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COMISSÃO DE ÉTICA APROVA RELATÓRIO SOBRE CASSAÇÃO DO MANDATO DE JARDEL

Decisão de cassar mandato do deputado estadual foi por unanimidade.
Parlamentar foi denunciado pelo Ministério Público em fevereiro deste ano.

Do G1 RS
Reunião da Comissão de Ética deliberou sobre Caso Jardel (Foto: Nathalia Fruet/RBS TV)Reunião da Comissão de Ética deliberou sobre Caso Jardel (Foto: Nathalia Fruet/RBS TV)
Em reunião nesta quarta-feira (8), a Comissão de Ética Parlamentar da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul decidiu pela cassação do mandato do deputado Mário Jardel (PSD). Presidida pelo deputado Juliano Roso (PCdoB), a comissão se reuniu ainda pela manhã para a leitura e apreciação do parecer do deputado Sérgio Turra (PP), relator da subcomissão que elaborou o relatório, mesmo sem ouvir o depoimento do deputado.
O parlamentar não compareceu à reunião desta quarta (8) e em nenhuma das três audiências realizadas anteriormente. Ele segue em licença médica por depressão. O afastamento dele vai até julho.
Durante a reunião, o advogado Nedy Marques explicou que Jardel não compareceu justamente pelo afastamento. Segundo ele, isso teria cerceado o direito de defesa de seu cliente, que não poderia comparecer por causa dos alegados problemas de saúde.
Entretanto, a Procuradoria da Assembleia Legislativa considerou que isso não aconteceu, porque há uma jurisprudência do Supremo Tribunal  Federal (STF) entendendo que os convites deram a Jardel uma chance de defesa.
Em sua manifestação, porém, Turra afirmou que houve quebra de decoro parlamentar e pediu pela cassação. Na sequência, ele foi acompanhado, por unanimidade, pelos votos dos 12 integrantes da Comissão de Ética.
Agora, o processo irá para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Passando, o caso de Jardel será apreciado pelo plenário da Casa.
Jardel foi denunciado pelo Ministério Público em fevereiro deste ano por vários crimes, como organização criminosa, peculato e uso de documento falso. O deputado é acusado de manter funcionários fantasmas em seu gabinete, exigir parte do salário dos assessores e desviar dinheiro da Assembleia Legislativa, mediante apresentação de notas fiscais frias, para comprovar gastos de assessores que nem chegaram a viajar.
Investigadores foram até a casa de Jardel fazer buscas (Foto: Divulgação/Ministério Público)
Investigadores foram até a casa de Jardel fazer
buscas (Foto: Divulgação/Ministério Público)
Denúncias contra Jardel
Em novembro do ano passado, o Ministério Público deflagrou a Operação Gol Contra, após uma denúncia de um dos assessores de Jardel. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos no apartamento do parlamentar, emPorto Alegre. Gravações e escutas telefônicas ajudaram a comprovar o esquema.

Em dezembro, o corregedor-geral da Assembleia, deputado Marlon Santos (PDT), recomendou a cassação do mandato de Jardel. No relatório apresentado na Comissão de Ética, o pedetista apontou indícios de irregularidades já apuradas pelo MP, como a nomeação de servidores para a obtenção de vantagens, o envolvimento com traficantes, o que configura quebra de decoro parlamentar, e fraudes em diárias.
Jardel nega. No fim do ano passado, durante sessão extraordinária convocada pelo governador José Ivo Sartori (PMDB) para a votação do pacote da sexta etapa do ajuste fiscal gaúcho, o parlamentar afirmou que pretende restabelecer a verdade sobre as denúncias, mas reconheceu ter errado no início de seu mandato.
"Estou começando agora na política. Estou começando errado, mas posso melhorar", disse o deputado na ocasião.
Em abril deste ano, a defesa de Jardel protocolou um pedido de afastamento por 30 dias, alegando depressão, que seria válido até 18 de maio. Depois, foi pedida a prorrogação por 60 dias, que também foi aceita, e que vai até julho.
Esquema unia Jardel e assessores
Conforme a denúncia do MP, entre fevereiro e novembro de 2015, Jardel e o advogado e assessor parlamentar Christian Vontobel Miller, o chefe de gabinete Roger Antônio Foresta, o coordenador-geral de bancada do PSD, Ricardo Fialho Tafas e o chefe de gabinete do líder da bancada do PSD, Francisco Demetrio Tafras, todos denunciados, integraram um esquema com objetivo de obter vantagens financeiras, mediante a prática de crimes contra a administração pública, como peculato e concussão, além do uso de documentos falsos e da lavagem de dinheiro.

Ministério Público denunciou no deputado estadual Mário Jardel e outros 10 (Foto: Ministério Público/Divulgação)
Documentos entregues no TJ pelo procurador de
Justiça (Foto: Ministério Público/Divulgação)
De acordo com as investigações, a partir da posse Jardel como deputado estadual e da nomeação dos quatro assessores, eles planejaram e executaram a prática de crimes de peculato. Para o MP, verbas públicas referentes a diárias fictícias foram desviadas, além de indenizações veiculares fraudulentas e à manutenção de “funcionários fantasmas”.
Também foram cometidos delitos de concussão, caracterizados pela exigência de repasse de parte de salários e de verbas indenizatórias de servidores, além de uso de documentos falsos e de lavagem de dinheiro. O valor desviado, entre abril e novembro de 2015, é estimado em R$ 212.203,75.
MP diz que Jardel liderava o esquema
O MP afirma na denúncia que Jardel, que comandava o esquema, era o destinatário final da maior parte dos valores arrecadados. Christian Vontobel Miller, além de ser o mentor das irregularidades, participou ativamente desde a montagem do quadro de servidores até as deliberações que resultaram na prática dos delitos. Segundo o MP, como advogado pessoal e assessor de Jardel, ele era responsável por evitar que os crimes chegassem ao conhecimento das autoridades policiais, ministeriais ou da imprensa.

O chefe de gabinete Roger Antônio Foresta era o interlocutor do parlamentar nas exigências de parte dos salários e das diárias recebidas pela maioria dos assessores. Ele era o responsável, ainda, por arrecadar, mensalmente, parte dos salários dos demais colegas assessores.
Gravação mostra assessor tentando dar dinheiro diretamente para Jardel (Foto: Reprodução)
Gravação mostra assessor tentando dar dinheiro
diretamente para Jardel (Foto: Reprodução)
Em algumas ocasiões, recebeu valores em sua própria conta corrente, para, posteriormente, repassar de forma direta todo o dinheiro arrecadado a Jardel. Foresta era o primeiro responsável pela execução das ordens de Jardel, encaminhando os trâmites necessários à contratação dos “assessores-fantasmas”, o pagamento de diárias indevidas e de indenizações veiculares fraudulentas, bem como a cobrança, saque, guarda, transferência, ocultação e dissimulação da origem ilícita dos valores arrecadados junto aos servidores.
Já o coordenador-geral de bancada do PSD, Ricardo Fialho Tafas, era corresponsável pela execução das ordens do parlamentar, gerando diárias inexistentes e atuando, da mesma forma, na cobrança dos valores dos demais servidores. Cabia a ele, também, a geração de indenização veicular irregular.
Por fim, o chefe de gabinete de líder da bancada do PSD, Francisco Demetrio Tafras, era responsável por exigir dos demais assessores, sob ameaça de perda do cargo em comissão, o repasse mensal de parte do salário.

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