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Esperança de um mundo melhor

Pe. Geovane Saraiva*

A humanidade, em meio ao marasmo de desinteresse, insensibilidade e indiferença, está diante do implacável duelo que se travou no século XX, de um mundo a clamar por justiça: vida e morte, comunhão e separação; daí surge a Ação Católica. Ela quer ser recordada e valorizada, com feliz iniciativa de Pio XI em 1929, no desejo alargar seu influxo e ganhar força, ajustada à Doutrina Social da Igreja, com registro à altura do que ela mesma representou, na justiça, no compromisso de leigos, mulheres e homens de boa vontade, abertos e sensíveis aos “sinais dos tempos”, na luta por um mundo mais inclusivo, no período pré-conciliar. As pessoas que viveram um pouco mais se lembram das características e do espírito missionário do referido movimento, empenhado na conquista de um mundo melhor, através das siglas: JAC, JEC, JIC, JOC e JUC, orgulho para muitos irmãos.

A Ação Católica manifesta sua verdadeira face, pelo envolvimento ou comprometimento dos cristãos leigos no apostolado, antevendo, a partir de uma vida configurada com o Evangelho, um mundo recheado e repleto de esperança, unidos, evidentemente, à Igreja hierárquica. Como foi valioso subsistir aos nossos dias a metodologia assumida por esse movimento eclesial, sobretudo ao legado da Juventude Operária Católica (JOC), com o método: Ver, Jugar e Agir. Foi um despertar da consciência de muita gente, proporcionando o surgimento de lideranças da melhor qualidade, patrimônio do povo brasileiro. Essas lideranças jamais podem ser esquecidas como leigos comprometidos, autoridades eclesiásticas, entre outras, com justo destaque para a figura epopeica e magnífica de Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde.

Agradecidos ao bom Deus, pela cobertura e amparo, nas décadas preciosas do século XX, a influenciar o contexto místico e pastoral, os seguidores de Jesus de Nazaré eram sedentos por uma proposta, indo ao encontro de carentes, analfabetos, num clamor solidário. Foi o que se vivenciou no mundo de então, de se buscar com mais coerência a vontade divina, aquela de um mundo reconciliado e pacificado no amor. No mundo da Ação Católica, contou-se com a mão de Deus, na pessoa daquele sacerdote jesuíta italiano, Pe. Ricardo Lombardi, ao iniciar em sua pátria o Movimento por um Mundo Melhor, na metade do século XX, 1952, espalhando-se pela Europa toda, chegando sem demora ao Brasil.

Cabem aos cristãos leigos atitudes contundentes, contrariando a proposta malévola e deplorável do negacionismo intolerante, arma dos preconceituosos. Deus, além de nos colocar diante de novos caminhos, num mundo com os estigmas da diversidade, propõe-nos, pelos mesmos caminhos, perceber os “sinais dos tempos”. Também nos faz um apelo ao discernimento, à conversão do coração, na mesma estrada mística da Ação Católica, convencendo-nos da necessidade de encarnar a Boa-Nova do Reino, na realidade hodierna, a partir das décadas da Igreja do século passado.

Fica nosso humilde registro sobre a natureza mística da Ação Católica, no bom propósito de render graças a Deus por sua marca na história, marca essa a incidir e desafiar pastoralmente a Igreja na terra de Santa Cruz, numa melhor percepção sempre maior, mais digna da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus, já aqui neste mundo, mas sem se esquecer de não se afastar do caminho do Reino definitivo, na mesma mística e esperança da Ação Católica: no duelo do que parece assombroso, o amor a vencer a morte. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).


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