Em novo livro, filósofo francês Frédéric Gros atualiza as bases do pensamento anarquista ao defender a desobediência como valor democrático
A tese é controversa: diante da autoridade constituída, é preciso desobedecer. Eis a ideia-síntese do novo livro de Frédéric Gros. Filósofo francês e professor do Institut d'études Politiques de Paris, o pesquisador inverte os polos do debate sobre a crise nas democracias modernas, sugerindo que a obediência está na raiz dos impasses da contemporaneidade. Em Desobedecer, ensaio recém-publicado pela editora Ubu, herdeira do espólio da Cosac Naify, o pesquisador situa a obediência como "antiutopista", "pragmática", "responsável", "antipassional" e "compromissada". Para o francês, diante do agravamento das desigualdades de renda global, esgotamento ambiental e recrudescimento da intolerância, a obediência se matiza, dividindo-se em submissão, subordinação, conformismo e consentimento - todas igualmente maléficas. De partida, o autor interroga: "Por que é tão fácil chegar a um acordo sobre o desespero da ordem atual do m