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Mostrando postagens de setembro 28, 2020

Os doentes não-Covid face à urgência da Covid-19

  Um dos principais problemas do nosso sistema de saúde, ao longo do ano de 2020, durante a urgência dos doentes-Covid, foi o atraso no atendimento aos restantes doentes. Com efeito, os serviços hospitalares realizaram, a nível nacional, entre janeiro e final de junho de 2020, 896.000 consultas a menos, comparando com doze milhões de consultas anuais em 2019. Por sua vez, os Cuidados de saúde primários realizaram menos 1,1 milhões de consultas, no mesmo período, comparando com trinta e um milhões de consultas realizadas em 2019  [iii] . O número de cirurgias programadas não realizadas, a nível nacional,  não é menos impactante: de 58.829 realizadas em Março de 2019, caiu-se para 31.216 em Março de 2020  [iv] . No Distrito de Bragança,  no mesmo período, a crise Covid-19 «levou à suspensão da atividade assistencial programada e ao cancelamento de 7.687 consultas e 584 cirurgias» nas unidades hospitalares da Unidade Local de Saúde  [v] , 50% das quais remarcadas até ao final de Agosto. E

A presença da morte em meio à vida

Publicado pela José Olympio, livro inspirou autores como Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem  Pedro Páramo  (José Olympio, 176 pp, R$ 39,90 – Trad.: Eric Nepomuceno), livro de Juan Rulfo que inaugura o gênero e serviu de fonte onde beberam o colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa. A partir da combinação de dois elementos essenciais ao sucesso da literatura latino-americana – o realismo fantástico e o regionalismo -, Juan Rulfo se destaca pela sua habilidade em contar uma história reunindo relatos e lembranças. De enredo conciso e preciso, o único romance do escritor trata da promessa feita por Juan Preciado à mãe moribunda. O rapaz sai em busca do pai, Pedro Páramo, um lendário assassino. No caminho, encontra personagens repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável de seu pai. Em sua estrutura não há linha temporal exata, tampouco um narrador fixo. Juan Rulfo leva o leitor

Vencedora do Nobel de Literatura deixa Belarus

Vencedora do prêmio Nobel de Literatura e uma das últimas figuras da oposição em liberdade em Belarus, Svetlana Alexievich, deixou seu país para fazer um tratamento médico na Alemanha, anunciou nesta segunda-feira uma de suas amigas. "Em um mês ela voltará a Belarus. Não renuncia a suas atividades de membro do Conselho de Coordenação", o órgão formado pela oposição, declarou à AFP sua amiga Maria Voiteshonok. "Há dois meses ela deveria ir ao médico, mas o coronavírus e os acontecimentos políticos a impediram", completou, antes de informar que Alexievich pretende viajar à Itália depois da Alemanha. Alexievich é a única dos sete membros da direção do Conselho de Coordenação, formado para promover uma transição de poder em Belarus, que ainda está em liberdade. Todos os demais foram detidos ou forçados ao exílio, assim como uma das principais figuras do movimento de protesto, Svetlana Tikhanovskaya, refugiada na Lituânia. Alexievich, de 72 anos, foi intimidada no início

Um artigo nada religioso

  De minha parte, tenho medo do diabo, não me atrevo a desafiá-lo ou brincar com ele A existência do diabo deve ser tratada com humor (Unsplash/Dan Sealey) Afonso Barroso* Religião é coisa séria para muitos, fanatismo para outros, fonte de renda para outros tantos e, em muitos casos, arsenal de desavenças, inconformismo e até guerras. Já contei como fui vítima de intolerância religiosa quando estudava no colégio salesiano de São João del-Rei. Um padre cismou que eu havia tirado a vocação de um colega. Ora essa! Eu não sabia nem sei o que é isso, tirar a vocação de alguém. Mas ele cismou, me acusou e me torturou psicologicamente, em nome de Deus, querendo que eu confessasse um pecado que não havia cometido. O episódio marcou minha adolescência e acabou me rendendo um bom dinheiro. É que escrevi um conto baseado nele e fui premiado com um chequinho gordo no Concurso Unibanco de Literatura, o único do gênero para inéditos no Brasil. O fanatismo religioso me faz lembrar, de vez em quando,