou, entre muitas, do querido Arcebispo Metropolitano de Brasília, Dom Sergio da Rocha, na sua incomensurável generosidade, ao dizer-me: “Caro Padre Geovane Saraiva, estive rezando especialmente por você, por ocasião do seu Jubileu Sacerdotal. Porém, naquele dia não consegui me comunicar por telefone com você. Somente nestes dias, consegui novamente o seu e-mail com Dona Geralda, pois mudanças no provedor me fizeram perder a lista de contatos. Desejo que você, pela graça de Deus, seja sempre fiel e, por isso, feliz, em sua vida e ministério sacerdotal. Deus o abençoe sempre. Abraço! +Sergio da Rocha”.

Diversos amigos e colegas, tendo por base a comunhão afetiva e efetiva, perguntaram-me pela presença do nosso Arcebispo de Fortaleza, Dom José Antônio e, se ele tinha enviado uma mensagem alusiva ao meu jubileu, para que fosse lida no final da celebração, dentre os quais, Padre José Maria Cavalcante Costa, Padre Evaristo Marcos, Padre José Fernandes de Oliveira, Padre Francisco de Assis Apolônio. Compreendi essa preocupação como um gesto grandioso e inenarrável, desejando eles enaltecer ainda mais a celebração eucarística dos meus 25 anos de vida e ministério sacerdotal, na palavra do pastor desta Igreja de Fortaleza. Aprendamos irmãos e irmãs, do cidadão planetário e artesão da paz, Dom Helder Câmara, com sua voz profética quanto imparcial, consciente de que a prece do humilde atravessa as nuvens e chega aos céus; também do Papa Francisco, na sua assertiva: “Nós bispos devemos está próximos dos sacerdotes”.

Concluo nosso pequeno artigo com as palavras citadas pelo Romano Pontífice, sobre a mulher servidora e imparcial por excelência, Maria Mãe de Deus e Senhora Nossa, no dia 16 de maio de 2013: “Mãe da beleza, que floresce da fidelidade ao trabalho cotidiano, despertai-nos da inércia e da indolência, da mesquinhez e do derrotismo. Reveste os Pastores daquela compaixão que unifica e integra: descobriremos a alegria de uma Igreja serva, humilde e fraterna”. Assim seja!



*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, articulista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com

Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos);
"25 Anos sobre Águas Sagradas (coletânea de artigos e fotos).

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