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"Gostosas, Lindas e Sexies" dá protagonismo a personagens plus size

As personagens seguem mais ou menos o perfil do seriado americano “Sex & The City”.
Cena do Filme
Cena do Filme "Gostosas, Lindas e Sexies" (Divulgação)

Por Alysson Oliveira
Talvez em algum momento desde a concepção do projeto, houvesse uma boa ideia perdida em algum lugar na comédia nacional “Gostosas, Lindas e Sexies”, que, a grosso modo, é uma releitura de “Sex & The City” protagonizada por atrizes plus size.
O que pode ter havido de bom em alguma fase de desenvolvimento do filme, no entanto, se perdeu até chegar às telas. O resultado mostra exatamente o contrário da exaltação à diversidade que aparentemente prega.
A ideia de empoderamento, ao colocar quatro atrizes que destoam do padrão de beleza esquelética, é louvável ao ir contra o preconceito e dar chance e espaço a uma parcela de personagens e intérpretes que, quando muito, são relegadas ao posto de melhor amiga engraçadinha, geralmente com um doce ou sanduíche na mão enquanto houve as confidências da mocinha da história.
Aqui, elas são as heroínas. Acontece que o detalhe bem sacado no longa acaba por aí, pois, com sua visão tacanha da realidade, acaba fazendo um desserviço à causa.
As personagens seguem mais ou menos o perfil do seriado americano “Sex & The City”. Beatriz (Carolinie Figueiredo) é uma jornalista de uma revista de alimentação saudável e também tem seu próprio site, no qual dá dicas sobre como amar a si mesma.
Ivone (Cacau Protásio, de “Vai que Cola”) é dona de uma rede de salões de beleza, mas sente falta de um amor na sua vida. Marilu (Mariana Xavier) só pensa e fala sobre sexo. Por fim, Tânia (Lyv Ziese) é atriz de teatro cujo casamento não anda nada bem, e ela compensa as frustrações comendo sem culpa.
Nenhuma das personagens passa imune aos clichês com que o roteiro, assinado por Vinicius Marquez, flerta. Beatriz é bem-amada por seu namorado (André Bankoff, cujo sotaque nordestino do personagem vai e volta ao longo do filme), mas também tem um caso com um fotógrafo argentino com vocação para latin lover (Marco Antonio Caponi).
Fora isso, ela tem diálogos bizarros com sua geladeira, chamada Flávio. Marilu mantém um quarto secreto em sua casa ao qual nem a empregada (Juliana Alves) tem acesso. Essa personagem da faxineira, aliás, também funciona como psicóloga, conselheira amorosa e legal, e parece estar em todo lugar o tempo todo.
Para um filme que pretende hastear a bandeira contra a gordofobia, “Gostosas, Lindas e Sexies” traz enraizados alguns preconceitos -- até contra pessoas acima do tal “peso ideal”.
Todos os homens com quem o quarteto se envolve são brancos e com corpos esculpidos em horas de academia -- além de Bankoff, também há Marcos Pasquim. Fora isso, um estupro se transforma numa espécie de fetiche --algo, no mínimo, discutível--, e ainda mais comentários preconceituosos são desferidos contra índios (“Como são tão gordos só comendo coisa natural?”) e índias (porque não usam sutiã), ambos ditos pela personagem de Eliane Giardini, editora da revista na qual Beatriz trabalha.
Dirigido por Ernani Nunes, “Gostosas, Lindas e Sexies” é o tipo de filme que nunca se encontra, porque não tem foco, não tem uma protagonista que o segure (por mais que Beatriz tenha destaque), nem um conflito central forte para guiar sua narrativa.
Tudo parece muito gratuito e, às vezes, levemente aproveitador. E a inexplicável necessidade de colocar palavras chulas referentes ao pênis em quase todas as cenas não faz dos diálogos divertidos, apenas transforma as personagens num fetiche masculino um tanto cafajeste da mulher liberada.
Clique aqui, confira o trailer e onde o filme está em cartaz na Agenda Cultural

Reuters

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