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A CORAGEM DA TERNURA

Cidade do Vaticano (RV) – Estamos vivendo os primeiros vagidos do ano novo. As festas passaram e ficou o sabor do encontro familiar, das viagens, quem sabe da praia; mas também para muitos foi somente mais uma virada de ano, marcada pela tristeza e a falta de esperança. Nossa realidade, abaixo do Equador, com o calor desértico que tem feito nestes dias, muitas vezes nos deixam distantes da realidade que inteiras populações estão vivendo, abandonadas a si mesmas e com grito de dor entalado na garganta. Acima do Equador estamos vivendo o inverno, o frio, a neve, o gelo, como é, em muitos casos, o coração de incontáveis seres humanos. Nosso pensamento vai para aquelas pessoas, povos, nações que passam por situações dolorosas que experimentam neste momento. E isso está se verificando em várias partes do planeta.
Ouvimos nos últimos dias da boca do Papa Francisco tantos apelos, reflexões e chamadas de atenção que já valeriam para todo o ano que apenas começou. Mas como o Papa é pai, avô, pastor, pároco, irmão, ele não se cansa e não se cansará de nos chamar a atenção para o drama vivido por milhões de pessoas em todos os quadrantes do planeta. Nas suas mensagens seja de Natal, seja de Ano Novo, tocou o nosso brio de seres humanos, e nos convocou a uma atitude, atitude antes de tudo de Filhos de Deus. Devemos, ou melhor, somos obrigados olhar o nosso próximo como nosso semelhante, como nosso irmão. Francisco também pediu insistentemente a paz para o mundo e, no dia de Natal, invocou esse dom.
Paz, antes de tudo, para as crianças que muitas vezes são “vítimas da violência”, feitas objeto de compra e venda, como uma simples mercadoria. Francisco não se esqueceu do drama dos pequenos do Paquistão, assassinados dentro de uma escola, das pequenas vítimas de ebola na Libéria, Serra Leoa e Guiné. Sua voz – diria triste como seu coração pelo drama vivido pelas crianças – foi também em direção àquelas que são maltratadas, vítimas das guerras, das perseguições, dos abusos, das explorações sob os nossos olhos e sob o nosso “silêncio cúmplice”: não se esqueceu também daquelas que não puderam ver a luz da vida.
Um dilema atroz que nos faz interrogar em um mundo que se diz civilizado, mas que contempla a existência, como dois mil anos atrás, de novos Herodes e de sua espada. O silêncio dos inocentes grita sob a mão de tantos novos Herodes. Quanto sangue já escorreu e banhou a terra na total indiferença da humanidade? Paira em nossos dias – como afirmou Francisco – a sombra dos atuais Herodes. Quantas lágrimas se misturam às do Menino Jesus!
O nosso olhar está repleto de imagens dessas lágrimas. Não precisamos ir para longe da nossa realidade para poder se banhar com elas, basta olhar ao nosso redor e tocar com a mão e partilhar o sofrimento do irmão que, com seu rosto molhado e voz entalada na garganta, pede ajuda, pede para existir, pede esperança.
Nosso olhar se fixa também na dor de mães e pais cristãos do Iraque, da Síria, do Oriente Médio que vivem em acampamentos improvisados à espera de poder – quem sabe – um dia retornar às suas casas de onde foram expulsos por integralistas; eles também são vítimas da irracionalidade humana.
Podemos notar nestes breves pensamentos quanta dor e quanta necessidade de paz, amor, ternura tem o homem de hoje. Iniciamos um novo ano e esperamos que a ternura de Deus, tão recordada por Francisco na Noite de Natal, abrace todos e que todos se deixem abraçar por ela. Com coragem aproveitemos o novo ano para acolher, mesmo em situações difíceis, a ternura de um Deus que está ao nosso lado, abandonando as nossas arrogâncias e soberbas para encontrar o real sentido de nossas existências. Jamais devemos esquecer que o maior dos homens nasceu em uma gruta e seu berço foi uma manjedoura. Uma mensagem que dura mais de dois mil anos e ilumina toda humanidade. (Silvonei José)
Rádio do Vaticano

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