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Mostra usa arte contemporânea para reviver as mães negras do Brasil escravocrata

Paulo Virgílio - Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A exposição Mãe Preta memória da escravidão, maternidade e feminismo traz intervenções das artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa (Reprodução/Fernando Frazão/Agência Brasil)
A exposição Mãe Preta – memória da escravidão, maternidade e feminismo traz intervenções das artistas Isabel Löfgren e Patricia GouvêaFernando Frazão/Agência Brasil
Referências na arte produzida no Brasil do século 19 ao início do século 20, as conhecidas imagens das amas de leite negras ressurgem em uma exposição inaugurada na tarde deste sábado (23) na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na mesma zona portuária da cidade que guarda, em locais e sítios arqueológicos, a memória da escravidão no Brasil. 
A mostra Mãe Preta é resultado de um ano e meio de pesquisas feitas pelas artistas visuais Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa, a partir da reprodução de uma obra de Rugendas (1802-1858), que retrata uma mulher escravizada e seu filho de colo.
Forçadas a alimentar as crianças brancas, as mães pretas eram obrigadas a deixar seus filhos sem o único alimento disponível e, em alguns casos, abandonados à própria sorte. Em sua pesquisa, Isabel e Patricia  encontraram uma vasta bibliografia e um acervo de imagens do século 19, base para o trabalho que utiliza a arte contemporânea para uma discussão sobre  maternidade, racismo, sexismo e exclusão social, sofridos pela mulher negra no Brasil até os dias de hoje.
Rio de Janeiro - A exposição Mãe Preta memória da escravidão, maternidade e feminismo traz intervenções das artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa (Reprodução/Fernando Frazão/Agência Brasil)
A exposição fica em cartaz até 25 de setembro, na Galeira Pretos Novos de Arte ContemporâneaFernando Frazão/Agência Brasil
“O trabalho de observação e descobertas das artistas é revelado em alguns momentos da mostra, e fica mais evidente na série de assemblages-fotográficas, na qual utilizam recursos como lentes de aumento e objetos que remetem às matrizes africanas”, explicou o curador da mostra, Marco Antonio Teobaldo.
Segundo ele,  o objetivo do recurso é “reiterar ou minimizar a presença de determinados personagens e detalhes, que muitas vezes podem passar desapercebidos num primeiro olhar, mas que nesse caso são amplificados”.
A exposição foi concebida especialmente para o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), onde está localizado o sítio arqueológico do cemitério no qual milhares de africanos escravizados recém-chegados ao país foram enterrados à flor da terra, na primeira metade do século 19.
 Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa trabalham juntas há mais de uma década e realizaram a exposição Banco de Tempo na Galeria do Lago/Museu da República, em 2012, com livro lançado em 2015. Em sua pesquisa, a dupla busca criar maneiras de relacionar lugares históricos e arquivos de imagens a debates atuais por meio da arte contemporânea.
A exposição Mãe Preta fica em cartaz até 25 de setembro e pode ser vista de terça a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados, das 10h às 13h. A entrada é franca. A Galeira Pretos Novos de Arte Contemporânea fica na Rua Pedro Ernesto, 32/34, na Gamboa, zona portuária do Rio.

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