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Papa fará revisão final de encíclica ecológica

Francisco dedicará a próxima semana para a revisão final do texto.

Por Luis Badilla e Alessandro Notarnicola
O papa Francisco terá entre segunda-feira (23) e próximo sábado (28) uma semana particular. O Santo Padre dedicará vários dias para a revisão final e conclusiva do texto da sua nova encíclica, a segunda, dedicada ao ambiente e à proteção da Criação.
Concretamente, na quinta-feira, 15 de janeiro, na coletiva de imprensa no avião que o levava de Colombo (Sri Lanka) a Manila (Filipinas), respondendo a uma pergunta do jornalista britânico Gerard O'Connell, o pontífice disse: "Vou tomar uma semana de março, inteira, para terminá-la".
Depois, acrescentou: "Acredito que, no fim de março, ela estará acabada e irá para as traduções. Penso que, se o trabalho de tradução for bem – Dom Becciu está me ouvindo: ele deve ajudar nisso –, se for bem, em junho, julho, ela poderá sair. O importante é que haja um pouco de tempo entre o lançamento da encíclica e o encontro em Paris, para que seja uma contribuição. O encontro no Peru não foi grande coisa. Decepcionou-me a falta de coragem: pararam em um certo ponto. Esperemos que em Paris sejam mais corajosos os representantes para ir em frente nisso".
O papa Francisco quis esclarecer, depois, sobre a encíclica em elaboração: "O primeiro esboço foi feito pelo cardeal Turkson, com a sua equipe. Depois, eu, com a ajuda de alguns, tomei esse esboço e trabalhei nele. Depois, com alguns teólogos, fiz um terceiro esboço e enviei uma cópia para a Congregação para a Doutrina da Fé, para a Segunda Seção da Secretaria de Estado e ao teólogo da Casa Pontifícia, para que estudassem bem para que eu não dissesse 'bobagens'. Três semanas atrás, eu recebi as respostas, algumas grossas assim, mas todas construtivas".
Gerald O'Connell, além de pedir ao papa notícias sobre o estado da elaboração da encíclica, fez outras duas perguntas: uma sobre as mudanças climáticas, devidas principalmente à obra do ser humano, à sua falta de cuidado com a natureza; e outra sobre a insistência de Francisco na cooperação entre religiões e, por isso, se ele tinha a intenção de convidar as outras religiões para se reunirem para enfrentar esse problema.
Eis as respostas do papa:
"Quanto à primeira pergunta, o senhor disse uma palavra que me dispensa um esclarecimento: 'principalmente'. Eu não sei totalmente, mas, principalmente, em grande parte, é o homem que maltrata a natureza, continuamente. Nós nos apoderamos um pouco da natureza, da irmã terra, da mãe terra. Lembro-me – vocês já ouviram isto – daquilo que um velho agricultor me disse uma vez: 'Deus perdoa sempre, nós – os homens – perdoamos algumas vezes, a natureza não perdoa nunca'. Se tu a maltratas, ela faz o mesmo, por sua vez. Creio que nós exploramos demais a natureza; os desmatamentos, por exemplo. Recordo em Aparecida: naquele tempo, eu não entendia bem esse problema e, quando ouvia os bispos brasileiros falarem do desmatamento da Amazônia, não conseguia entender bem.
A Amazônia é um pulmão do mundo. Depois, cinco anos atrás, com uma comissão dos direitos humanos, fiz um recurso à Suprema Corte da Argentina para parar no norte do país, na zona norte de Salta, Tartagal, ao menos temporariamente, um terrível desmatamento. Esse é um aspecto.
Outro são as monoculturas. Por exemplo, os agricultores sabem que, se você cultivar o milho durante três anos, depois você deve parar e fazer outro cultivo um ou dois anos, para nitrogenizar a terra, para que a terra cresça. Na Argentina, por exemplo, cultiva-se apenas soja e mais soja até que a terra se esgote. Nem todos fazem isso, mas é um exemplo entre muitos outros. Creio que o homem foi longe demais. Hoje, graças a Deus, levantam-se vozes, tantas, tantas que falam disso. Neste momento, gostaria de recordar o meu amado irmão Bartolomeu, que há anos prega sobre isto. E eu li muitas coisas dele para preparar essa encíclica. Posso voltar sobre isso, mas não quero me alongar.
Digo só isto: Guardini tem uma palavra que explica bastante. Ele diz: a segunda forma de incultura é a má. A primeira é a incultura que recebemos com a criação para torná-la cultura. Mas, quando você se apodera demais e vai além, essa cultura vira-se contra você. Pensemos em Hiroshima. Cria-se uma incultura, que é a segunda."
Sobre a cooperação das religiões e as questões ambientais, o Santo Padre respondeu:
"Quanto à terceira pergunta, creio que o diálogo entre as religiões é importante sobre esse ponto. As outras religiões têm uma boa visão. Inclusive sobre esse ponto, há um acordo para se ter a mesma visão. Ainda não na encíclica. De fato, eu falei com algumas pessoas de outras religiões sobre o tema e sei que o cardeal Turkson também fez isso, e ao menos dois teólogos também o fizeram: esse foi o caminho. A encíclica não será uma declaração conjunta. Os encontros virão depois."
Il Sismografo, 20-03-2015.
*Tradução de Moisés Sbardelotto.

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