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Evento busca intercâmbio entre leituras e o mundo, com programação diversificada
Livro aberto é um cérebro que fala, escreveu em certo momento o autor indiano Rabindranath Tagore (1861-1941). Do outro lado do globo, em Crateús do Ceará, Silas Falcão entendeu isso desde cedo. A partir do prematuro encontro com a literatura, a paixão pelo estar entre letras tem sido o princípio ativo de seu trabalho em muitos dos projetos que toca - com direito a publicações em sites literários e periódicos especializados, além de participação em antologias, como "Abraço Literário" e "Papo Literário", demonstrando inquietação.
Entre os que merecem maior destaque, está um que chega à terceira edição a partir desta segunda-feira (26), na Galeria BenficArte, do Shopping Benfica. Trata-se da Festa Literária da Associação Cearense de Escritores (FliAce), evento cuja envergadura artística e temática tem crescido a cada ano, traduzindo o espírito do idealizador, presidente da Associação, e da equipe unida a ele na empreitada em mais um ano de realização.
Gestada em 2016 a partir da vontade de Falcão de realizar uma ação anual para dar visibilidade à arte e otimizar conhecimentos e expressões literárias, o projeto - que, neste ano, tem como patrono o professor Sânzio de Azevedo - merece atenção pela diversidade de linguagens e perspectivas presentes nos cinco dias de atividades, resultado da temática eleita pelos onze curadores. Entre eles, estão tanto nomes veteranos, como Sônia Nogueira e Antônio Ferreira de Miranda, quanto representantes na nova safra de escritores, caso de Renato Pessoa e Alan Mendonça.
"Leituras libertárias: entre o livro e o mundo" é um tema que tem como inspiração um poema de Carlos Drummond de Andrade e, para Stélio Torquato - professor adjunto de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Ceará (UFC) e também curador da festa - possui viés agregador, em conformidade com a proposta idealizada.
"Queríamos favorecer um evento que desse vazão a várias vozes, seja feminina, popular, marginal ou indígena. É um pensar sobre o poder democrático da leitura, tendo o livro como testemunha de um olhar o mundo", justifica. "Também surge como inquietação do que temos vivido na sociedade, principalmente com relação aos frequentes embates e discussões envolvendo as minorias em nosso País".
Intercâmbio
O frenesi mencionado por Stélio se reflete em atividades que bebem deliteratura, música e artes cênicas, tudo em constante intercâmbio como forma de bradar o plural alcance da leitura. Ao longo de toda a programação, além das oficinas, palestras, mesas-redondas, homenagens, encontros e lançamentos de livros, haverá apresentações poéticas e teatrais, shows e exposição de artes plásticas.
Merecem destaque pela novidade a apresentação do grupo Verso de Boca, da Universidade Federal do Ceará (UFC), no dia 28; a oficina "Jovens escritores: Há uma nova literatura?", com Zeca Lemos, Mateus Lins, Victória Vasconcelos, Moacir de Sousa e Alexandre Almeida Guimarães e a apresentação de "Autópsia", do grupo Coletivo Soul Cena, no Teatro Benfica, ambas no dia 29; os encontros com a literatura popular, ocorridos em todos os dias da mostra; e as exposições de artes plásticas reunindo obras do Jsilvarte Atelier, Sônia Nogueira, Rita Guedes e ilustrações da obra "Macunaíma em cordel", de Leite Jr.
É importante mencionar ainda as temáticas presentes nas mesas de debate. Literatura marginal e criminalidade, produção feminina de literatura, africanidade no contexto artístico e escolar, erotismo na literatura e educação e literatura na cultura indígena brasileira dão conta de expandir perspectivas de diálogo na seara das letras.
"Dificilmente os eventos de literatura possuem a preocupação em ouvir o indígena, assim como o erótico e as africanidades, por exemplo", enumera Silas Falcão. "Nós vamos na contramão, trazendo essas propostas literárias para cada mesa. Na próxima edição, o desejo é contemplar a literatura produzida nos presídios", adianta.
Reconhecimento
No campo das homenagens, receberão reconhecimento várias personalidades, a começar pelos autores que nomeiam cada dia do evento - Natércia Campos, Mário de Andrade, Carolina de Jesus, José Alcides Pinto e Horácio Dídimo. Também serão contemplados com estima os autores Íris Cavalcante e Mailson Furtado, poetas locais que figuraram entre os finalistas no Prêmio Jabuti deste ano.
Mailson, inclusive, chegou a vencer dois troféus com o livro "à cidade", o de Melhor Livro de Poesia e Livro do Ano, consolidando o espaço da literatura cearense e dos projetos independentes no Brasil. O poeta lançará na FliAce sua mais nova obra, "Passeio pelas ruas de mim (e dos outros)", e a antologia "Cinco inscrições da mortalidade", livro que divide com Alan Mendonça, Bruno Paulino, Dércio Braúna e Renato Pessoa.
Outros escritores lançarão obras com diferentes apelos no evento, caso de Stélio Torquato, com "Macunaíma em cordel"; Linda Lemos, com "Viagem no tempo, memórias"; e Maria Eduarda, com "Viva apenas sem mim".
O professor, editor e escritor Kelsen Bravos - que ministrará a oficina Leitura e Infância na festa, no último dia de realização - comenta sobre o alcance plural da iniciativa. "A literatura permeia todas as artes, então essa multiplicidade é muito importante. As possibilidades, assim, se abrem para proporcionar a fruição da arte. Isso é muito bom, é um evento que deveria acontecer toda semana. Precisamos fazer com que projetos assim não virem uma alternativa, mas uma possibilidade concreta de agenda na cidade", avalia.
Amplitude
Em números, a FliAce demonstra o potencial frente ao cenário literário no Estado. No comparativo com a primeira edição do evento, em 2016, os números são positivos. No ano inicial, 19 convidados participaram da programação, com uma grade de 11 atividades e 21 horas no total; neste ano, são 66 participantes, grade de 47 itens e um total de 60 horas dedicadas à literatura. Segundo Silas Falcão, os dados refletem um crescimento de 348% com relação aos participantes e 418% da grade, algo que comemora.
Serviço
III Festa Literária da Academia Cearense de Escritores. De 26 a 30 de novembro, das 10h às 22h, na Galeria BenficArt, no Shopping Benfica (Av. Carapinima, 2200, Benfica). Gratuito. Contato: (85) 3243-1000
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