Pe. Geovane Saraiva*
A fé, no seu sentido mais
profundo e mais rico, é o abandono total das pessoas em Deus, na entrega do seu
destino, no misterioso destino de Deus. Maria é presença singular neste Advento,
na sua ação salvífica e reconciliadora, em quem Deus encontrou abrigo e se
expandiu, na sua sublime e esplendorosa liberdade, num não a todo e qualquer
obstáculo. Ela, Maria de Nazaré, é distanciada das imperfeições, sem nenhum
equívoco, lacuna ou falha, como na sua profética palavra: “Eis aqui a serva do
Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (cf. Lc 1, 38). Antevemos o
reinado de Cristo pelo amor, sendo Ele a nossa verdadeira e duradoura paz.
Como Maria, que se possa dizer
com ânimo e força: “Feliz o homem que encontrou a sabedoria e encarnou o
entendimento, porque a sabedoria vale mais do que a prata e dá mais lucro do
que o ouro” (Sab 3, 1). Essa sabedoria é capaz de se afastar do pecado
original. A doutrina cristã pretende explicar a origem da imperfeição humana,
do sofrimento e da existência do mal através da queda da criatura humana, no
pecado de Adão. Que não nos esqueçamos jamais da nossa humana peregrinação
terrestre, a de que de Deus viemos, para Deus existimos e também para Deus
devemos voltar.
Cabe aos seres humanos se
voltarem para o pecado original, na incapacidade de, com as próprias forças,
manifestar sinais do amor, ao perceber seu próprio fechamento, aquele das
pessoas sobre si mesmas, na impossibilidade, sobretudo, de se constatar um
relacionamento adequadamente com os três grandes eixos, sobre os quais incide e
recai a existência humana: convívio com o mundo, com o outro e com Deus. Em
Maria, porém, o ontem e o amanhã são o eterno hoje, em previsão da obra
redentora de Jesus Cristo (cf. Leonardo Boff, O Rosto Materno de Deus, p. 141).
Pelo mesmo olhar de Maria, que se
compreenda que todos nascem, envolvidos pelo pecado do mundo, sendo humanamente
trágico seu destino. Mas a peregrinação humana pela fé quer nos assegurar:
“Quem crê em mim, jamais terá sede; quem crê em mim, jamais terá fome; quem crê
em mim, passou da morte para a vida”. A fé é o maior tesouro para a criatura
humana, como na palavra de Jesus à samaritana: “Se conhecesses o dom de
Deus...(Jo 4, 10s). Convença-se de não prevalecer seu “não” à vida, convicto de
que sem fé a vida humana perde seu encanto.
*Pároco de Santo Afonso,
blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana
de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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