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Por Diego Barbosa, verso@verdesmares.com.br
Mailson Furtado, Tércia Montenegro, Antônio LaCarne e Nina Rizzi listam algumas de suas obras literárias preferidas
Da esquerda para a direita, os escritores Mailson Furtado, Tércia Montenegro, Antônio LaCarne e Nina RizziFotos: Helene Santos, Filipe Sales e JL Rosa |
A pergunta é simples: quanto tempo você dedicou à leitura no ano que passou? Os números esboçados pela mais recente pesquisa no ramo a nível nacional não são nada animadores. Desenvolvido em março de 2016 pelo Instituto Pró-Livro, o levantamento apresentou que o brasileiro lê, em média, 2,43 obras por ano. E mais: 30% da população nunca sequer comprou um livro.
As estatísticas relacionadas à acentuada desigualdade social do País e os baixos índices de escolaridade de uma boa parcela da população colaboram para o cenário – 11,8 milhões de pessoas ainda são analfabetas no Brasil, conforme dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por isso, é preciso pensar adiante no novo ano que chegou, fomentando a circulação em espaços dedicados à leitura e a participação em atividades que convoquem à imersão em obras literárias. Os saraus e as bibliotecas comunitárias são um bom exemplo desses lugares e ações.
Em Fortaleza, ganham destaque o Sarau da B1 – que em 2018 completou três anos de existência e resistência no bairro Jangurussu – e a Biblioteca Comunitária Livro Livre, no Curió, ambientes que apostam na literatura como forma de propagar conhecimentos.
O ano que passou, inclusive, foi de generoso reconhecimento para as letras no Ceará, fato que merece atenção e deve incentivar a prática de estar entre livros em 2019. Uma das mais importantes escritoras do Estado, Ana Miranda, ganhou o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, em outubro, por exemplo; já a autora Angela Gutiérrez, foi indicada, por unanimidade, a presidir a Academia Cearense de Letras (ACL), entidade que terá pela primeira vez uma mulher ocupando o posto, a partir de janeiro.
Além disso, grandes vultos de nossa literatura ganharão destaque no carnaval carioca neste ano a partir do enredo da escola de samba União da Ilha do Governador, que celebrará nomes como José de Alencar (1829-1877) e Raquel de Queiroz (1910-2003). E a vitória de Mailson Furtado em duas categorias do Prêmio Jabuti – entre elas, a mais importante, “Livro do Ano” – deve continuar a dar relevo à produção independente a nível local.
O varjotense, por sinal, foi um dos escritores convidados pelo Verso para indicar livros que devem ajudar a quem ainda não sabe por onde começar a ler neste ano. Com ele, unem-se Antônio LaCarne – autor de, entre outros trabalhos, “Exercícios de fixação”, livro lançado no ano passado com sucesso de crítica; Tércia Montenegro, uma das mais relevantes vozes da literatura contemporânea no Ceará; e Nina Rizzi, poeta independente autora de zines e livros, como “geografia dos ossos” (Douda Correria, 2016) e “quando vieres ver um banzo cor de fogo” (Editora Patuá, 2017).
Prepare, portanto, a listinha. As obras indicadas por esses quatro escritores de nossa terra contemplam uma variedade de temáticas, passeando entre gêneros como ficção, poesia e romance histórico. Em alguns desses títulos e histórias, certamente você vai se perder. Boas leituras!
Mailson Furtado
"1984", de George Orwell (Companhia das Letras, 2009): Por conta de todo o cenário social, caótico e político que assisto, trago a importância da revisita a textos já clássicos no campo dos romances distópicos. Além deste, cito "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury, e as obras "Ensaio sobre a lucidez" e "Ensaio sobre a cegueira", ambas de José Saramago.
Obras de Torquato Neto e Wislawa Szyborska: A caminhar pelo mesmo contexto social, cito, na poesia, a necessidade de leitura das obras desses dois autores.
Obras de Euclides da Cunha, Dércio Braúna, Maria Valéria Rezende e a coletânea "Cinco inscrições da mortalidade" (Lua Azul Edições, 2018): Ao acompanhar grandes momentos literários que o Brasil e o Ceará terão em 2019, como a FLiP e a Bienal Internacional do Livro do Ceará, já com temas definidos, a partir desses aponto algumas leituras como essas, voltadas às iniciativas citadas.
Tércia Montenegro
"Os contos de Lygia Fagundes Telles" (Companhia das Letras, 2018):Pela primeira vez, reúnem-se todos os contos de uma das maiores escritoras contemporâneas brasileiras. É uma obra definitiva, para os fãs da autora e para os que ainda não a conhecem.
"Diários de Sylvia Plath: 1950-1962" (Biblioteca Azul, 2017): Quem se interessa por questões relativas ao processo criador de um artista não pode dispensar este livro. É uma obra também útil para observar como a pressão social em torno das mulheres mudou pouco, dos anos de 1950 até hoje.
"Um amor feliz" (Companhia das Letras, 2016), de Wislawa Szymborska: Esta seleta de poemas, retirados dos livros da escritora polonesa vencedora do Nobel de 1996, traz verdadeiras obras-primas do gênero. São textos que provam como um poema não deve ser feito de bons sentimentos, e sim de boa observação.
Antônio LaCarne
"O martelo" (Garupa, 2017), de Adelaide Ivánova: Vencedor do Prêmio Rio de Literatura 2018 na categoria poesia, os poemas retratam a sexualidade feminina e a experiência pós-estupro, além de fazer um paralelo entre a mulher casada e a adúltera, por meio das experiências vividas pela própria autora.
"Um carro capota na lua" (Editora Tercetto, 2018), de Tadeu Sarmento: Poemas que transitam entre pequenas narrativas, das quais o "eu-poético" observa atentamente questões ligadas à contemporaneidade, com incursões secretas que vão desde personagens históricos à ciência, música e literatura.
"Corações ruidosos em queda livre" (Penalux, 2018), de Alex Sens:Reunião de três contos longos, em que a raiz é a morte. "Corações ruidosos" é a junção de 12 vozes narrativas. "Em queda" é sobre a espetacularização da violência. E "Livre" aborda a crueza e frustração de uma escritora amargurada.
Nina Rizzi
"O peso do pássaro morto" (Editora Nós, 2018), de Aline Bei:Acompanhamos a vida de sua personagem dos 8 aos 52 anos. Impressionante a força de seus versos. Ao final, sentimo-nos íntimos da personagem que parecia ter um futuro desenhado, não fosse a fúria que a vida impõe.
"Que tempos são estes e outros poemas" (Edições Jabuticaba, 2018), de Adrienne Rich, tradução de Marcelo Lotufo: A obra tem uma teia temática afetiva e política. Em tempos sombrios, impossível não se perguntar, como o tradutor na apresentação: "o que faz um poema ser politicamente relevante? ".
"Meu crespo é de rainha" (Selo Boitatá, Editora Boitempo, 2018), de bell hooks, ilustrações de chris raschka e tradução de nina rizzi: O livro é um poema ilustrado que apresenta diversos tipos cabelos crespos e seus penteados. Empoderamento, aconchego e alegria para todas as menininhas.
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