Veja a cena: a espingarda apontada no rosto dela. Quase três quilos de arma. Apavorada diante da morte, a jovem pensa nas poucas coisas valiosas que acumulou na vida: cada um dos sete filhos. Onde estão agora? No barracão? Choram diante da ameaça? Assustados, fugiram de vez? O marido, trêbado, voltou da noitada decidido: encerrará de uma vez por todas o horror da existência. Dispara uma vez contra a esposa, e nada. A mulher levanta da cama e se joga no chão, com as mãos para cima, clamando ajuda de Deus. Convocado, o Todo-Poderoso não dá as caras. E o marido volta a disparar pela segunda vez, novamente sem sucesso. A reza fica mais forte: ela já pede pelo Divino Espírito Santo e outras figuras religiosas. O marido puxa o gatilho pela terceira vez, e a arma não dispara. Milagre ou falta de lubrificação? O marido arremessa a espingarda para longe e, aos prantos, se ajoelha à beira da cama. Parece cena de filme policial, mas é só um dos momentos sinistros vividos pela dona de casa Ros
Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza