Pular para o conteúdo principal

Francisco Chora e acaricia com as lágrimas

Padre Geovane Saraiva*

"Quem ama a sabedoria ama a vida; os que a buscarem de manhã, bem cedo, ficarão cheios de alegria" (Ec 4,12). No mês de setembro, mês da Bíblia, somos convidados, em um esforço conjunto, a nos convencer da Palavra de Deus, no seu valor salvífico, como sabedoria indispensável à nossa realização, mas que também sejamos provocados a realizar ensaios de cunho humanitário, dentro de um solidarismo cristão. Nesse mesmo sentido, o Papa Francisco em 04/05/2014 disse assim: “Há sempre uma Palavra de Deus que nos dá orientação depois dos nossos escorregos e, através dos nossos cansaços e desilusões, há sempre um Pão partilhado que nos faz seguir adiante no caminho; quando você está triste, pegue a Palavra de Deus. Quando você está para baixo, pegue a Palavra de Deus e vá à Missa no domingo fazer a Comunhão, participar do mistério de Jesus”.

É importante sempre ter em mente a fé e a esperança vivenciadas pelo povo de Deus no princípio, tendo a Palavra de Deus no seu próprio meio como algo que aquecia e direcionava a vida, ao falar e recordar dos mais diversificados acontecimentos, durante tempos, até se transformar no Livro Sagrado. O Sumo Pontífice, na oração do Regina Caeli, no terceiro domingo de Páscoa, entra no contexto do desânimo, vivido pelos discípulos de Emaús: “Ao longo do caminho, Jesus ressuscitado aproximou-se deles, mas eles não o reconheceram. Vendo-os tão tristes, Ele primeiro ajudou-os a entender que a paixão e a morte do Messias estavam previstas no projeto de Deus e preanunciadas nas Sagradas Escrituras; assim reacende um fogo de esperança no coração deles”. 

Nossa missão, decorrente do batismo, é para que sejamos pessoas marcadas pela graça de Deus, no anúncio e no testemunho, com a tarefa de transformar a realidade, marcada pelo pecado e por todo tipo contradição, no dever de transformá-la em uma nova civilização e fermentá-la, apresentando ao mundo sinais de esperança e de solidariedade, não através de belas palavras ou de pregações bonitas e milagrosas, mas, acima de tudo, pela prática e pelo testemunho. Deus leva em conta a mística, bem como o testemunho e o modo coerente de viver.

Jesus de Nazaré instaurou o reino através da pregação ou do anúncio do Evangelho, missão que mais tarde confiou aos apóstolos, quando disse: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (cf. Mc 16, 15), confiando-lhes o que Ele mesmo fizera. É claro que os apóstolos de hoje são, em primeiro lugar, os ministros ordenados, com o dever de pregar ou anunciar a Boa Nova da salvação, consciente de que tal tarefa tem uma importância incomensurável, além de pesada e exigente, que seja realizada, imbuído do espírito de fé, confiança e convicção. A Igreja chama o sacerdote, em nome de Cristo, para uma árdua missão, a de ser operário na vinha do Senhor, esperando do mesmo um trabalho responsável e bem feito, com limpidez, honestidade e sem fingimento na transmissão da Palavra Divina, a qual sempre quer dizer-lhe de não esquecer, em circunstância alguma, que o Espírito do Senhor está sobre ele. E mais ainda: que, pelo mesmo Espírito, foi consagrado e enviado para evangelizar os pobres, sarar as feridas do coração, anunciar aos presos a redenção, aos cegos a recuperação da vista, a liberdade aos oprimidos, além de publicar o ano da graça do Senhor (cf. Lc 4, 19). 

A Palavra de Deus é eterna, viva e eficaz e, por isso mesmo, nos salva, liberta e transforma em criaturas novas, inspiradas e inspiradoras, colocando-nos diante da realidade de um novo céu e uma nova terra, da nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido, fazendo novas todas as coisas (cf. Ap 21, 1-5), a partir do Cristo, na cruz, que, segundo o Papa Francisco, nos ensina a amar até mesmo aqueles que não nos amam. “Senhor, trata com bondade este teu servo, para que eu possa continuar vivo e obedecer à tua palavra!” (cf. Sl 119, 17).

Aquele que recebeu a missão de anunciar o Evangelho deveria ter o mesmo espírito de Jesus, de acordo com o profeta Isaías: “Ele assumiu as nossas dores e carregou as nossas enfermidades” (cf. Is, 53, 4); espírito este profundamente enraizado no Papa Francisco, ao comover-se e chorar pelos moradores de uma favela desocupada em Buenos Aires, através da mensagem dirigida ao amigo Gustavo Vera, fundador da ONG "La Alameda", divulgado em 27 de agosto de 2014 pela agência católica SIR. Jorge Bergoglio expressa comoção com a desocupação ocorrida há três dias. “Acabei de ler sua carta e sua última frase resume os meus sentimentos" – escreveu Francisco: "Parecia Gaza e então eu comecei a chorar". Quase 700 famílias viviam no local em condições precárias, ocupação batizada com seu nome, "Papa Francisco".  “Estou perto destas pessoas, rezo e peço a Deus que não as deixem sozinhas, sobretudo, mães com crianças, que as acaricio com minhas lágrimas”.

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso -geovanesaraiva@gmail.com

Comentários