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A sedução de Deus

Padre Geovane Saraiva*

Pe. Geovane SaraivaNossa sede de Deus encontra sua razão de ser e se realiza no seguimento de Jesus de Nazaré, aquele que mora no céu e na terra, ao submeter e provocar no ser humano um grande gosto pela vida, dom que é seu e que é maravilhoso, evidentemente no cumprimento da vontade divina, como no exemplo dos profetas de outrora e dos de hoje. Temos Dom Helder, um dos profetas dos nossos dias, que assim repetia: “Quem se arranca de si mesmo e parte como peregrino da justiça, da paz e da esperança prepare-se para enfrentar desertos. O bom caminheiro preocupa-se com os companheiros nos desertos da vida, desencorajados, desanimados e sem esperança”.

Outro exemplo a nos encorajar no nosso deserto, num clamor ou num não às vantagens do mundo, é o profeta Jeremias, que passou uma barra pesadíssima, vivenciada com grande intensidade, na rejeição e na perseguição, num contexto ou situação inigualável, sendo ele comparado com os demais profetas. Chamado a falar de Deus e em nome de Deus, numa época marcada pelo negativismo, às vésperas da ruína do reino de Judá (século VI a.C.), ele foi perseguido por seus algozes, preso, maltratado, porque sua missão consistiu em plantar a esperança, extirpar a maldade, ao “arrancar e destruir, exterminar e demolir, construir e plantar”, numa forte mensagem destruidora e devastadora, compreendida pela célebre expressão: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (cf. Jr 20, 7ss).

Como é esplendorosa a ação divina em Jeremias! Que ele, como criatura dividida e frágil, mas acima de tudo referencial e exemplo, nos ajude na mesma esperança, ao avistarmos crianças e adolescentes presentes no mundo, e numa consciência grandemente alargada de que aqui há uma responsabilidade nos adultos, em especial dos de dentro da Igreja de Cristo. Que seja a mesma esperançosa sedução de Deus, nos irmãos amigos supramencionados, em criaturas de Deus que pedem mais do que palavras; pedem e esperam uma vida exemplar dos que vivem a proposta de Jesus de Nazaré, dentro da Igreja, sendo sinal no mundo, atingindo em cheio seu interior, com marcas indeléveis, de afáveis ternuras. 

Dom Helder, o grande mensageiro, ou profeta da paz, amava todas as crianças do mundo, a ponto de dizer: “Se eu pudesse lhes daria um globo terrestre ou um globo todo luminoso!”. Elas querem abraços, sorrisos e respeito, sim, mas num encanto,  consequentemente, não só no sentido de serem tocadas pela bondade de Deus, mas que lhes venha a certeza da presença do mesmo Deus, num amor, de tal modo duradouro e verdadeiro, no convencimento de se viver tempos esperançosos e novos, preciosos e indispensáveis, perseguindo a construção do próprio futuro: em Deus e com Deus. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

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