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LAUDATO SI - FRANCISCO E O IRMÃO MILHO

2016-05-27 Rádio Vaticana


Laudato Si - Francisco e o Irmão Milho


FRANCISCO Paz e bem, irmãs e irmãos!… Aqui vos fala Francisco de Assis. Quando eu vivi na Itália ainda faltavam uns três séculos para que soubéssemos desses lugares onde hoje cheguei. Estou no vale de Tehuacán, no México, rodeado de uma verde plantação que nunca tinha visto antes na minha vida…

MILHO  Você está em uma milpa, irmão Francisco, está na terra onde eu nasci milhares e milhares de anos antes que você nascesse. Sou muito mais velho que você!

FRANCISCO Quem está falando?

MILHO  Eu, o milho, esse é o meu nome, embora também me chamem choclo e elote.

FRANCISCO  Louvado sejas, meu Deus… Posso falar também com as plantas?

MILHO Por acaso você não é um santo? Dizem que os santos podem tudo e…

FRANCISCO Bah, essas são lendas. Mas não discutamos. Conversemos. Diga-me, irmão Milho, esses pequenos dentes da cor do Sol que vejo entre tuas folhas, devem ser teus frutos… Dão alimento às criaturas de Deus?

MILHO  Pois sim, comigo fazem tortilhas, pamonhas, rosquinhas, atoles, curau,              pupusas, arepas, tacos, canjica, chicha…

FRANCISCO Tanto alimento sai de ti?

MILHO  O que não fazem com meus grãos maravilhosos? Mas ainda fizeram comigo algo mais importante. Não sei se você sabe… Amassando milho, Deus fez homens e mulheres.

FRANCISCO  Não te entendo.

MILHO  Você deve saber que no princípio…

MULHER … os Criadores, Coração do Céu e Coração da Terra, Ele e Ela, fizeram de milho a quatro homens e a quatro mulheres. Assim ficou escrito no Popol Vuh, livro sagrado.

FRANCISCO Que estranho… Para mim ensinaram que no princípio…

HOMEM …. o Criador, modelando barro, fez o primeiro homem e a primeira mulher. E assim ficou escrito no Genesis, livro sagrado.

MILHO  E qual desses dois livros sagrados dirá a verdade, irmão Francisco?

FRANCISCO Isso não tem tanta importância… O que me conta que o bom Deus fez nestas terras me parece maravilhoso. Gente de milho! Que beleza!

MILHO  Pois o que quero te contar agora já não te parecerá uma belezura, mas uma diabrura.

FRANCISCO Estou te ouvindo, irmão Milho.

MILHO Acuso a Monsanto, os acuso, os acuso, estão nos sacaneando!

FRANCISCO Mas… a que santo te refere? Explique...

MILHO  Monsanto é uma empresa poderosíssima e ambiciosa, que vende sementes por todo o mundo. A conhecem como a multinacional do veneno.

FRANCISCO Sim, assim a chamam, essa tal Monsanto parece ser mais cruel que o exército da Quinta Cruzada.

MILHO  Mas não é a única, há outras, Syngenta, DuPont, Bayer... mas essa, a Monsanto, é a que mais sacaneia por aqui. Está acabando com a grande família do bom milho.

EMPRESÁRIO Oh, my God, que fucking esse homem vestido com túnica velha falando com uma espiga!... Se nossas sementes multiplicam os pães, são um autêntico milagre! Com nossa biotecnologia, as colheitas rendem agora cem vezes mais que suas fucking sementes nativas!

FRANCISCO        Esse homem fala como Satanás quando tentou Jesus… Mas ainda não entendo o que fazem estes “sacanas”... se diz assim, irmão Milho?

MILHO  Assim mesmo, irmão Francisco. Ouça. Explico-te. A empresa desse homem inventou um milho que chamam trans-gê-ni-co.

FRANCISCO Palavra estranha… O que significa?

MILHO  É um milho ao qual lhe mudaram a alma. Esse milho leva dentro “algo” estranho que torna estéreis nossas sementes. 

FRANCISCO Sementes estéreis?

MILHO  Sim, só servem para semeá-las uma vez, para uma só colheita.

FRANCISCO E por que fazem isso?

MILHO  Porque assim os camponeses são obrigados a comprar da Monsanto, a cada ano, essas sementes, sementes sem alma... 

FRANCISCO Sem alma e com dono. 

MILHO  Na colheita seguinte, os camponeses ficam enforcados com as dividas. Mas tem mais, Francisco. Essas sementes não dão fruto se não se adubar e não pulverizar com os pesticidas da própria empresa.

FRANCISCO Ou seja, que primeiro te adoecem e depois te vendem o remédio. Essa ao invés de Monsanto deve chamar-se Mondiabo.

MILHO  Sacou, Francisco. E esses pesticidas, especialmente um que chamam glifosato, envenenam o solo. Infiltram nos poços, nos rios. Envenenam também o ar e os pulmões de quem respira esse ar. E sabe a quem fazem mais dano?... Às abelhas!

LOCUTOR É alarmante o desaparecimento de abelhas em todo mundo!

LOCUTORA Milhões de abelhas morrem ao aproximarem-se do pólen das plantas transgênicas.

LOCUTOR O glifosato e outros inseticidas com que regam essas plantas atacam o sistema nervoso das abelhas. Elas perdem a orientação da colmeia e morrem no caminho.

LOCUTORA Três de cada quatro plantas que alimentam a Humanidade se reproduzem pela polinização das abelhas.

LOCUTOR Se as abelhas desaparecerem da Terra, só comeremos alimentos transgênicos.

FRANCISCO E quando a gente comer esses alimentos sem alma acontecerá o mesmo que ocorre com as abelhas?

CIENTISTA  Embora não haja comprovação científica sobre o dano que os alimentos transgênicos podem causar, há riscos que ainda não conhecemos. É necessário um debate amplo pondo sobre a mesa toda a informação e chamando as coisas por seu nome. Isso as empresas não fazem.

CIENTISTA A cidadania tem direito de saber o que come.

FRANCISCO Estou vendo que esse milho sem alma é na verdade uma praga…

MILHO  É isso aí, compadre Francisco! Você sacou tudo. O milho transgênico é isso: uma praga que vai acabando com as sementes nativas. E digo eu: que mundo vocês vão deixar para quem virá depois? Porque... sem milho não há país!

FRANCISCO Agora compreendo o muito que te sacanearam, irmão Milho... Vamos, diga comigo: Laudato si, Monsanto não!

AMBOS Laudato si, Monsanto não! 

Diz o Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si, Louvado Sejas:
                        

Embora não disponhamos de provas definitivas acerca do dano que poderiam causar os cereais transgénicos aos seres humanos e apesar de, nalgumas regiões, a sua utilização ter produzido um crescimento económico que contribuiu para resolver determinados problemas, há dificuldades importantes que não devem ser minimizadas. Em muitos lugares, na sequência da introdução destas culturas, constata-se uma concentração de terras produtivas nas mãos de poucos, devido ao “progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, em consequência da perda das terras cultivadas, se viram obrigados a retirar-se da produção direta”. Os mais frágeis deles tornam-se trabalhadores precários, e muitos assalariados agrícolas acabam por emigrar para miseráveis aglomerados das cidades. A expansão destas culturas destrói a complexa trama dos ecossistemas, diminui a diversidade na produção e afeta o presente ou o futuro das economias regionais. Em vários países, nota-se uma tendência para o desenvolvimento de oligopólios na produção de sementes e outros produtos necessários para o cultivo, e a dependência agrava-se quando se pensa na produção de sementes estéreis que acabam por obrigar os agricultores a comprá-las às empresas produtoras. (Laudato Si 134)

E disse o Papa Francisco no Encontro com os Movimentos Populares na Bolívia:

O novo colonialismo adota diversas fachadas. Às vezes, é o poder anônimo do ídolo dinheiro: corporações, prestamistas, alguns tratados denominados “de livre comércio” e a imposição de medidas de “austeridade” que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres.
                           

PERGUNTAS PARA O DEBATE

1- Em teu país se plantam transgênicos? Você sabe se os está comendo?

2- Os movimentos sociais protestam contra os transgênicos? Com que argumentos?

3- Como poderíamos boicotar empresas como Monsanto?

(from Vatican Radio)

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