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CONTOS TIRADOS DE MIM

Grecianny Carvalho Cordeiro*

Vivemos momentos em que a descrença no ser humano atingiu o ápice.

Vivemos uma atual crise de valores éticos e morais que nos leva ao desencanto.

Se nos sentimos assim em relação àqueles que se encontram livres e soltos, imagine então em relação aos milhares de homens e mulheres encarcerados nas prisões desumanas de nosso país.

E quando nos deparamos com as notícias e imagens aterradoras do brutal sistema penitenciário brasileiro, é inevitável pensar que o homem preso não tem jeito, que jamais sairá da prisão “ressocializado” e apto para o retorno à vida em sociedade.

Mas como a esperança nunca morre, ela logo desponta como uma luz no fim do túnel.

Foi exatamente assim que me senti quando li o livro CONTOS TIRADOS DE MIM – A LITERATURA NO CÁRCERE.

O livro em comento é uma coletânea de contos escritos por presos da comarca de Joinville, por meio de uma parceria firmada com a editora Giostri e o Juízo da Vara de Execuções Penais da Comarca de Joinville/SC.

Tudo começou através de um projeto de incentivo à leitura pelos presos pela Vara de Execuções Penais da Comarca de Joinville, sob a responsabilidade do Juiz de Direito João Marcos Buch, de modo à obtenção da remição pela leitura, ou seja, a redução do tempo de pena através da leitura.

A partir daí a editora Giostri se interessou pelo projeto e se dispôs a fazer uma oficina de criação literária no cárcere, ensinando, incentivando e preparando os presos para a escrita, resultando nesse livro sensível, em que os presos escrevem contos baseados em sua vida real, em seus sonhos, em suas esperanças, jamais mostrando-se como vítimas de uma sociedade desigual, mas como protagonistas de sua própria história.

CONTOS TIRADOS DE MIM – A LITERATURA NO CÁRCERE nos mostra que todos nós temos uma história interessante para contar sobre nós mesmos, e que a leitura e a escrita podem ser redentoras nesse processo de busca pelo eu, de compreensão da realidade que nos cerca.

CONTOS TIRADOS DE MIM – A LITERATURA DO CÁRCERE, nos mostra aquilo que começamos a desaprender: que ninguém nasce mau; que somos o resultado de nossas escolhas, mas nem por isso devemos nos sentenciar à punição eterna; que apesar do que fizemos, podemos nos tornar melhores; que podemos nos redimir de nossos erros, por mais graves que sejam... Somos seres humanos e sempre seremos capazes de reconstruir o nosso próprio mundo e tudo o que nos cerca.

Terminei a leitura desse livro com a emoção de quem tem a esperança renovada.


*Promotora de Justiça e Escritora.

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