Lucarocas*
Meu riso se distrai diante de perguntas que não quero dar
respostas, mas há delas que a melhor resposta é um silêncio íntimo de perdão
pela ignorância alheia. E perguntaram-me, acreditem, “O que vou fazer na Bienal
do Livro de São Paulo”.
A princípio pensei em não pensar sobre isso.
Diante de tantas idas e vindas por Bienais, Feiras
Literárias e Encontros, me vi no direito de já ter respostas prontas em
silêncio de palavras, mas resolvi escrever.
Encontro, essa é a palavra mais adequada para a resposta
da tal pergunta.
Sempre digo que o melhor do evento são os encontros.
Encontros de sorrisos dos amigos velhos, e dos velhos amigos. Encontros de
risos de graças daquelas piadas tantas vezes ditas, mas que provocam o mesmo
riso da primeira vez. Encontro de abraços trocados com a saudade de ontem.
Encontro dos folhetos de cordel que se cruzam no ar da permutação quando cada
cordelista oferta ao outro um exemplar do seu mais recente folheto publicado.
Encontro em uma foto para registrar o encontro. Encontro dos pássaros canoros
que tingem de sons os ambientes num encantamento de Nordeste e de Brasil.
Encontro com a arte que desfila nas xilogravuras e fazem cirandas com a poesia
do cordel, da viola e do repente. Encontro com a poesia que corta o silêncio do
coração e atinge a alma do atento ouvinte. Encontro com a diversidade dos
homens que são vistos como deuses pelo que escrevem, mas que são simples mortais
diante em seus leitores. Encontro com os admiradores do seu trabalho, e que
fazem você acreditar que vale o esforço de continuar escrevendo. Encontro do
lanche compartilhado, da rapadura distribuída, da refeição dividida. Encontro
da acolhida nos aeroportos e rodoviárias, nos hotéis e pousadas, nas praças,
ruas e espaços que acolhem e aplaudem o artista. Encontro com os amigos
virtuais que nos acham mais interessantes nas imagens das redes sociais.
Encontro com o imaginário literário e a realidade de ser escritor em um país
que ainda não dá ao livro o valor que merece. Encontro com a saudade do poeta
que faz rimas nos palco celestiais e nos protege com seu olhar de amigo.
Encontros, encontros. São tantos encontros que talvez a
ingratidão do esquecimento me tocasse ao tentar listar todos.
Escritoras na Bienal de São Paulo |
Um encontro, porém representará todos os encontros, é o
encontro com um Deus da inspiração, da criação, um Deus que está presente em
toda obra literária, em todo gesto humano, em todo o poder de se fazer
encontros.
Diante de tantos encontros, nessa Bienal haverá mais um
que há tempos acontece em diversos pontos desse imenso país, é o encontro de
três grandes amigos poetas: Dideus Sales, Lucarocas e Moreira de Acopiara.
Só esse último encontro já justifica q
ualquer encontro de
Bienal. Simples assim.
Fortaleza, 31 de Agosto de
2016. 08:27h
*Poeta e Comunicólogo
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