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PISANDO NOS OVOS DA REPÚBLICA

Não estou defendendo o governo e sim a legalidade. Não custa nada avisar.
Por Ricardo Soares*
Deu praia nesse domingão brasileiro? Não sei se deu, mas queria que tivesse dado. Dado praia, dado pé, dado o estado de torto a direito. Dado um sentimento de calor, de temperaturas bem acima dos 20 graus para quem vinha quando muito pegando temperaturas máximas de 11 já faz tempo.
Não sei se deu praia porque na volta de Paris me recolhi como um bombom de ovo de páscoa na companhia de poucos queridos amigos no sábado e de uma velha e singela tia querida no domingo da ressurreição. Estou chegando devagar pisando em ovos que não são de Páscoa para não ferir suscetibilidades e tentar enxergar, agora de perto, o que mudou para pior no Brasil nos últimos três meses.
O primeiro choque foram os preços. Que barbaridade! Pão 7 grãos que era vendido a seis reais em dezembro agora a 9,50. Isso e muito mais. Chego a pensar , pelo custo benefício, que é melhor pagar supermercado em euro. Tudo está brutalmente mais caro o que denota que tem alguma coisa fora da ordem mesmo e que não me parece que isso se reverta caso tirem Dilma e coloquem os bucaneiros do PMDB no poder.
Olha lá, prestem atenção. Como piso em ovos aviso aos beligerantes: não estou defendendo o governo e sim a legalidade. Não custa nada avisar. O que custa é esse governo acertar. Mas eu quero ele tentando ao invés de sair pela porta dos fundos tocado por gente imoral, desqualificada, sem credenciais para exercer qualquer papel de relevância na história de nossa República.
Chego um pouco acuado, um pouco com medo. Chego sem saber se os sinais estão trocados e quantos olhos foram vazados. Chego sem saber se somos resistentes ou sobreviventes. Por isso chego acalentando o sol que aqui é mais quente. Chego para olhar nos olhos dos meus cães, dos meus amigos, dos meus parentes. Quero com eles encontrar caminhos diante de tantos descaminhos. Nunca serei um homem de certezas.
Não vou ficar tecendo loas a Paris nem vou esculachar São Paulo. Seria tolo, seria prematuro, seria ineficaz. Mas na pueril prece interna que faço por todos nós pergunto se um dia, mesmo que num minusculo arremedo, a gente vai conseguir ter pelo menos uns três dias de pleno respeito a "liberdade, igualdade, fraternidade" tão cara aos irmãos franceses e tão pouco reverenciada no momento presente brasileiro que é o tempo dos intolerantes. E na semana que vem, vai dar praia?
*Ricardo Soares é diretor de tv, escritor, roteirista e jornalista. Autor de sete livros e diretor de 14 documentários foi cronista dos jornais " O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde", entre outros.

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