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Bienal de Artes de São Paulo fará mostra no Ceará pela primeira vez

por Roberta Souza - Repórter
O trabalho "Estás vendo coisas", da pernambucana Bárbara Wagner, mergulha nos gêneros brega e funk, em Pernambuco e São Paulo, documentando a vida de jovens MCs ligados a esse movimento
Apresentada em setembro de 2016 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera, em São Paulo, a 32ª edição da Bienal de Artes de São Paulo respirava um conceito chave: a incerteza viva diante da degradação ambiental, da violência, da ameaça a comunidades e à diversidade cultural, dos colapsos econômicos e políticos, entre outras questões. Pouco mais de um ano depois, em seu programa de itinerância, uma mostra do que pôde ser conferido naquele período chega a Fortaleza, com abertura prevista para o próximo dia 7 de novembro, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Dragão do Mar.
É a primeira vez que Fortaleza recebe o projeto, somando-se a outras treze cidades do Brasil e duas do exterior atendidas pela itinerância: Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), São José dos Campos (SP) Cuiabá(MT), São José do Rio Preto (SP), Ribeirão Preto (SP), Garanhuns (PE), Palmas (TO), Santos (SP), Itajaí (SC), Vitória(ES), Bogotá (Colômbia) e Porto (Portugal).
O recorte de dezesseis trabalhos que será apresentado aqui foi concebido a partir das obras de 81 artistas e coletivos sob curadoria de Jochen Volz e dos cocuradores Gabi Ngcobo (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca) e Sofía Olascoaga (México). Em todas, uma reflexão sobre as atuais condições da vida em tempos de mudança contínua e sobre as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para acolher ou habitar incertezas.
Uma das preocupações de Jochen Volz, curador geral da mostra em Fortaleza, foi de que não fosse transmitida a ideia de uma Bienal "pequena" e sim de uma mostra "focada". "Ela traz a mesma riqueza, os mesmos assuntos, com menos obras, mas com focos mais específicos", classifica.
Antonio Malta Campos (Brasil) Bárbara Wagner (Brasil), Charlotte Johannesson (Suécia), Felipe Mujica (Chile), Francis Alÿs (Bélgica), Gilvan Samico (Brasil), Gu¨nes¸ Terkol (Turquia), Grada Kilomba (Portugal), Jonathas de Andrade (Brasil), Michal Helfman (Israel), Misheck Masamvu (Zimbábue), Mmakgabo Helen Sebidi (África do Sul), Pierre Huyghe (França), Rachel Rose (EUA), Vídeo nas Aldeias (Brasil) e Wilma Martins (Brasil) foram os nomes escolhidos para, com seus trabalhos, comporem a Bienal em Fortaleza.
"As questões que uma Bienal traz são sempre ancoradas a uma experiência dos artistas de nosso tempo; eles têm uma certa urgência. No nosso caso, essa incerteza foi muito baseada no momento que vivemos em 2014, quando começamos a pensar a curadoria", conta Volz. "Em outubro, no segundo turno das eleições presidenciais, palavras como 'impeachment' e 'golpe' estavam muito distantes, mas a sensação da incerteza já estava por aí", lembra.
Para Volz, tudo que foi discutido nas obras - com destaque para os aspectos ecológicos, proteção da Amazônia, respeito aos povos indígenas, valorização da educação e da cultura -, ganhou ainda mais relevância no modo como a história foi se desenhando nos dois últimos anos. "Quem faz uma exposição sempre escuta primeiro com o que os artistas estão preocupados e eles estão preocupados com isso", afirma.
Parceria
A vinda da Bienal para o Ceará foi uma grata surpresa para o curador. "O interesse de Fortaleza em participar, entrar nesse processo foi algo novo, muito especial, muito lindo de acontecer. Isso tudo tem a ver com o momento de descentralizar um pouco a Bienal, dela não ser um evento, mas realmente algo que gera discussões e que pode se desdobrar num prazo mais extenso", diz.
O presidente do Instituto Dragão do Mar, Paulo Linhares, insere essa aposta em uma articulação maior que vem sendo desenvolvida com outras instituições nacionais. "Essa articulação envolve desde o curso de especialização em Gestão e Políticas culturais, promovido em parceria com o Itaú, até negociações com a Fundação Bienal e o Sesc São Paulo, com destaque para a circulação de artistas daqui por Rio de Janeiro e São Paulo, por meio do projeto Porto Dragão", contextualiza. A abertura da mostra da 32ª Bienal de Artes de SP em Fortaleza acontece, portanto, dentro de uma programação maior vinculada ao Dia Nacional da Cultura (5/11).
Novembro será o "Mês da Arte e Liberdade" no Dragão do Mar. E as atividades do dia 7 incluem, além da exposição, o lançamento da Revista do Dragão, publicação institucional trimestral com mais de 100 páginas, focada na formulação de um pensamento local, que será vendida e distribuída nacionalmente; e um debate com Eduardo Sarón, diretor do Itaú Cultural, Danilo Miranda, diretor do Sesc São Paulo, e Juca Ferreira, ex-Ministro da Cultura, sobre o cenário artístico nos dias atuais.
"A ideia é que a gente mostre, sem entrar nessa obscura e baixa polêmica de internet, que só se faz arte com liberdade, que não há limites, e que essa possibilidade da gente encontrar uma convivência social nesse país tão atravessado por injustiças depende muito da capacidade da cultura brasileira de se desenvolver e manifestar", explica Paulo.
"Vivemos momentos de obscurantismo e é preciso que o Dragão participe desse projeto de crença numa cultura livre, corajosa, ousada. Vamos debater muito centrado nessa perspectiva de sair desses impasses que estamos vivendo hoje, do Minc em crise, da censura permanente a jornalistas. Uma série de ações que caracterizam quase uma nova Idade Média", finaliza.

Mais informações:
32ª Bienal de Artes de SP em Fortaleza. De 7 de novembro de 2017 a 28 de janeiro de 2018, no MAC (R. Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Visitação de terça a domingo, das 9h às 19h (acesso até as 18h30) e aos sábados, domingos e feriados, das 14h às 21h (acesso até as 20h30). Gratuito. Agendamentos: (85) 3488.8621

Diário do Nordeste

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