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A TEOLOGIA DO OLHAR

O gesto sublime de observar é o responsável por impulsionar e moldar as nossas atitudes.
Por Vinícius Figueira e Fernanda Vantil
É notório, nos dias de hoje, a progressividade de um imediatismo. Logo, há milhares de pessoas que, no corre-corre do cotidiano, se abstêm de conversas, preocupações alheias, saudações e compaixão para com o próximo.
Tal realidade tem desencadeado uma sociedade mais individualista e, diga-se de passagem, mais egoísta, trazendo à tona pessoas depressivas, esquecidas, marginalizadas. Neste âmbito é importante salientar a mais simples das abstinências, mas talvez a mais importante: O olhar.
Todavia, ao nos depararmos com a dinâmica do olhar, encontramos várias formas de exercê-lo, as quais podem ser citadas o olhar distraído, o desconfiado, o pretensioso, o invejoso, entre outros. Porém, o mais necessário e raramente exercido é o olhar amoroso, aquele que é misericordioso. Esse olhar nos catequiza com a ternura, com a paz, com a alegria, tranquilidade, compreensão e é sinal da presença de Deus. É deste olhar que precisamos! É esse olhar que devemos ter!
Se procurarmos na história uma pessoa que optou por humanizar o mundo com o olhar, vamos nos deparar com a figura de Jesus de Nazaré. Recordo-me aqui do texto que conta a experiência renovadora de Zaqueu, o pequenino escondido na árvore, o cobrador de impostos. “Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”(cf. Lc 19,5).
A transformação da vida daquele homem começou pelo olhar de Jesus. Há pessoas, sobretudo, na sociedade de hoje, que precisam desse olhar certeiro para descerem do seu mundo solitário, hipócrita, e muitas vezes estéreis, a fim de contemplar um cenário mais simples e cheio do essencial.
São incontáveis as pessoas caídas, as marginalizadas, as mendigas, as sofredoras que precisam de um olhar bondoso, e não o têm. E talvez seja pela falta de olhar quem está a nossa volta, que existam tantos padecentes. O exercício do olhar sem interesses causa sensibilização, do mesmo modo como a contemplação desperta sentimentos. E mais: o gesto sublime de observar é o responsável por impulsionar e moldar as nossas atitudes.
O poeta português Fernando Pessoa, ao se referir à filosofia do olhar amoroso disse: “O amor, quando se revela, não se sabe revelar. Sabe bem olhar pra ela, mas não lhe sabe falar”. Verdade! A potência de um olhar tende a falar e até fisgar e/ou revelar o que se pretende ao invés de utilizar glamorosos discursos. 
Contudo, a Teologia do olhar pode ser equiparada ao olhar entre duas pessoas que se amam. Ali tudo é dito sem nada dizer. Paulo Coelho já afirma que “as mais belas frases de amor são ditas no silêncio de um olhar”. E que grande veracidade! O olhar apaixonado de dois amantes exala o que detém deforma singela e simples, despertando sensações inexplicáveis. "É o olhar sereno que alegra o coração [...]"(cf. Pv 15, 30). Deus mora no olhar!
A12, 06-02-2016.

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