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MISERICÓRDIA E PERDÃO

A prática de fazer o bem ao semelhante, a partir de quem mais precisa.
Por Dom José Alberto Moura*
O desmembramento da palavra misericórdia, considerando a realidade “miserável” de muitos e a superação pelo “córdia”, de quem tem coração e se volta com amor ao próximo, faz-nos encontrar a fonte da comiseração, que é Deus. Se Ele não fosse misericordioso para conosco, nós desapareceríamos e seríamos aniquilados. Mas, se Ele nos criou, foi porque nos ama e quer nosso bem, mesmo quando não o amamos e o traímos pelo egoísmo, pecado, desobediência e desamor.
A maior prova do amor de Deus, após nos criar, é a de ter enviado seu Filho para nos salvar. Tínhamos afundado na lama de nossa maldade, indiferença e desobediência. Muitos ainda nela estão. O mundo está cheio de armas, guerras, roubos, assassinados, desrespeito à dignidade da vida e da pessoa humana, degradação do meio ambiente... O acúmulo de riquezas e benesses, que seriam de todos, se faz nas mãos de minorias inescrupulosas, que julgam ser possuidoras do que têm e adquiriram lícita ou ilicitamente. Só o fato do acúmulo sem justiça social já é ilícito! Deus criou o mundo, a inteligência e a ciência para o benefício de todos e não de minorias. O mau uso de postos de lideranças, principalmente na política, injustiça grandes parcelas, por falta de aplicação dos recursos e dos impostos no que o povo precisa. É manifestação de misericórdia o empenho para se fazer uso dos cargos para o serviço ao bem comum.
Os primeiros cristãos manifestavam a vida misericordiosa, começando-a a partir de casa, com o testemunho de vida fraterna (Cf. Atos 5,12-16). Uns ajudavam os outros. Ninguém passava necessidade entre eles.
A misericórdia não é simplesmente dizer palavras de comiseração e perdão. É, efetivamente, a prática de fazer o bem ao semelhante, a partir de quem mais precisa. Às vezes as pessoas precisam mais do carinho, do cuidado, da atenção, da compreensão, da amizade e do aconchego do que da ajuda material. Esta também é necessária, mas acompanhada do amor e manifestação de fraternidade. Muitas vezes pessoas de determinados encargos até fazem sua obrigação de atender as outras, mas com a expressão facial carrancuda e manifestação de desagrado e mau atendimento. O texto bíblico lembra: “Quem olha com doçura obterá misericórdia” (Provérbios 12,13). Quem é misericordioso é o próprio beneficiário quando faz do ato de misericórdia um ato de amor ao próximo!
Misericórdia e perdão se unem na expressão do amor. Mas são vinculados também à atitude de quem quer recebê-los, colocando-se aberto à mudança de vida, para ser mais fiel a quem concedeu essas virtudes baseadas em sua bondade. Exemplo disso é o que Jesus disse à pecadora que saiu ilesa dos que a queriam apedrejar: “Eu também não te condeno. Vai e não peques mais”. A melhor atitude nossa diante de Deus, que quer ser misericordioso e nos perdoar, é a de revermos nossa vida para não continuarmos a ser ingratos com Deus, permanecendo no erro e no pecado. É a manifestação de confiança: “Perdão, Senhor! Não quero mais pecar”!
O Sacramento do perdão é a melhor graça que Jesus nos deixou, para termos a certeza de que Ele nos perdoa através de quem Ele encarregou para tanto: “A quem perdoardes, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (João 20,23).
CNBB, 30-03-2016.
*Dom José Alberto Moura: Arcebispo de Montes Claros (MG).

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